sábado, 30 de junho de 2018

Volátil


Os músicos, os vasos,
os Gregos e os Sumérios,
os Etíopes e os "mis" mistérios,
as gentes, e todos nossos passos...

Já nos apontaram caminhos
as estrelas, os lumes do dia,
o vento e suas arrelias,
agulhas de marear, e pergaminhos...

Antes a certeza baldia,
de que o mundo era pátio,
e caminhar, nosso ser, versátil,

versado em ousadias,
vasculhado em arrelias,
tanto eterno, quanto volátil...

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Epopeias


Há mais histórias,
no vão da vida
do que espaço,
em nossas memórias,
pros encontros e despedidas,
pros cortes de fino aço,
enchendo de sangue as vitórias...

Há mais talento
nas pernas da moça,
nos olhos do moço
que no entalhe ao relento,
ou no fundo da poça,
ou ainda na riqueza do esboço,
no que nos é fora e dentro...

Eu sigo cantando leréias,
vertidas do tempo
entoadas na chuva,
em impronunciáveis prosopopéias,
que me trarão alento,
e na boca, porão Uvas,
depois de incríveis epopeias...

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Desembaraços


Um ser humano melhor
se constrói dia a dia,
feito bala de arrelia,
feito tudo que se for....

Eu mesmo, opinião de rebeldia,
insistência no que distante,
pra ser nosso mirante,
pra cingir nossa alegria.

Então serei vertente e passo,
como o caminho a beira do rio,
ou o entorno de um mundo bravio,

ou um navio de velas e compassos,
da ciência da navegagação, no fio,
na eternidade que se vai sem embaraços...

quarta-feira, 27 de junho de 2018

De cantar


Um vento, um sassarico
das poeiras no terreiro,
das costeiras no mundo inteiro,
das tempestades e perigos:


Tudo, tudo tem ligação próxima,
com a leveza e os perfumes,
os currais, os estrumes,
as estradas e o "ficar na cama"...



Eu fui Passarinho, "Canariei"...
Juntei Galos e manhãs
nas jornadas e seus afãs,


nas beiradas de onde cantei,
ou nos meios, das calçadas
sigo proferindo a vida farturada...

terça-feira, 26 de junho de 2018

Demora


Um sacerdote habita
os dias e seres que sou,
que somos, ou o que restou
do que fomos na vida...

Uma surpresa reluta
e faz da cama, palco,
de alegria de birita e talco,
se escorrendo na labuta...

Viajo então meses, dias,
anos e instantes, cada hora,
pra demorar a achar, sem demora

o que nem mesmo sabia
que havia perdido antes,
em nós, países distantes...

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Reinfanciamento



Onde o inédito constrói            brinquedos de vacância
e o infinito se mói                 e se lambe da festança,

verei dias e distâncias          construirei cascos e velas,
me acharei em novas infâncias       acontecidas, além daquelas...

E só assim, então, serei        viajante de mim mesmo, 
                            em viagens de "a esmo"...

Como um velho e incauto rei,       um cantante passarinho,
                                  cantando junto, e sozinho...

domingo, 24 de junho de 2018

Indecisa



Me sinto um vão,
entre a estrada e o pé,
o que sonhar, e o que é,
entre o céu e o chão...

Um passo solto soa,
nestes ares desavisados,
como o rojão estourado,
que nos ouvidos doa...

Assim como pode ser clarão,
o espaço entre coisas,
intervalo, entre as covas,

nos sepultando na imensidão,
vida após vida nova,
nesta eternidade indecisa...

sábado, 23 de junho de 2018

Dos anúncios



Um vento, que parecia vasto,
me trouxe perfumes
dos currais, seus estrumes,
dos campos agora em pasto...

Um som, estridente,
trouxe as cores sonoras
que enchem as nossas horas,
que nos fazem sermos a gente...

Uma lamúria desceu as escadas,
na casa incensada e amena
na rua das casas serenas,

no pátio da casa, na estrada...
E não era penúria pequena,
mas antes, a dor anunciada...

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Testemunhando


Era só se fosse...
Era pó, e o que voasse,
o que o tempo moesse,
azedo, amargo ou doce...

Eu ia solitário, onde fosse,
e, naquilo que andasse,
as ondas em desenlace
em praia que o mar roce,


viam meus passos lentos,
na brisa areada e suave,
de modo gentil e grave,

como onde foi sucedendo:
um oceano nos bordejando,
e a água, benzendo, testemunhando...

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Por onde



Andava assustado,
como ando ainda,
olho procurando a linda,
alma desejando o Fado...

Errava encontrado,
como criança benvinda,
como estrada/berlinda,
amargo favo açucarado...

Cada dia verte fluidos,
como espinhos na Rosa,
como dentes, na mimosa

criança que emite ruídos...
Invento aqui caminhos,
por onde com todos, ou sozinho...

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Acertante


A água cai, na cachoeira.
Pra nós, é claro e natural,
pensar que o céu, e o Sol
e a sombra da Figueira,
e o pátio da escola velha,
são parte da nossa vida/tela...

Porque é que a água cai?
Porque estava lá em cima?
Que força faz o azul que encima,
ser dourado pela Luz que sai
do astro em torno do qual
rodamos nessa viagem ancestral?

E o tamanho da Figueira?
De onde é que se tira?
Qual a relação, disto, com a Gira,
nesta trajetória passageira,
deste sistema solar errante,
em sua viagem pra ser acertante?

terça-feira, 19 de junho de 2018

Sem ais...



O mundo tem visto tanta
inteligência, força, beleza,
tristeza, gastura, leveza,
alegria vinda de gente santa...

Eu, no que tenho observado,
em tudo tenho revisto
e no cotidiano, em que insisto,
sigo como fosse calado...

Mesmo falando pelos poros,
cantando pelas ruas, como doido,
visitando os dias lânguido e afoito,
sigo crendo que apenas o povo,

é que pode trazer-nos beleza...
Sabe? A verdadeira formosura,
que salta aos olhos sem rasuras,
e gera alívio, com fina sutileza...

O dia a dia há de revelar, mais,
pra cada um de nós da infinita
beleza que a tudo habita,
e nos permite sonhar sem ais... 

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Sequencia



Um dia destes,
frio e chuvoso
de junho invernoso,
me dei as vestes,

que uso como corpo,
que vaso e deixo ao largo
no ato de entrar no barco,
no instante de chegar no porto...

Então aportar não era fim,
mas começo de jornada,
como nunca o será, nada,

nem a morte e seus carmins,
nem o Tempo e suas aparências,
serão maiores que a sequência...

domingo, 17 de junho de 2018

Nenhum


 Pois por mim,
só procuraria do diverso,
do que não está no Universo,
disto que carregamos assim, assim...


Como se carregar fosse
normal, inexato, severo,
e tudo não passasse do desespero
de quem corresse, mas mais fosse...

Pra aquilo que não quer,
de jeito nenhum,
nem ninguém algum,


ou quem já viu o verter
que tudo sabe como é ter,
que sabe cada, ignora nenhum...

sábado, 16 de junho de 2018

Poste velho


Um poste velho,
no meio do caminho antigo,
na passagem tão passada,
o coco de Boi, e o Escaravelho,
um passado que tem comigo,
uma flor, colhida na estrada...

Eu me encontro nas pequenezas,
no dia a dia das imensidões,
em versos nos saraus dos sertões,
nas flores e suas grandezas....

Me lembro perfeitamente
das horas latentes,
dos dias aziagos,
do exército inexistente,
do estrago que, persistente,
romperá o tempo novo dos naufrágios...


sexta-feira, 15 de junho de 2018

Nada


Um Passarinho cantou matinas
onde a noite postou frios,
inspirou sonhos plenos, e vazios,
e nos deu descanso às retinas...

E levanta-se em cada vez 
que feliz ou triste, desperto,
tanto faz se mais longe ou perto,
cansado de intensa palidez,


ou corado de sonhos incríveis,
viajando por noites tristonhas,
cantigando cantigas risonhas,


mas sempre fortes e temíveis,
e suaves como as manhãs cantadas,
onde tudo se conecta à nada...

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Espanto

 
Sopra o vento sua lamúria de liberdade!
Canta o córrego,
sua independência de grandeza,
sua incongruência que escorre, e carrega,
uma falsa sensação de unidade...


(O riachinho realmente é um
com o mar salgado, grande,
imenso como nenhum...
Mas é só um riachinho cujo pensamento se expande...)


Eu aqui, disto que sinto, canto,
estupefado
de estupefaciente espanto...

quarta-feira, 13 de junho de 2018

(estes) Cantares


O universo se abre,
sai de seu encanto,
se descobre do manto,
sem balas, nem sabres...

O mundo todo é pouco
diante do tanto que há,
das ondas, do bafafá
que fazem estrelas e porcos,

que grunhem gentes e mares,
que zoam bosques e Castores,
que viram astros e flores,

no compasso dos Quasares,
na eternidade cantada
na vida, nesta nossa jornada...
 

terça-feira, 12 de junho de 2018

Do braseiro


Sabe? Nem sei... Quanto tempo?
Quantas horas desde o início,
do começo de todo benefício,
e malefício, em nós, do lado do vento?

Quanto mais segurar em si
do movimento do que invento,
e que gera todas dor e alento,
e se espalha por dentro, aqui?

As vezes penso que sei o que fazer,
as vezes sei que nem sei,
como fosse nada tudo que pensei

como fosse o tempo a me cozer,
a me cozinhar, com seus cozinheiros,
e eu aqui, jogando água em tais braseiros...



segunda-feira, 11 de junho de 2018

Restrito


Quanto tempo durará a vida,
de um ser que viveu
no que em nós sobreviveu,
e se materializa na dor sentida?

Quanto tempo duraremos,
os que isto tudo inquerimos,
brincamos, nadamos, sorrimos,
e na estrada nos vemos?

O tempo parece finito,
mas é o que quer que pensemos...
De infinitos mistérios sabemos,


e o não sabido, é grande e bonito,
muito maior que o que conhecemos,
muito mais largo, e restrito...

domingo, 10 de junho de 2018

Longe e perto


Como um andarilho, voltei,
sobre meus passos sem perceber,
caminhando sobre re-ver
pra chegar ao novo, que sei,

que re-aparece nos tempos,
inventa caminhos e rotas,
lambe as borboletas, e as botas,
e dá rumos pra águas e ventos...

Assim, assistirei ao ocaso...
Não apenas da Terra e de tudo,
mas ainda ao caos tão fecundo,

que constrói universos e vasos,
re-faz florestas e desertos,
pra gerar Fartura, longe e perto...

sábado, 9 de junho de 2018

Tronco


Um anjo desceu na beira
do telhado da minha casa...
Quando ouvi seu rufar de asas,
me ocorreu minha vida inteira:

Um Plano da Percepção Primordial,
um projeto, envolto em muitas maneiras,
vestígios soltos numa estrada costeira,
que entrasse em nosso dentro mais ancestral... 

Assim, me escorro em cachoeiras!
Como fosse tronco, de vida lenta,
nascido e morrido no que o mato inventa,

derrepente, solto na corredeira!
E o precipício se aproxima,
e me faz perguntar: a "próxima vítima"?

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Atingido por sobras


Uma sobra caiu em mim,
como sobre algo que fosse,
ou um creme sobre um doce,
ou uma chuva num Passarim...

Então passei a perceber,
o que compunha a tal sobra,
e a vi, de dores e pés de cabra,
de alegrias, sonhos, prazer...

Agora, que me atingiu,
o que sobrou daquelas horas,
caminhemos, sem demora,

pra encontrar com o que nos fugiu,
embora nunca tenha saído,
do nosso peito, tão dolorido...

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Esteira


Um ângulo se mostra
na esteira rubra e viva,
audaz, mordaz, ativa,
máquina que prende e solta...

Cada dente da engrenagem
moi cantigas e desencontros,
com a facilidade de voar dos Pombos,
com a certeza da vadiagem!

E no limiar de existir, percebo,
que o buscado não está no que vivo,
no que me liberto, ou cativo,

nem no que fumo ou bebo...
Mas antes e sempre no rolar
do movimento de avançar...

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Conjecturas


Eu nem bem sabia, sabe?
Nem bem voava, e sentia
o vento como fosse o dia,
e o chão, que por noite, cabe...

Eu nem bem virava
e tudo que em mim corria
feito um rio, dia-a-dia,
fazia-se ave que voava...

Tudo pra encontrar como dizer,
disto tudo que vou carregando,
e em cada vou enxergando,

o que é de meu parecer,
de minhas instância e candura,
cantarei em versos/conjecturas...

terça-feira, 5 de junho de 2018

Horas lentas


Quanto tempo isto segue?
Que tanto mais seguiremos
antes de vermos os termos,
ademais de sermos quem consegue?...

Pois quem sabe, que diga!
Diga pelo Amor de Deus!
Pela vida dos que são meus,
dos que não são, de quem me siga!

Eu só sei mesmo de Loas!
Das festas animadas e antigas,
onde fazemos filhos e cantigas,

onde existimos nas horas boas,
e morremos nas mortes lentas
que nos acumulam, e arrebentam...

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Passos



Eu nem bem crescia,
e já me iluminava da sombra,
me encantava da lombra
e em tudo me fazia

inventando meus passos,
meus pesos, podres e pisos,
patinando no granizo,
de que, esfuziante, me faço...

Sei que devo apenas seguir....
Sabe? Como uma onda,
que em sua rota redonda,

ao redor do mar, de que vier,
vai até se achar na areia
onde, nós, de vida, presenteia...

domingo, 3 de junho de 2018

Invertida

 
Como se o esquema
não mais funcionasse,
nunca mais se repetisse,
e só desce problemas,

e todos os poderosos caíssem,
e todas as pessoas soubessem
que o trabalho é que é riqueza,
e quem trabalha, faz a comida, e a mesa...

E então ninguém faria
o que desgosta e vence,
não traz resposta, prende,

e inventa a vida vazia,
desprendida de sentido,
do bem querer, invertida...

sábado, 2 de junho de 2018

Tão esperado...


Quem já viu, o raiar do Sol
antes dele mesmo raiar?
Quem já sentiu o marejar,
de tempestade no arrebol?


Sabe? Noite inteira acordado,
o velame todo arrematado
a árvore seca zunia veloz,
o pobre, no leme, não via um retrós...

E os rochedos, surgem no inesperado,
como surgem outras praias,
outras bordas, que descer, ver Faias...


Havemos de aprender com o inusitado,
ganhar prendas do comportamento interditado,
e viver do que nos for negado!

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Percebo

 
Um mês que começa, e lembra
dos começos de tantos de tudo,
de laços largos, vastos, profundos,
inexatos e insensatos, da Pemba...

Eu era só criança, e já sabia,
que tudo era mais e nada
se paralisasse, ou derivada,
toda dor, toda beleza que havia...

Nos junhos do mundo, me habito
disto tudo que há em mim
e nos tapetes carmim

e nas dias, que vindouros, exibo
o que nisto que percebo,
está o que fumo, cheiro, bebo...