quarta-feira, 30 de abril de 2014

Minha casa




Remo meus rumos, meu barco largo,
Meu remo parco,
Minha sina de cachoeiras e corredeiras,
(Qual é a força que faz a água subir, pra depois descer ladeiras?)

Bato as asas como um morcego surdo.
Sigo cantando mudo,
Vasto como um Beija-Flor miúdo,
(Seria voar como nadar neste oceano de ar de tamanho absurdo?)

Passarim que nada, e voa, me fiz
Como um gentil vilarejo cheiroso,
Seus cheiros de flores, lenha no fogão de gostos,

Nunca quero negar o carinho que quis,
Sei, que me encontro nos encantos do vento,
E sinto que minha casa é fonte de vida se vertendo.

terça-feira, 29 de abril de 2014

De onde o infinito nos avista


O infinito nos contempla do miúdo.
Mesmo.
Nos observa e conduz,
Pra não seguirmos a esmo, 
Andando como ouve o mudo,
Ouvindo como o cego se dá com a Luz...

Nesta sombra de ventos frios,
Áridos,
Secura se anunciando,
Nas folhas que as águas cálidas,
Das chuvas que exaltam cios,
Lindas chuvas que já estão passando...

Nestes signos de tanta beleza,
Lampejos,
O infinito se proclamando,
Baixinho murmúrio de pejo,
Grandiosidade de suprema singeleza,
Na imensidão do botão se empetalando...

O infinito nos avista,
De sua infinita vista.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Sérias intenções



Eu andava, certo de que apenas por isso,
Nada mais que a alegria da chegada,
Nada menos que a certeza declarada,
Vendo que só sou inteiro no compromisso,
Só sou completo no que fala do nada,
Que é tudo, de cada um de mim nesta estrada.

E por isso, viajava viagens de olhos fechados,
De carreiras e bravatas por onde passando
Feito um passarim sem penas, seu tino penando,
E encantos sem fim, em mim ventilado,
Como um brilhar de olhos, de amor encantado,
Como um soar de voos, eu, vós e por todo lado.

Porque nada além de voar nos completa,
Nada, além de nadar na vida, dela nos molha,
Tanto pelo menos, pra termos real escolha,
E podermos vivê-la com intensidade, ou discreta,
Ou cantante, ou aqui, mais adiante, secreta,
Da leveza esvoaçante contundente e concreta.

E feito um estorvo radiante, em emanações de rádio,
Emitindo de si partículas, identidade em pedaços,
Espanador de energias, força pra canções e abraços,
Que são uma forma de dar de si, dançar no pátio,
Cantar o canto infinito que emana da Luz cépia,
Que a alegria é serena, se a intenção deseja ser séria.

domingo, 27 de abril de 2014

Por estes Universos.




Olhe pro salto, pro sossobro que nos assusta,
Ou pro pulo da rã na composição das gravidades,
De constelações e desatinos de cada idade,
Eu, que agora vejo isto, sinto o que custa,

Pra vida de cada uma, de cada um,
O vigor de seguir acreditando na volta,
Que cada caminho se faz sozinho, sem escolta,
Cada qual com seu delírio, pra fazer sobrar algum,

Alento ao fim da tarde, quando o relento,
Cobre a terra e quem nela vive e caminha,
E faz do quente do dia memória quentinha,

E a esperança de que o dia novo se faça rebento,
Se arrebente das cascas e re-aprenda deslimites,
Pra voarmos pelos Universos que nossa alma habite.

sábado, 26 de abril de 2014

Criando minha criação




E o caminho é realmente o que tem sentido.
O caminho, seus andrajos,
Meus trajes cômicos, cônicos, arredondados,
Todas as peças de pano, com as quais, meu corpo ultrajo.

Pois que sinto que o mais certo,
É que eramos perdidos, sentidos, calados,
Só falávamos do que nem imaginado,
(Antes, imaginávamos o pão partido).

E nas beiras cheias de gente, das estradas,
Sinto falta de nem lembrar a falta das roupas,
Meus trajes de fantasia, ao corpo razão tão pouca,

Quero um dia ainda ser, nesta minha jornada
Livre de não ver ninguém padecer sem pão
Neste caminho que vou, criando minha criação.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Este rio que me (vê) em festa



Na beira deste rio, de quem herdei,
Nome e sina, corrida barranqueira,
Quase inteiro na rasura corriqueira
Quase pleno dos caminhos onde andei.

Eu vejo este rio e meus olhos nadam
Eu passo perto dele, meu canto faz
O que só pelo poderoso encanto capaz
Que um rio de amor destes que banham,

Se esplaina em água, areia, cascalho que veda,
E se solta no Sertão de dentro de mim
Pois se passa na imensidão que antecede o fim

Se enche dos amores construído de ferro e pedra
E me promete calores de alegria e festa,
Este rio, cheio ou vazio, de Amor Franciscano me infesta!

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Canto despermitido



Desenho de Camilo Solano

Eu então apenas sorria,
Feito um pato n'água,
Vento frio desfazendo névoas,
E, meu peito, só doía.

Sorrir era ao mesmo tempo,
Ferida e ferinte, eu, desmedido,
Eu próprio feridor, e de dor ferido,
Cantando pra desdoer por dentro,

Cantando por fora, pra quem escute,
Gralha no azul do céu de pinhas,
Antes que aqui quisesse ser a terra das vinhas,

Cantei sem pensar além, só no meu desfrute
Pois, antes que o Sol plantasse vida nas plantinhas,
Eu amanhecia sorrindo de minhas cantorias.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Folha, e perfume encantado


Acontece que me vejo, e ao me ver me comovo,
De novo daqui, de dentro do tempo,
Indo cantar, inovar em mim meu canto/alento,
Que entoo solitário em meio ao meu povo.

Em meio ao meu meio, no vulto brilhante,
Cantando e sonhando num tão terno meneio,
De minha cabeça enquanto danço/vagueio,
Como um lobo que baila sua corrida vibrante,

Como uma galinha que corre pro outro lado,
Qualquer que este lado seja e quem nele,
E atravessar possa ser que se morra dele,

E mostrar mostre a graça que nos tem acompanhado.
Que o nosso lúpico bailar seja o Amor renovado,
E nas nossas florestas ser luar, ser folha e perfume encantado.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Chegará


Eu primeiro quero falar de alegrias.
Mas tenho que olhar pra mim e pro mundo.
Tenho que experimentar o sabor imundo,
De ver o que nem sempre carinho e simpatias...

De ver que o mal se disfarça em tudo.
Se disfarça em mim, no gesto sem fundo,
Sem razão ou desfrute do sabor tão fecundo,
De realizar o Amor cantante mesmo mudo,

E então me lembro da natureza vazia,
Que tem o mal, castelo feito de sombras,
Que assusta pais, mães, crianças e pombas,

Mas que não resistirá à chegada do dia,
Não seus seres, feitos da mesma essência que há,
Em tudo que há, em mim, em ti. Tudo, pra todos chegará!

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Desta gente, e desta cidade




Hoje celebramos uma cidade que se inventou!
E uma história inventada que nos inventa,
E sobre nós sopra sua gentil cantilena lenta,
E então, de todas as maquetes, em gente se criou.

Ninguém imaginava, daqueles que a cidade pensavam,
Que por descuido uma Utopia se encharcasse,
Dos caldos mudos do dia-a-dia, e que nos mostrasse,
Como pode ser boa esta estrada por onde passavam,

Aquelas velhas histórias, flores sem amor nem memória,
Que aqui memorizamos, e celebramos nossa cidade/povo,
Que no meio dos Sertões sonhou construir o novo,

E moveu céus e terras, e sobre tudo logrou vitória,
Menos no que de gente, Candanga gente que sentiu,
Toda dor e Glória, todo sentimento de quem a construiu.

domingo, 20 de abril de 2014

Dia de atravessar

Hoje é um dia de passagem!

Um povo, a muito tempo, fugia pra vida,
Da morte escondida na covardia da escravidão.

No seu caminho, uma mensagem:
É livre quem se entrega à lida da viagem!

E o mar se abre pra quem se atira, arma em si, sem servidão,
Se atira às ondas confiante que maior que a existência de cada,
Está a existência impecável, e impecada,
Do homem e da mulher, livres, amando a liberdade e o Amor partilhado.

E no mar atirado, o mar toma partido, e aberto,
Faz do homem e da mulher, libertos,
Um tempo novo que se abre.

Um tempo em que, menos que o sabre,
Menos que a pistola, e que a maldade que (ainda) nos assola,
Que nos constrói e nos explora,
Estará a verdade de cada um só ser o que sabe.

Nada mais,
Tudo mais,
Neste dia de passagem.

Um dia de grande força de vida,
Pra quem se entregou a morte, sem reservas, no soar da lida.

Um dia que se renova,
Na luta de tantos, que seguiram a coragem da trova,
A coragem das horas que antecedem o fio da espada,
Sem mais medo, nem nada.

Um dia de cordeiro imolado,
De Deus Luzindo o dia,
De esperar a gentileza de esperar pela Folia,
Que marcará o começo do tempo esperado.

Um dia de passar de novo,
E esperar que, de tanto ovo,
De tantos, trabalho e espera,
Enfim chegará em mim esta nova era.

Dia de atravessar!

Que atravessemos,
Pra este tempo que, de integridade, nos amemos,
De Páscoa da liberdade, vida nova pra quem atravessou o mar.

sábado, 19 de abril de 2014

Orealqueé



Omantoincrívelcomquenoscobrimos,
Osaltorisívelqueapertaasalmas,
Enoassltotangívelqueperpetuaadornaspalmas
Decriançasagredidasemnomedasanhacivilizatóriarimos,

Orealéquetemosanósmesmosdito,
Quesomososvilõesosmandõesdadesdita,
Quandonossaculpapodetercriadomesmoestaescrita,
Dequeopioréoquesomosecomovemosovisto,

Decomogarimpamosvelhicesembaússemtamanho,
Emcaixotescastanhoslambemosnossaslidas,
Emfilhotesdetodotamanhoimpregnamosassentidas,

Doresdasculpasqueomeupeitoestranho,
Sentedesmenteeéoremetentedascartasdoplano,
Quetenhoseguidoemmeucomigocrueldesengano.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Verá que virá!



Do que vai virar,
Quem transpira, sempre vira,
E vai virar,

Neste chão
Mesmo nesta escuridão,
Chegará...

E vai virar,
Dia novo de brincar,
Se aclarar,

Sol brilhar,
Onde havia nada lá
Clarear,

Do que vai virar,
Quem transpira, sempre vira,
E este verá!

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Das direções

Desenho de Rita Montes

Então, travamos caminho neste campo.
Neste canto, do centro pra frente,
Do mastro pra quem o vento é o alento que sente,
Que toca as velas que são do caminho o manto.

Espero nunca me habituar ao vibrar do martírio!
Nunca calar o delírio que alimenta meu cantar,
Que não pode se dar, mas não consegue parar,
E se veste, e se liga ao cântico vindo dos Lírios,

Os brancos Lírios das estradas em suas beiras,
Em suas carreiras, suas bastanças e carências,
Em suas instâncias e insolvências, desdicências,

Desditas e acertos, com que cerramos fileiras,
Nós, os cantores dos luzeiros seguindo a procissão,
Cantando louvor aos ventos, portas de toda direção.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Nosso lar




Se somos feitos de restos de Estrela,
Estrelas que restam, somos estes nós,
Que nos desfizemos, e aqui re-fazemos,
Nossa essência, a Luminosidade delas.

Nada havia, nem noite ou dia,
Ou apenas o dia de tudo se aclarar
Luzes brihavam no vazio do ar,
Sem ar, com ar, com toda galhardia,

De tudo por criar, criando-se,
Como Estrelas se formando, por formar
Planetas cozinhando massas do ar,

No ar, pro ar formando-se
Este lugar gerando-se em nosso viajar,
Aqui chegamos, ficamos e é nosso lar.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Passarinhos pra continuar

Eu sei que verei dias alegres.
E crescerão flores entre Taiobas,
Entre pneus e fliperamas, e nas portas,
E nas pernas uma ânsia se sobe e se bebe.

E bota pra estrada de tudo mais, pra funcionar.
E ganha ares de importância quando está,
Mas é tão nada quanto tudo, tudo que há,
E se envereda pelos rumos mudos de cantar.

Porque me canto, me mudo, feito passarim
De penas trocadas, depois do Sofrê, Sabiá,
Bicudo, Curio, Canários de todo lugar

Como tem Canário neste mundão, mundim!
Como se o que tudo criasse precisasse encantar,
Pra tornar suportável o fardo agri-doce de continuar...

segunda-feira, 14 de abril de 2014

De baleias e passarinhos




Parei, eu mesmo em nada bradava...
Nadava rumo aos barcos que atravessam
O lago que antecede o que evitavam
E evitamos os que conhecemos o quanto é brava

A vida e nada, nada, nada,
Como uma baleia que atravessa mares,
Passarinho canário colorindo ares,
Seu canto, meu espanto de alma atravessada,

Pelo encanto da cor de suas notas,
Pelo voo de suas asas sonoras,
Pela cor das canções de toda hora.

Cantar de baleia, que toda baleia nota,
Ventar de canarinho, miudinho, imenso,

Cantigas de vento, vem sentindo meus sensos...

domingo, 13 de abril de 2014

De me atirar no mar



O meu canto deve atender,
A mim! Eu é que devo me alimentar,
Do que canto, meu próprio pulsar
E me mata a fome de me fazer,

O meu canto, o canto deste nada,
O canto desta água que desce,
Que padece por amor e por benesses
Que o amor lhe finge a caminhada.

Então, meu canto é nada mesmo.
Só sendo nada se justifica e faz,
Como fosse remédio que desfaz,

Um pouco do mal com que sigo a esmo,
Com que venho eu mesmo me curar
Com que sonho esta cura de me atirar no mar

sábado, 12 de abril de 2014

Pra todo lado

O caminho vai se dando,
Poetas partindo, Poesias se parindo,
Passarinhos a criação divertindo,
Colorindo, cantos novos chegando...

A manhã se deu em cinzas,
Chumbos de chuva e fartura,
Pois que aqui a chuva é candura,
O céu é mais perto de onde a gente pisa.

Manhã de vislumbrar amor e sonetos!

Sonatas de passos no capim molhado,

Sambas de senões, sentidos cansados,

Sentidos feridos, re-nascidos perfeitos,
Neste caminho que o dia tem dado,
(Meu canto levinho me voa pra todo lado...)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Campo Rosa

A alegria é minha, par, a par,
Ancestral de meus dias, longe,
Menino em brinquedo se esconde,
A Luz cedo já brilha, no mar, no mar...

E nas ondas eu vivia,
Vivo cativo de tanto amar,
Canto altivo que te quis cantar,
Canto comigo, e na alegria,

Com que canto até tristeza,
Até beleza, canseira, altar,
Gentileza, realeza, abotoar,

As calças pra seguir com leveza,
As eternidades pra em mim soar,
O sono solto deste eterno despertar

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Meu sopro


Desenho autoral de Maria Nanim

Então, cantar não é mais que sopro.
Não é mais que sombra, sóbrio samba,
Em que canto belezas firmes e bambas,
Mas, tudo é sempre sobra de sopro.

O etéreo é a mais dura rocha que existe.
O vazio do vácuo, que imaginamos sem ar,
É o ar em seu mais intenso e forte pulsar,
O vazio é tudo, até qualquer existir triste.

Ou qualquer existir alegre, saltitante,
Um existir sem franjas, sem colares e pulseiras,
Ou um existir "Boi de Laurentino" em Caieiras,

Lantejoulas crianças em brilhosos instantes,
Onde o inaudito se lança às carreiras,
Este meu sopro de cantar a me enfeitar as eiras.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Um Poema de iluminação



Eu olhei pro Universo,
E me gritei, pra mim:

-Ah! Te peguei!!

Tudo era só tu mesmo!
O tempo todo.
Começo e fim...

Tudo e todos.
Num único!

Só tu, mesmo!

terça-feira, 8 de abril de 2014

Acre dito.



"Sem a erva que sobe,
A iscurtura num véve"...
Sem a prata escumosa,
A fritura não serve.
Eu sou pia que se move,
Piedosa a quem serve,
Nas caladas sentidas,
Sentimentos em neve,
Enervante aroma
Da vida que assim segue.

Assim segue.
Assim sigo,
Cedo madrugante,
Cego errante
Rabecante e divertido.
Violas e seus arames,
Certidões de certezas,
Vexames,
Passagens pelo meio inaudito,
Da certeza da ponta do alfinete infinito,
Eu sigo porque, acre dito.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Saberes lilazes



Os roxos que guardo de menino,
A imagem do Boi, na noite, ai, medo,
Ai, constatação da dor simbolizada no enredo,
Do Boi brincado, minha infância de mar e sinos.


Os meus roxos de quase moço,

De reverência e tradição, rouco Sertão,
Ode ao mar de longe nos Gerais chãos,
Nestes campos e matagais e poços,


De água singela das chuvas capazes,

Em minha longa estrada vieram Poemas,
Cantigas de estrada e nem tão sábios dilemas,


Vieram tão bem vindos, estes saberes lilazes,

Da tristeza pra nova vida, da Paz, passar pelos problemas,
Que dissolvidos seus sentidos, somos nós, apenas.

domingo, 6 de abril de 2014

Meus cangaços



O me olhar nos olhos, me imagina,
Me dá calafrios de perceber a via
De caminhar sobre o fio que só desafia
E monta montanhas pra subir a sina.

Eu vejo o que meu espírito anseia,
Como as noites mais claras, nos altos
Nos rasos e soltos vaus sobre os saltos,
Raso antes da cachoeira, água cheia,

D'onde se vê o porto dos Bastiões,
Escouramento de hastes, domínio de hostes,
Cancelas de alarde e solfejo de odes,

Alaúdes de frades cantores de Sertões,
Antes dos Sertões de um nosso Euclides, 
Eu, meus cangaços onde o Amor sobrevive.

sábado, 5 de abril de 2014

Brumas no Vale



Num dia de abril, feito hoje é,
No dia que foi um dia que recebeu,
Um nome, número, placa que nem o seu
Um dia de Isabel, claro mel que quer,

Que quis vir e ver o mar que tudo habita,
Em cada lado da estrada, na estrada,
Em cada partezinha do tudo que é nada,
Planícies dos continentes onde o sangue transita.

Brumas traduzem promessas de Sol no Vale,
Onde o verde verte, a água serve a cada
A vida se abre e acaba, nasce Melancia e Jabuticaba

Neste dia de abril, enquanto eu da vida fale,
Me lembrarei do dia em que te vi,
Linda menina, brumas de prata, Sol Bem-te-vi.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Mares que me singro




O valor é a alma, o Sol das horas,
Onde o que é, e de verdade se faz
Onde o que no largo da vida é Paz,
É certeza, beleza, leve e leva embora...

O que não mais, o que demais, singra,
Almas das vidas, das flores e floras, dos ares,
Cantigas de sonho com o espírito dos mares
Com o jeito desvelado que o bem enfim vinga,

Sendo vento, sendo intento de nossos andares,
Pernas que pisam espinhos aos planos de pares,
Que se completam em sentidos múltiplos,

Que em vida plena se reverbera nos últimos,
Cantigas, certas e antigas como os lugares,
Como os caminhos eternos, singrando mares.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Desta vida

Desenho da cachoeira de Paulo Afonso, de autoria de Theodoro Sampaio

Todo real desta vida

Pelo que passo, re-faço,
Caminho solto, compasso,
Se subo o morro, e é fácil,
Ninguém quer ver no difícil,
Como saltar de edifícios,
Qualquer momento retrátil,
Eu mesmo canso e re-passo,
Meus tão risonhos cansaços
Quando o caminho é tão vasto

Todo real desta vida

E o sangue pulsa e expulsa,
A morte entrona e enxerida,
Que quase nunca é pedida
Mas que renova guaridas,
Antes do galo e da ursa,
Alma de sangue aquecida,
Corpo e quereres que pulsam
Eu sei que os sonhos que fazem
Todo o real desta vida
Todo o real desta vida

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Criar



Criar é como permitir.
O Poema nasce da onda
Do mar, o ar, nossa cobertura redonda
Faz ventar o novo, e a folha velha cair.

Isto é o que se pode sentir,
Se pode pensar,
Se o sujeito se sujeitar
Aos armadilhamentos do existir,

E se deixar levar por alguém ensinar,
O que não se pode aprender,
Nesta ou na que vier,

Ou na que foi deixada com as folhas do pomar.
Ou nas andanças deste meu viver,
Solta impresença, imprecisa sentença de me verter.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Praia das realezas


Click para Download de Praia deserta ao anoitecer

Se o chão me some, e o medo come
O que de mim melhor se dá, ficou,
Das marquises desta casa sem eiras que some,
O tempo a consome, enquanto ainda estou.

Não sei se o que se planta, encanta e acabou.
O tempo só é sempre sempre o que se escolhe.
Mesmo que minha árvore na chama se desfolhe,
Eu ainda tronco de bardanas e couve-flor.

Mas eu inequivocamente me enlevo do belo,
Me lambo e me desvelo, meus eus de ligeireza,
Quase vento sem talento em meio a tanta beleza,

Sem que o ilúsio me chame tolo singelo,
Eu em meu cérnio me traduzo de singelezas,
Buscando mar e desassombro, praia das realezas