domingo, 31 de dezembro de 2017

Deste aspecto do jogo


O calendário é um jogo
aleatório e imaginário,
embasado neste cenário
criado dia a dia, fogo a fogo,


água a água, cada hora,
o tempo todo e aqui,
em todo lugar por aí,
enquanto a vida vigora...


Por estes dias, o jogo vira,
em inédito jogar, o mesmo,
o inusitado repetir, à esmo,


enquanto em nós queimar a Pira,
cada ano recomeçando,
e o novo, em nós, nos renovando...

sábado, 30 de dezembro de 2017

Correspondências


Cada flor se corresponde
com toda estrela, e os Tatus...
E mesmo, se horríveis os tabus,
disso, ninguém se esconde...

Uma plantinha, eu e minha pedância,
somos partes da colcha, mosaico,
pedaços unidos por fios laicos,
ligados (apesar de) querermos religância...

Assim passamos a vida, tentando
entender pra poder interferir,
e inverter, no que se deveria luzir,

como se à eternidade testando:
com medo da Morte, e seu fluir,
remando, pra tentar da Vida sair...

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Dos alardes da Alegria


Na verdade nem havia
o cotidiano da igualdade...
Era apenas uma possibilidade,
mas já nos movia...

Na real nem se mostrava,
mas de longe a gente via
raiar uma farta arrelia,
em cada menino que estudava,


em cada criança que comia,
em toda senhora atendida,
nas Universidades construídas...


Era, e é, uma chama que ardia,
e nos corações ainda arde,
feio a Alegria e seus alardes...

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Mais e mais...


As perguntas mais duras,
dizem respeito à falta
da Fartura que o cotidiano exalta,
e seu passar solta e segura...

As certezas mais velhas
firmam as cercas e muros,
nos fazem cada dia mais burros,
enquanto nos quebram as telhas...

Não sei mesmo o que nos justifica!
O "progresso" é uma progressão
geométrica rumo à extinção!

E apenas gritar não me santifica,
mas ainda assim, não vejo o que mais
pudesse além de cantar mais e mais...


quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Como nos parece o Boi


Quando em meus caminhos
eu vejo uma pessoa no chão,
e não paro pra lhe dar a mão,
eu me adoeço e me mesquinho...


E, se eu vir uma criança na rua,
ou um velho que a gente larga,
e não me doer uma dor amarga,
sou de mim mesmo uma falcatrua...

Como, ou quando foi
que nos acostumamos
com este horror que herdamos?

Seremos como nos parece o Boi?
Seguimos desmiolados sem a noção,
de que estão nos levando à extinção?

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Do nosso direito

 
Na história da gente
nada que venha ou passe,
ou que pelas mãos se lace
será assim tão importante,

 
quanto o Amor, presente,
no gesto cotidiano repetido,
no dia a dia, as vezes dolorido,
nas Alegrias que cada um sente...


No caminho de cada ser,
a força que vem das matinas
e alegra, e solta cor nas retinas,


mostra que, feito o amanhecer,
todo dia tem em si latente,
o direito de sermos felizes, contentes...

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Dia da chegada da Vadiagem da Paz


Pensa um menino,
nascido da Luta,
esse Jesus de labuta,
desde menor que pequenino...

Sua mãe, grávida antes
de se casar com José,
teve de seguir à pé,
pra Belém, tão distante...

E depois de nascido,
o bebezinho indefeso,
fugiu, olhos acesos,
da espada do rei temido...

(Feito o de hoje acontecido,
com as bombas que a canalha,
da "Indústria das mortalhas",
jogam em seu jogo enfurecido!)

E chegou se desviando,
das balas e facas nosso Deus,
pra mostrar que o que é de seu,
é a Paz, em nós, Vadiando!

E veio Jesus criança,
pra lamber-nos as feridas,
pra salvar quem faz a lida,
quem trabalha com esperança...
 

domingo, 24 de dezembro de 2017

Mensagem da Fartura


Um mote de susto,
uma estrada escondida,
um menino mostra a ferida
de um povo que não acolhe o justo,

que é toda família ter lugar
pra nascer e viver
pra ver criança crescer,
e ser tudo que desejar...

Um mote de alegria
pra vencer o escuro,
pra derrubar os muros,

e romper um novo dia,
gritando do alto do outeiro:
"Fartura existe pro mundo inteiro!"

sábado, 23 de dezembro de 2017

Andar


Um planeta longe,
no céu escuro...
Ali, adiante, um muro,
que aqui, dentro, se esconde...

Viagens impensáveis
a um passo, de quem vai,
rápidas como o que cai,
e nós lépidos, eternos, ágeis... 

O mundo cabe na gente,
o Universo todo, no olhar,
(a Música toda, só escutar),

pois tudo é aqui, e distante,
cada coisa igual e diferente,
e chegar é decidir-se a andar...

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Da tecitura do caminho


Bem-te-vi cantou porque
te vi, gostei, pareei,
os pesos nos arreios pendurei,
pois que vi bem, você...


Seu João, dona Joaninha
costuraram de terra sua casa,
pedacinho cada, esforço das asas,
com barro da chuva, da biquinha...


Há o caminho, então a gente
se deita nele, caminhando,
caminha nele se deitando,

e acordando, indo em frente,
porque tem passarinho pra cantar,
e ouvido, e coração pra escutar...

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Do que fura


Seu moço, o que faço
é fazer música,
e mostrar pros outros...




Se eu morro, o que passo,
o que for angústia,
ou alegria, é pra poucos...



Eu vento e bato portas,
mas é aventura curta,
ventagem mais abrupta,
(des)tirania torta...





Eu lendo, a história volta,
a certeza cura,
a lembrança fura
esta estagnação morta....

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Dos recomeços


No dia de hoje, agora,
sempre neste dia
acontecem as arrelias,
começando pela Aurora!

Neste exato momento,
nasce uma criança,
despertam-se esperanças,
tudo vindo do pensamento...

Esta nossa experiência
é construída tijolo a tijolo,
e cresce feito massa de bolo,

porque crescer é nossa essência,
e o Universo, dentro e fora, expansão...
E o instante, o manifesto deste clarão...

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Dos fios


Que fazer comigo, com este
caminhar em que me segui
unido e solitário, sem sentir,
e sentindo fome, sede e peste,
longe, perto e junto,
aqui e em todo canto do mundo?


Tudo que foi vivido, anuncia
a solitária marca da existência,
feito uma assinatura, na essência,
uma marca, que no papel irradia
imagens e jeitos de dizer,
com a vida fazendo seu próprio fazer...


Então, a mim e a nós resta,
este nosso tempo de oportunidades,
o mundo todo em suas possibilidades,
a flor singela crescendo na fresta
do concreto imundo e frio,
soltando e amarrando com seus fios...

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Imanente

 
Nem preciso me lembrar
nem cozer, verter, partir,
não deixar a peteca cair,
ou fazê-la brandir no ar...


Também não são necessárias
as horas intensas de agonia,
as perdas, as noites vazias
e cheias das dores várias...

Caminhar nesta terra ensina
que a Fartura é presente
que a Divindade deu pra gente,

feito alegria de meninos e meninas,
ou a água de rios correntes:
A Felicidade é nosso estado imanente!!

domingo, 17 de dezembro de 2017

Nada

 
Depois de tudo, ainda
havia quem dissesse
que nada do que se fizesse
faria nossa vida mais linda...

Ainda há quem pense
que tudo já foi revelado,
e mesmo olhando por todo lado,
nada mais tem suspense,

nada mais tem mistério,
e o pensar do homem sabe
e tudo em sua cabeça cabe...

Mas quem olha à sério,
veste-se do nada,
que se revela, cada madrugada...

sábado, 16 de dezembro de 2017

Por aí


De flores, um vaso visto
não é mais que um salto,
elegante, esguio e alto,
esperança de que me visto...


Um contedor contido
nas horas da imensidão
nas vastidões deste chão,
nos minúsculos infinitos,


mostra disto que vivi.
Sabe? Cada dia, cada hora
que a gente ainda demora,

que eu ainda sigo aqui,
fala da certeza que vigora,
nas redondezas, por aí...

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Menos que inteiros


Como pode um artefato
custar mais que o trabalho
realizado em suor e malho,
na vida de quem o fez, de fato?


Como explicar que quem faz
as casas ricas e sofisticadas,
more, quando muito em barricadas
nas lutas que a sobrevivência traz?


Nossa sociedade escravagista
se acostumou com a cama arrumada,
o café na mesa, a roupa passada,

pra manter esta forma fascista,
mediada pelo corrupto dinheiro,
fazendo-nos todos, menos que inteiros...

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Do trabalho



O trabalho desgasta,
tira as lascas do couro,
prometendo pagar em ouro,
até só sobrar a casca...

O trabalho consome
a vida de quem o faz,
planta o alimento, e o traz,
e o prepara pra quem come...

As trabalhadoras dão a vida,
dão a água, o agasalho, o teto,
e não entanto, ninguém às convida,

pro banquete ignóbil e abjeto,
que os ricos fazem do que roubam
pra que os pobres trabalhem, e morram...

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Da jornada e da construção


Numa estrada de ventos
vãos e soltos, dispersos,
eu caminho concreto,
troco passos diverso e lento...

Neste caminho de rochas
pontiagudas, duras, cortantes,
eu sobrevoo distante
me guiando pela luz das tochas...

Seja como for o seguimento,
antes estarão meus passos,
dizendo o que sou e faço,

antes estará o sentimento,
de que seguir dá o sentido,
e de longe, é que se vê o construído...

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Ela


A angústia que parece eterna,
de onde procurar os rumos,
me faz equilibrar nos prumos
e confiar em minhas pernas,

pra seguir esta estrada velha,
caminho antigo renovado,
sempre de novo caminhado,
mas com cara de novas telhas,

de novo alicerce, das janelas,
mostrando velhos quadros
colorindo sons abstratos,

emoldurando-nos lindas telas,
onde seremos mais raros,
quanto mais somos como ela...

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Lua


Um vasto vazio
atávico e desmesurado,
mínimo e bem comportado,
muito quente de frio...

Corredores abertos,
Universos concretos,
neste espaço sincreto
de aqui, e lá, e perto...

Eu e nada sorvi,
feito um espaço vertente,
onde haja nada e gente,

e mais nada por fim,
que de gente anda cheia
a Lua, mãe em fase alheia...

domingo, 10 de dezembro de 2017

Protagonismo da grua


Houve um tempo,
em que nada significa.
Tipo um vento,
esfriando a canjica,
uma Lua,
que não mais fosse nua...

E eu de dentro,
fui cantando a cantiga,
alimento e alento,
ser, de mim o que fica,
e da estrada mais crua,
bondades e maldades, minhas e tuas...

Vou, vivo e vendo,
de certeza viva,
que o Mar, e o relento,
abrigo, alimento e Diva
em tudo e por tudo atua,
protagoniza e vê tudo da grua...

sábado, 9 de dezembro de 2017

Do que nos uniu


Numa velha cocheira,
nem mais tão grande,
nem sequer mais inteira,
nasceu um ser de onde,
que de miúdo se expande,
dos meios até as beiras...

Era lugar de guardar
os bichos e suas coisas,
e palhas, frutas do lugar,
selas e arreios de divisas,
e ali sentindo as brisas,
da Luz que nos veio brilhar,

uma senhora/menina pariu,
e com seu companheiro
uma claridade dividiu
conosco, e o mundo inteiro,
pra quem viu, depois ou primeiro,
no que o Divino nos uniu!

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Dia e noite


Se fosse uma hora,
uma Lira girando
em compasso de ponto
em feitiço de flora
de função de vento,
de compasso de alento...

Quem sabe a Deusa
aprendia a Valsa,
que nos cadafalsa
e tira da mesa...
Quem sabe extinguia,
pra eterno ser o dia?

Eu era só sonho 
e nuvem e margem
ave, vento em aragem,
concreto medonho,
em pranto e alegria,
de noite e de dia...

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Fartura fraternizada


A chuva mostrou-se fina,
elegante, eficaz, eterna,
embora este dia apenas,
apesar de incessante e genuína...

Tinha gente trabalhando
sob a água que vertia
e verte do céu neste dia,
de nuvens no céu vagando,

porque a alegria supera,
o frio, o desconforto do corpo,
e nos leva pouco a pouco

àquilo que toda gente espera,
que é a Fartura multiplicada,
dividida, docemente fraternizada...

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Da saída


A solução se sopra
nos ouvidos cansados
nos antigos atalhos,
nas rotas limpas e novas...

A saída da crise se aponta,
em cada palavra sonhada,
em toda cartilha soletrada,
no deixar de fazer as contas,

pra contar que o mundo pertence
à trabalhadora que gera vida,
ao trabalhador que se faz na lida,

à criança que ao tempo vence,
e permite o sonho compartilhado
de mulheres e homens, lado a lado...

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Mapa


Uma dor, uma alegria
um tempo de ambiguidade,
que é meu desde tenra idade,
e em tudo define meus dias.

Nas horas de vento e chuva
refrescasse o Sol em amenidades,
e quando o frio fosse crueldade,
surgisse o calor que cresce Uvas,

que nasce no Oriente sempre,
e no Ocidente nos põe dormindo,
ou festando, fogueiras colorindo,

e o dolorido fizesse da gente,
a lembrança viva e latente,
fresca, e agradavelmente quente...

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Existência


Dizem pés, das montanhas,
e vales entre elas,
e neles cidades, vielas,
e cumes de encostas castanhas...

Falam dos céus, azuis,
dos ventos, perfume e frio,
das águas mares e rios,
dos caminhos, onde tudo flui...

Um é o mundo que se pensa,
que se fala, se imagina,
lembrar o gosto da Tangerina...

Outra é a coisa ela mesma,
cada ser em sua latência,
sua multiplicidade na (una) existência...

domingo, 3 de dezembro de 2017

Compaixão


Num tempo de instantes
viajei cantigas,
recentes, vagas, amigas,
antigas, próximas, distantes...


Numa hora de belezas
era cão na sarjeta,
água clara na noite preta,
imprecisa e inconstante certeza...

Nunca mais que vão.
Nada além do pó,
mais inútil do que só,

nem sei se merecendo chão,
apenas seguindo o rodar da mó,
vivo por pura compaixão...


sábado, 2 de dezembro de 2017

Primeiro


Um velho canto
se apruma nos peitos,
e me enrama os jeitos
de traduzir meu espanto.

Um modo sereno finca
as garras nos corpos,
os sente mornos,
e com o infinito brinca...

Eu vou me assuntando,
me lambuzando ligeiro
eterno, atento, passageiro,

nas horas e nos encantos.
Não serei só, mas inteiro,
e verei dia novo nascer primeiro...

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Em torno


Sempre que viajo,
vou ao desconhecido!
Desfaço o pífio (já) sabido
pra inventar o (no que) ajo...

E por outro lado,
meus dedos encastoados 
das unhas que tenho tocado,

são cordas eles mesmos,
do coração instrumento,
tangendo a canção de dentro,
feita de afinco a esmo...

Sempre que retorno,
num novo eu me torno,
em mim, e em tudo em torno...