Coluna Semanal



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2ª semana de Agosto/2011.

O QUE AINDA NÃO COMEÇOU

Nunca olhemos atrás,
Tudo passou se passou,
Sempre amemos o tempo,
Que ainda não começou”

(Quadrinha de Agostinho da Silva)


Agostinho da Silva deu sua importantíssima contribuição para a história do mundo, por sua atuação em Portugal e no Brasil na condição de Filósofo. O dicionário diz que Filosofia (Philos + Sophos) significa Amor pelo conhecimento.

Agostinho era então um apaixonado pelo conhecimento, por profissão. E como estudioso da tradição exotérica portuguesa, e com certeza, um de seus baluartes e grande perpetuador, um apaixonado pelo que o conhecimento pode trazer pra todas/os, e pra cada uma/um d@s seres human@s, na perspectiva da construção de um mundo diferente deste em que hoje vivemos.

Vejo que eram três os Amores fundamentais de Agostinho, e neste exercício de reflexão que me proponho a realizar agora, quero perceber como estes três baluartes do seu pensamento podem nos auxiliar na condução do barco de nossas existências.

O primeiro (não por ordem de importância, mas numa classificação pessoal e aleatória) é o Amor pelo conhecimento, pela ciência.
Este Amor pela ciência, ainda que Agostinho fosse em toda sua vida um homem da Academia, não era, e não é, um Amor que se restringe aos muros da Universidade. Teodoro Freire, o “Seu Teodoro” conta que Agostinho era um dos pouc@s professor@s da UnB que “conversava com a peãozada”, com as pessoas humildes do povo, como ele (Seu Teodoro) mesmo. E fica claro na explanação do grande Mestre Candango-Maranhense do Boi-Bumbá, que não se tratava de concessão generosa e filantrópica do filósofo, mas um claro exercício do amor ao conhecimento sem fronteiras que encontra em Teodoro Freire um grande baluarte.
O Amor pela ciência é Amor pela Luz, como forma de sair, e nos auxiliar a sair das trevas do des-Amor. É a ciência concebida como reflexão que busca suas raízes no eterno, no imutavelmente dinâmico, no que há de mais alto e se desvela na prática cotidiana. Por este senso, e pelo que o conhecimento popular pode contribuir para este desvelamento, Agostinho se fazia acessível àqueles que a Academia formal, formalmente desprezava, e ainda despreza.

Este Amor incondicional e que não fez em toda vida concessões ao que pudesse atrapalhá-lo, pela ciência, o conduz ao seu segundo grande Amor: O Amor pelo advir, o Amor pelo novo, que ainda está por chegar.
Na quadrinha que coloquei no início do texto, Agostinho é categórico: “...Sempre amemos o tempo, que ainda não começou”.
O Amor pelo novo deriva do Amor firme pelo conhecimento. O conhecimento é como um farol na experiência Agostiniana, apontando para o futuro: “A Era do Espírito Santo”, em que pessoas serão como crianças, e compartilharão a vida nas mesas gentis.
No novo, o conhecimento adquire perspectiva de concretude e de materialidade. No novo, o Amor pelo conhecimento pode deixar de ser um sentimento abstrato (apenas) e se fazer ações reais nas relações (entre as pessoas) e produções (destas mesmas pessoas).
O novo é a Pátria de Agostinho. E não é, como disse acima, uma categoria abstrata e intangível, mas a realidade mais concreta cotidiana em sua vida, e sua obra.

Do Amor pelo novo, chegamos ao seu terceiro Amor, que é na verdade o desdobramento, e ao mesmo tempo a origem natural dos dois Amores anteriores: O Amor pela humanidade.
Seu Amor pela humanidade é desdobramento e origem dos dois anteriores, numa relação dialética perpétua, numa espiral que o leva a ter Amor pelo conhecimento como forma de iluminar a caminhada própria dele, e de todas/os nós, seus pares neste caminho que todas/os seguimos, que é a peleja pela vida.
Seu Amor pela humanidade vislumbra o novo como forma de construir a Nova Era, que é um tempo em que as relações e as produções sejam voltadas para o bem estar, e para a vida plena de todos nós seres humanos e a vida plena das vids como um todo.

A lição que penso ser útil para minha vida, na vida e obra deste grande filósofo é a de que mais do que perceber simplesmente a importância das categorias de pensamento, é preciso Amá-las, a ponto de nos comprometermos irrevogavelmente com a sua instalação e perpetuação entre nós. É necessário um Amor militante e encharcado pelo compromisso de conhecer o que ainda não conhecemos, pela construção de um tempo novo, e que se reflita no Amor por todas/os que caminhamos nesta terra rumo ao céu, o Paraíso que foi perdido, mas que pelo Amor que Agostinho profetiza, será re-encontrado. Comecemos agora a construir o que ainda não começou!

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1ª semana de Agosto/2011.

Bom soldado

Estava eu no curso de minha "produção poética" (o que afinal será isso?) quando uma amiga chegou com demandas urgentes, daquelas que só pode ser naquele momento. Tipo, ou é, ou é... Então me coloquei a disposição, peguei o telefone e saí ligando pra quem era necessário. Um gesto simples, que me custou pouco, mas que naquele momento "salvou a pátria". Ela então exclamou: "Isto é um bom soldado". Me pus a pensar, neste gesto simples e na vida como um todo. Porque a vida é assim: a pátria o tempo todo precisando ser salva. E nós, os patriotas, precisando de nossos com-patriotas (patriotas em comum) pra salvar-nos. Nós precisamos uns dos outros: Eis uma grande verdade.

E esta "precisão" não se extende, apenas, aos momentos em que estamos com dificuldades, e faz-se necessário alguém pra nos dar a mão. Neste momento isto fica claro, explícito. Mas precisamos até quando uma pessoa não procede corretamente com a gente. Naquele momento nos vemos em nossas vacilações, encaramos de frente nossos erros, e à partir disto podemos transformá-los. "O outro é meu espelho", dizia Jung, nele me vejo com grande profundidade.

Da grande experiência que podemos receber dos muitos que pensaram a vida antes de nós fica como resumo o que tínhamos dito acima: Nós precisamos uns dos outros. Nós nos precisamos. Reconhecer esta verdade nos poupa um tanto grande de tristezas e aborrecimentos. Nós precisamos de nossos irmãos ("Yo tengo tantos hermanos...", como dizia o velho Yupanqui) pra compartilharmos esta dura estrada, este caminho por vezes (aparentemente) insuportavelmente penoso, pra diminuir nossas penas, pra curar-nos as feridas, pra "fazer-nos" as feridas, pra chegarmos onde nos é destinado chegar. Somos soldados nesta grande peleja, e "se atirarmos" todos na mesma direção, temos mais chance de vencer a guerra.

E se estamos numa guerra, se esta vida é uma guerra, é uma guerra que não tem dois lados. Só tem um lado, que é o nosso. Não temos inimigos, senão nós mesmos. Tudo, a derrota e a vitória estão dentro de nós. Assim, a única coisa que nos resta é nos unirmos, pra nos vencer. E pra vencer. Eu peço a Deus que possa, pra honrar as palavras de minha querida amiga, ser realmente um bom soldado.


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4ª semana de Julho/2011.

Do que é realmente importante

No filme "Quem Somos Nós", famoso em todo mundo por popularizar noções gerais de física quântica, alguns pesquisadores nos contam que nosso cérebro processa algo em torno de 400 bilhões de bits de informação por segundo. Mas que nós trazemos pra consciência, que nós nos damos conta de aproximadamente 2 mil bits por segundo. Os números apresentados parecem de uma discrepância absurda, mas é assim mesmo: 400 bilhões processados, 2 mil trazidos pra consciência... Lembra daquela conversa de "usamos 10% de nosso cérebro"? Na verdade é muito, muito menos!

Nesta semana, pesada, que passou, tivemos um massacre na Noruega (alguns jornais diziam: "Massacre no País da Paz"), curiosamente realizado por um "fundamentalista cristão"! Prontamente classificado como desajustado, doido mesmo! É sempre interessante perceber que os brancos ocidentais que matam um monte de gente são desajustados. E os "outros" (muçulmanos, asiáticos...) matam por que são o que são... E tivemos também a morte de um ícone da música Pop: Amy Winehouse. Em um primeiro olhar, a pobre moça rica parecia um modelo de perfeição! Rapidamente chegou ao sucesso! E que sucesso! O mundo inteiro aos seus pés...
Destes dois acontecimentos, aparentemente desconexos, o que podemos retirar, para uma reflexão mais útil às nossas vidas? No país com "o melhor IDH" do planeta, um "doido" (afinal, era cristão e branco) fere 200 pessoas (matou 93, feriu 97). E (mais um) ídolo da música pop morre no auge de sua carreira. Talvez, a gente possa pensar que este modelo de felicidade associada ao consumo (desenfreado?) possa estar mostrando sinais de colapso eminente... Talvez...

De toda forma, seguimos... E espero que em direção a um tempo melhor, mais equilibrado de nosso mundo. "A esperança é a derradeira que fenece", diz meu pai. No filme "Quem Somos Nós", os neurocientistas dizem que a realidade que vivemos é aquela que escolhemos. Quem sabe, a gente pode escolher uma "melhorzinha", de agora pra diante?
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3ª semana de Julho/2011.

Instrumentos
      “A extensão da mão humana”! Assim, meu bisavô, Antonio Marçom, homem de excepcional iniciativa me explicava o que eram seus instrumentos, que no caso dele eram a enxada, o enxadão, os arados, os apetrechos da lavouraem geral.
Pra aquele homem, que foi considerado o primeiro brasileiro a plantar “arroz de várzea” (arroz plantado dentro d’água, como fazem os orientais), a mão humana era o que realizava o que o pensamento projetava. E com a enxada, com seus instrumentos estas realizações eram potencializadas.

Eu sou músico. Toco Viola Caipira. É assim que chamo, e que chamamos coletivamente, este instrumento que toco. Minha pergunta é o que significa pra nós nos dias de hoje esta palavra, instrumento? Mais especificamente, na perspectiva de meu bisavô, o que realizo utilizando este instrumento que me foi dado. E o que cada um de nós pode realizar com o instrumento de cada um.

Conversando com um amigo que freqüenta muito o abiloblog, nós refletíamos a respeito da condição humana, do que nos diferencia de nossos companheiros de morada, os animais que dividem conosco este planeta: a capacidade de criar. É isto, dizia aquele amigo, o que nos liga ao Criador. Somos criaturas, mas também criamos. A partir da natura, e a partir do que já foi criado. Isto, de um lado, nos humaniza. E também nos Diviniza, nos aproxima do que é Deus.

Nossos instrumentos são também nossa criação, e são uma condição que facilita nossa capacidade de criação e realização do que projetamos em nosso pensamento, como diria o velho Antonio Marçom...

Honremos, pois, nossos instrumentos, reconhecendo neles a extensão de nossas mãos, instrumento “original de fábrica”, com que viemos equipados...

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2ª semana de Julho/2011.

Artes


As artes só são uma categoria à parte do pensamento, e da produção cultural humana nestes tempos vivemos agora. Históricamente, o que chamamos hoje de “produção artística” (as músicas, as telas, os livros...), aconteciam, e ainda acontecem em muitas comunidades “primitivas”, totalmente integradas à vida cotidiana das pessoas.

O show business, no ocidente como um todo, mas em especial nos Estados Unidos, criou a idéia do entertainment, em que arte não tem nenhuma ligação com a peleja do dia-a-dia. As pessoas “consomem” arte só pra se livrar do que é pesado, carregado na labuta do ganha pão.

A arte originalmente nasce de uma reflexão sobre as coisas que fazemos, pro nosso sustento, pra melhorar nossas condições. Nesta, ou por esta reflexão cantamos, dançamos, contamos histórias, pintamos e nos pintamos.


Vejo que esta reflexão é muito importante pra nossa qualidade de vida. E vejo também, que o que muitos artistas reclamam ser a não valorização da arte e da cultura, venha deste desligamento.

Precisamos nos re-ligar... Conosco mesmo, e com a força que nos criou, e aqui nos dá as condições pra que vivamos, criemos, e sejamos felizes...