domingo, 31 de março de 2013

Vazio

Eu era um passo, quando inda era isso,
Um vaso, um vício, uma valsa a ser dançada,
Pela moça antes debutante, agora já debutada,
Em seu desafio, meu, de seguir mantendo o viço!

Seguir mantendo a vitalidade, que já não tinha
Nos passos, nas visitas à pátios e sacadas,
De escolas, jogos de bola, crianças maldentadas,
Nisso tudo eu era nada, e só nada me convinha!

E agora, de onde esta vista me permitiu avistar,
Eu que nada fui me permito sonho inconsequente,
Como andar estando sentado, criança ir na frente,

Como um palácio no fundo mais fundo do mar,
Cravejado de jóias, eu cravejado da contundente
Vastidão deste  vazio que me preenche inteiramente!

sábado, 30 de março de 2013

Meu coração!

Meu canto se fundiria em algo que denunciasse,
Caso meu dever de não saber me mantivesse afastado,
Folha de lirismos de onde tem aforismos reinado,
Numa receita em que entraria, se sonhasse...

Meu canto faria uma melosa peregrinação
Do meu coração ao fardo que tenho carregado,
Deste mesmo fardo, de volta ao caminho trilhado,
Caminho este que por tudo conduz ao coração!

E este velho e cansado coração de andanças
De voos infinitos e rasteiros, comendo caminhos,
Lambendo o corpo/vento coberto de espinhos,

Meu coração sem alento, inversa criança,
Ansiosa esperança de ver menos mesquinho
Este coração de caminhante, sempre tão sozinho...

sexta-feira, 29 de março de 2013

De onde?

Eu era um casco, uma beleza fria e incensada,
Pela sacaria da comida que chegou depois de tanto,
Tanta fome que o que lembrava era encanto,
De ver a fome finda, e eu, casco, nada...

Soprava em meu rosto o vento da beleza,
De outrora, quando só o que me havia era ser
Como um pedaço de força, outrora outro haver,
Em mim, voos de andorinhas, enfeites de leveza...

E inda assim, só o casco me sangrava alguma,
Cousa, nada mais em nada me bastava e vinha,
Causos mais exacerbados cantados em rimas,

Canções sobre o nada infinito d'onde se encerra uma,
Única fonte onde tudo se faz água da fonte,
Alma indistinta da flor que vem de onde....

quinta-feira, 28 de março de 2013

Todo dia!

Pacificamente chego a uma fase final,
Uma angústia que se firma na raiz,
Da palavra latina que perfura e diz,
Angústa, agulha que me fura pra tirar o mal...

E sopra sobre minha fronte o mal que vira,
Nos ventos quentes vindos de todo o canto,
Em todo instinto que sugere se cesse o pranto,
Enquanto o pensamento mais parece má gira...

Geradora de insandices sérias e compenetradas,
Onde o condutor já sabe todos os buracos que tem,
O caminho, ladeado de espinhos que tanto doem,

Que a tristeza só vê saída na leveza das risadas,
A fé, tão pacificamente quanto puder, me guia,
Na espera do claro que sucede a noite, todo dia!

quarta-feira, 27 de março de 2013

O novo

E o que o caminho agora me reserva?
De hoje a mesma lida se aproxima lépida,
Feito a que de ontem, ainda que tépida
Se mostrasse encantadora e sem reservas?

Mais desta caminhada, onde além da estrada,
Me encontro com o paradeiro metro a metro,
Como fosse um desfiladeiro feito de concreto,
Só pra dificultar o seguimento de qualquer jornada?

É isto? É esta a condição dos movimentos que posso?
É? É este o re-valoramento das sentenças de gestão,
Onde o prisioneiro é feito um amado embrião?

Eu necessito desta gestação: antes me mato que me nasço,
Plantação onde o novo tenha qualidade e boa formação,
Onde colherei minhas Violas e nascerá todo dia a tradição.

terça-feira, 26 de março de 2013

No que me fio

Como concluo um caminho?
Como chego ao fim de tudo?
Como me calo, se já sou mudo?
Como arrancá-lo, a este velho espinho?

Como se dará a forma final da árvore,
Da planta em que me produzo, me nasço,
Me apresento vencendo a todo cansaço,
E mostra-me ao mundo, com minhas barbáries,

Minhas calosas apelações e tristezas,
Minhas ruidosas aventuras no vazio,
Onde até o absoluto sente um grande frio,

Tudo pra poder merecer me sentar à mesa,
Papagaio que só não tem liberdade por um fio
Obnubilado da incongruência extasiante em que me fio...

segunda-feira, 25 de março de 2013

Guardo a pessoa que espero...

Enquanto aguardo, ardo,
Como uma vela velha,
Pequena,
Como um lenhador levando o fardo,
A viga sustentando a telha,
Se empena.

Vela já tantas vezes queimada,
E com o calor a pleno pano,
Ainda.
Iluminando o vazio do nada,
Ano trás ano,
Ainda.

E eu aqui nesta mesa de café,
Aguardo e ardo, como convém,
A mim.
Porque a justa hora exige fé,
Pra este, algum, alguém,
Assim.

domingo, 24 de março de 2013

Das cores

O cinza sucede o verde, e este o anterior,
Como o fazem vida e morte, em seu jogo,
De nos apresentar o velho em seu hábito novo,
Como não estivesse manchado de sangue e dor...

O inaudito das horas se incumbe do exato,
Se incandesce das incongruências, frente à beleza,
Se contorce e expande, e a fere com sutileza,
E a transforma, e a lambe até acabar o prato!

O tempo é um pintor que nunca se satisfaz,
Nunca termina a tela institucional da vida,
Que sempre determina a indeterminada lida,

E alternando verde e cinza, todas as cores faz...
Faz o começo e fim das dores, pelas almas sentidas,
Canteiros de vivas flores, Amores-Perfeitos, Margaridas...

sábado, 23 de março de 2013

A verdade consigo

Nesta vastidão onde espero o arremate,
Feito um cavalo perdido no deserto,
Abandonado de seus freios, sem saber ao certo,
Pra onde ir, sem a guia do chicote que lhe bate!

Aqui onde o infinito joga seu jogo, aflito,
Eu, em minhas considerações exasperadas teço,
Um pano de vertigens, se obedeço, se não obedeço,
Que me cobrem, se penso ou não, este conflito.

E nas voltas resolutas que o destino prepara,
Entre vilanias e valores absolutos eu sigo,
Pardal na ventania, buscando fazer o que digo,

Pois que a honra surpreende com alegria rara,
Que rompe as amarras indo além de prêmio e castigo,
Dando ao movimento, de cada um, a verdade consigo.

sexta-feira, 22 de março de 2013

O novo tempo do Amor


Inventosa coluna, que dos céus sobe,
Como um mastro de fumaça desde o chão
Sustentando o céu de pedra e alcatrão,
Do amargo gosto, segundo meu senso pode...

Nesta passagem entre aqui e nada, nada,
Como fosse uma baleia nadando no fogo,
Virada em gritos em direção a ouvidos moucos,
Cantada em versos e prosas e serenatas..

Assim ela sobe, a coluna, e me assobe, e roda,
Deixando rastos de brasa, luta rasa, dor,
Num caminho que lembra desagrado e calor,

Mas que conduz a um Paraíso além da moda,
Que estará aqui quando tudo de ruim se for,
E verá o tempo do novo tempo do Amor.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Sempre fui dali...

No vão raso da copa da casa velha,
Morava uma senhora desde sendo moça,
Menina ainda, entre rendas e louças,
Quando já eram velhas as velhas telhas...

Ali, entre brocados e brasões,
Numa vida que não tinha que contar tostões,

Eu,
Um dia nasci!

E da senhora velha, do vão raso da copa,
Em sua casa velha de onde sempre foi senhora,
Ela me olhou por dentro os olhos uma hora,
E não foi mais que instantes, que não se nota...

E entre viçosas estampas e alfinetes,
Entre camurças e brocados, viés, sinetes....

Eu,
Dali parti!

Mas a velha senhora inda mora em mim,
Nos sonhos que me buscam onde moro,
Nos medos e defeitos que não ignoro,
São o que tem me mantido assim...

E agora, nas diversas casas que há no mundo,
Uma delas se achegou do desejo profundo,

Eu,
Sempre fui dali!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Novo ser

Me pareço com o que não quero,
Quando me encontro com o parecer,
Desfaço o pranto por um querer querer,
E tudo sai sempre como espero...

Me entardeço, em pleno anoitecer
Quando me afasto de ser sincero,
E me afasto do Amor que venero,
Por não me permitir perceber,

Que pra encontrar o Amor espero,
Desde o dia em que vi tudo nascer,
Desde o tempo de todo tambor bater,

Me encontrar com o que em mim gero,
Que é flor que brota onde nada a haver,
Me transformando em ser um novo ser

terça-feira, 19 de março de 2013

Estradas existidas


Espuma no lombo,
do meu cavalo,
Pulei dois valo,
varei três tombo,
O mundo o raso,
Arrasa quilombos!

Eu não era mais,
Que raso ajudante,
Não vinha atrás,
Sem estar distante,
Mas quem sonha a Paz,
É caminhante!!

Passo forçado,
Na noite inteira,
Por todo o lado,
A gemedeira,
Além de cansados,
Guerra ceifadeira...

O caminho é longo,
Muitos pararam
E a dor nos ombros,
É que nunca souberam,
Se se daria o estrondo,
Eles pararam...

A paz da estrada
É alma colorida,
Lavada, bem alvejada,
Enxaguada e torcida,
Na poeira das jornadas
Nas estradas existidas...

VEM VÊ O MAR, MENINO!!!
VEM VÊ MENINO,
OH!, MAR!!!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Valor!

Depois de todo o caminho, das pedras pontudas,
Que carregamos, eu e meus companheiros de ir
Seguindo feito um arreio, prata linda depois de polir,
Sobre o lombo suado desta cavalgada aguda,

Em que voo pra além das beiradas do visível,
Feito uma muralha que cercasse o gás mais leve,
Como consigo a mãe, seu filho sempre leve,
Assim comigo é um eterno lançar-me no indizível,

Pois que aqui, nesta morada onde as ventanias,
Sopram as velas de meu barco ligeiro, desbravador,
Onde ninguém esperava mais que cansaço e calor,

Aqui, nas paragens deste meu peito residem alegrias,
Que se soprarão onde a beleza levar pra atracar meu barco/flor
Onde, na certeza da eternidade, me atraque por meu valor!

domingo, 17 de março de 2013

Celebrantes

A Luz que banha a cidade nas horas do fim
Do dia, coloridas variações de tantos amarelos,
E o verde dos Ipês, das Mangueiras, dos Marmelos,
Dos jambos e cajás, e a delicadeza dos alecrins...

Esta Luz que nos banha, se considerada, cura,
Se prestarmos atenção aos nuances da palheta,
Da pintura que se forma, por onde vai a caneta,
Do que a toda esta beleza cria infinita e pura...

Nos canteiros do Cerrado, seus mistérios,
Suas águas que aliviam e alimentam viajantes,
E banham quilombolas e caboclos resistentes,

Tudo se encontra conectado, é imenso e sério,
Como um colibri que tira o doce da flor num instante,
Como a beleza deste fim do dia, pra nós, celebrantes...

sábado, 16 de março de 2013

O que parecia lento

E quando a vontade que há, que se tem,
É nenhuma, nada, apenas um impulso
Involuntário movido como atoa avulso,
De tudo que é, está, foi, ou ainda vem?

E quando, a energia necessária, pra que a Luz,
Agradesça ao chão, por onde cada um caminha,
Enriqueça o pão que nossa vida encaminha,
Como, no escuro deserto, lembrar do que conduz?

E quando a velocidade da corrida que corremos,
Rumo aos remos da barca que nos levará no vento,
Rápido em direção ao leme que mostrará onde no tempo,

É quando  me desapegarei dos pesados que vivemos!
Antes, visitando os campos verdes de bons momentos,
Acontecerá a mudança, e será eterno o que parecia lento...

sexta-feira, 15 de março de 2013

Bebendo da chuva

BEBENDO DA CHUVA,
NOS GROTÕES DA FARTURA,
ÁGUA EM PEDRA DURA,
SABOR MELHOR QUE UVA,

Sim, no meu caminho busco os sonhos que queremos e merecemos vivê-los,
Feito passarinhos cujos ninhos fossem estrelas...

DANÇANDO NO VENTO,
ÁGIL FEITO CARCARÁ,
LEVE COMO UM MANACÁ,
CHEIRO MATA ADENTRO,

O voo da Andorinha, sinhorinha, que é casada com os segredos do vento,
Perfuma o céu inteiro, brinca com meus pensamentos...

MENINO CORRA MENOS,
JÁ QUE TU JÁ QUER CHEGAR,
O LASTRO QUE ACEITA O MAR,
É O QUE É IRMÃO DO REMO.

Minha canoinha feita das madeiras que tirei das  beiras da floresta,
Farturas pescarias, alegria das nossas festas...

NAS VAZANTES DO PENAR
DA DOR FORTE E SINGELA,
NELA PLANTEI A FLOR MAIS BELA
MULHER QUE VELA MEU AMAR...

Pra lá dos meus espinhos só me importa ser merecedor do grande amor,
Que pulsa nos caminhos onde anda minha flor...

quinta-feira, 14 de março de 2013

Alguém de quem devo saber!

Oi, como está, como vai?
Você é daqui ou vem de longe,
De dentro, de onde tudo sai?

Oi? Você não fala ou não responde?
Ou então, sou eu que não escuto mais...

Eu resolvi te perguntar porque em mim ardia,
Um fogo de saber de suas voltas,
De suas galhardias,

E do ímpeto de suas revoltas...
(Porque quem tem brios e olha, as tem todo dia)!

Sempre que sei suas notícias eu sinto,
O quanto é importante reunir,
Renovar, realçar, dar cores à este quadro que pinto,

Nas diversas parcerias que o praticar faz vir,
Saber de ti, saber de mim, do infinito.

Saber de quem mais, meus pais
Desde a muito sempre disseram: pratique,
Mais que pintar gigantescos murais....

Mas é mais... Olhando de perto, quero que este perguntar identifique
Se estou brincando de pique, ou se preciso saber de mim mais...

quarta-feira, 13 de março de 2013

Enquanto me calo

Enquanto me calo, ruidoso argumento,
Como um demagogo à plenos pulmões,
Como imaginar Daniel, covardia contra leões,
Meu silêncio, mortal como o ataque mais lento...

Enquanto me calo, a mais linda canção,
Nasce, floresce na grama orvalhada,
Só ela, vida brilhante e diamantada,
Cantando com as milhões de vozes do coração!

Enquanto me calo arregalo os olhos do pensamento!
Como aquele figo dos papagaios, maduro,
Viajando do verde claro ao roxo escuro,

Enquanto me calo vejo que é mais longo por dentro,
Porque é o meu caminho, meu presente em que procuro,
Enquanto me calo, me sonho um pouco mais puro!

terça-feira, 12 de março de 2013

Anúncio do Mar

Há tanto tempo, que nem sei me lembrar,
Uma Estrela atravessou-me em pleno dia
E ardia, e tanto fizesse dia ou noite, ardia
Um fogo que atravessou-me por todo lugar!

Ventos, costas e pedreiras, à beira da praia,
E cabos, e velas e mastros e cavas a se aventurar,
Sopa iônica de Luzes, caldo do que somos, mar,
Onde esta Estrela brilhava, e brilha até que o céu caia...

Esta Estrela, que pode ser uma manifestação da Poesia
Vê com clareza tanto o dia, quanto a noite a iluminar,
Com seu brilho de leveza, bailarina, suave cantarolar,

E o brilho dela sempre me encanta porque anuncia,
Que o tempo da alegria vem pra tomar o seu lugar,
Porque foi anunciado pela luzidia Estrela do Mar!

segunda-feira, 11 de março de 2013

Uma escada

Neste momento do evento, só o que me resta,
É esperar pelo canto do galo no cimo do mourão,
É soprar sobre os ombros as cinzas do clarão,
E morrer agarrado à leveza da lembrança da festa!

Aqui, sozinho, vendo imensos castelos se erigirem,
Num esforço cruel pra mim de lembrar tudo que perco
Enquanto sonho com o que ainda ganho e rompo o cerco,
Na tentativa de mostrar que posso tudo que me exigirem.

Sei que a nave do sonho esbarra nas materialidades.
E que a barra dos ombros nesta volta fica arqueada
Quando seus olhos nos infinitos só vêem o nada,

Mas que a Luz me criou também, esta particularidade,
Que sonhou ser passarinho, aprendeu toda a trinada,
Pra crescer neste caminho, na verdade uma escada...

domingo, 10 de março de 2013

Nosso alimento preferido

Quanta coisa se passou e não é contada,
Como se passasse natural como o vento,
Como se ventasse e nela se costurasse o tempo,
Como se a ventania fizesse de tudo nada...

E aqui, nas quietudes do que eu apenas existo,
Nas infinitudes do tempo voltado a ser,
Eu, apenas, inválido apático como o padecer,
Do que se consumou nas dores que insisto,

Pois que sei que o prazer mora na vida,
Mais que qualquer dor que já tenha sentido,
Mais do que a tristeza de que me invalido,

Porque está hoje, e sempre estará a nossa lida
Que permite o movimento a todo o vivido,
E aponta o novo, nosso alimento preferido!

sábado, 9 de março de 2013

No intento do Sagrado

Eu nem bem ainda falava minhas conecções,
Nem bem me lembrava de como seriam
As frases que meu pensamento exprimiriam
E já cantava meus sopros, sonetos, canções...

Eu, hoje a tarde, cantando praquelas mulheres,
Festejadas, celebradas, na fria festa de um dia,
Onde quem não faz, canta sempre com galhardia,
Senti vontade de cantar, como, Senhor, Tu queres..

Cantar como já pude cantar quando menino,
Ainda sem o domínio dos passos equilibrados
Passando pelas salas trinando meu doce trino,

Ventando sobre vãos e valas de todos os lados
Cantando a canção da singeleza que tem o destino,
Assomando-me vento, no intento do Sagrado!

sexta-feira, 8 de março de 2013

Gratidão

Um dia é um dia qualquer,
Se nele ninguém encontrar
A razão que pulsa no ar
Se materializando em mulher....

Neste dia cantar é inexatidão,
É um afastamento da leveza
Da tão mais infinita beleza
A mulher é a mais linda canção

Então, eu aqui recolhido,
Na pequenez do pequenino,
Canto, voz de grande menino,

Por tudo que tenho vivido,
Do nascimento ao que me fizer,
Só penso em gratidão à mulher...

Confiar feito criança

E eu, que ontem, outro dia, nada sabia,
Hoje, sei mais que qualquer um de mim
Antes de estar agora neste sendo assim,
Antes de ocupar esta cabina que assobia!

Sim, porque minha cabina assobia forte,
Como fosse uma caçadora de aromas
Fosse um pescador de perfumes e bromas,
Minha cabina assobia pra eu cantar além da morte.

Cantar hoje pra aqueles que quiserem, primazia
A sentença da beleza entre as agruras da vida,
A esperança da leveza que a tudo consolida,

Canto pra aqueles que querem, neste dia,
Como quem sopra seguro de si o trilho da esperança,
Que no dia de hoje me faz confiar feito criança!

quinta-feira, 7 de março de 2013

Pelo vindouro dia!

Não sei, as vezes, se sigo ou solto,
Se viro, ou volto, se fico, ou fico, ou
Como um cavalo que não se selou,
E foi montado como fosse outro...

Nem parecia que eu estava por aqui!
Parecia mesmo que o tempo dava voltas,
Sem sair do mesmo lugar em que sempre volta,
Sem passar da sentença que pedi...

Sei que um dia passará toda esta dor!
Sei que um dia será só dia de alegria,
Que os passarinhos cantarão velhas melodias

Que nos renovarão além de toda cor,
Que nos remeterão ao canto que floria,
Em toda boca ansiosa pelo vindouro dia!

terça-feira, 5 de março de 2013

Divina Realidade

Quanto é que eu devo assuntar, assumir?
Do que me é construído, levantado, erigido,
Quanto me é possível ter sido optado, querido?
Mas a pena, a paga, é por tudo que chegou a vir?

Eu sei que as vezes sei que estou errado,
Sei da dor que cada gesto pode nos dar,
Vi já tantas vezes, nas voltas, o manche soltar,
Mas ele vai pro lado que está acostumado...

Eu sou um navio, um catamarã colorido
Dois cascos, peso e conforto, velocidade
Alegria e leveza, mas qual o rumo de verdade?

Olho pro céu, que de estrelado, parece florido
Ali, no balanço das águas, meu casco de qualidade,
Há de me fazer avançar e ver a Divina Realidade

segunda-feira, 4 de março de 2013

De solto, a caminhar

Naquela praia distante, o mar respingava,
Mesmo mais longe, onde o mato se subia,
E a borda da mata a praia, lasciva, lambia,
E das veredas da serra a água doce chegava.

Ali, naquela praia, onde a mata esconde,
Canindés e maritacas, jandaias e jacús,
Pés-virados, manacás, borrachudos e jaús,
Senti o respingo do mar que me tirou de onde...

No cheiro doce e amargo da floresta fresca,
No dia quente, no Sol das terras sem roupas,
Do povo amigo que não leva vergonha á testa,

Lá, onde o inverno revela dificuldades poucas,
E o verão, hão de ver, anúncios da fartura da festa,
Ali, minha caminhada nestas terras era solta!

domingo, 3 de março de 2013

Ciência de verdade

E as incongruências, e as belezas encachoeiradas,
Ventanias das essências, lagoas de delícias,
Vilanias cercadas da gentileza original dos inícios,
Arremates das certezas dispersas pelo meio do nada...

E tudo junto, anexado, justo, impreciso e aturdido,
Em meio aos tantos pés de vento por nós voando,
Alegrias da noite e do dia, da vida em nós passando
Feito o orvalho que molha quando tudo está dormido,

E mata a sede de quem está precisando, no deserto,
De uma gota que seja, um pouquinho de umidade,
Entre o que não se publica e um pouco da saudade,

Que todos os que amamos, temos, de certo,
Independente da qualidade de cada amizade,
De cada amigo, incomum ciência a de verdade...

sábado, 2 de março de 2013

Tango da dúvida

E tudo que passei, tinha que ter acontecido, por fim?
É o que parece afirmar a realidade, soberana!
Nada seria diferente desta dor agúda e insana,
Simplesmente por que já fomos feitos assim?

Por vezes, nesta viagem, sinto como sempre fosse,
A paisagem não mudasse nunca, e meu barco seguisse,
Como quem não segue, amarrado ainda insistisse,
E pela frente só o mar, sem cheiro de fruta doce...

E dentro da redoma da vida que pulsa no espírito,
Que segue além das expressões da corporalidade
Que nada em meio à tudo com Divina naturalidade,

Eu, peixe do aquário que se formou na redoma, insisto,
Re-existo, rastejo e salto na busca da Paz pela eternidade:
Como explico a mim mesmo tanta dor que dói de verdade?

sexta-feira, 1 de março de 2013

É

É,
É este tempo um tempo de gente que quer,
Que brinca, que samba,
Replica, espanta,
Aceita e implica,
Mas mantém na guarida,
Amor!

É,
É este um ciclo amarrado ao infinito,
E é uma corda bamba,
Em que tudo se firma,
Banana, açucar de manga,
Vento e vida se anima,
E flor!

É,
É esta a alegria caminhada, empoeirada, linda,
Que o mel dos latões me lambam,
Como já os lambi,
Onde apenas um quer, todos sambam,
Muito lá além daqui,
Calor!

É,
É que o samba tem um fogo que arde sem parar,
Vem vindo lá do eita a Senhora Semba,
Do jongo dos quilombos, da Sussa e Lundú,
Mãos dadas em Cirandas
Cacuriás, Congos, Maracatús
Um valor!