quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

De Deus, a beleza




Olho a terra, em mim,
onde tudo acontece...
Nesta terraça que avista o sem fim
em que todo frutificar se tece...

Meu peito é um espaço
entre o que vejo,
(meu sonhado e doce beijo)
que de tua boca, meu coração faço!


E neste vasto espaço, ínfimo,
nado em mares tão fundos,
brado meus berros, da dor, fecundos,

menino perdido, achado, infinito,
cantando a vida, maior riqueza,
água na seca, de Deus, a beleza

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Flor de Chapéu de Couro


Flor de Chapéu de Couro,
uma sensação de Divinidade,
na dureza da pedra na lage,
na leveza que lembra ouro,

que, ele mesmo, nem leve é!
E ainda assim trouxe Caravelas,
e a ganância por si, com elas,
e do que havia quase nada ficou de pé!

Mas, ainda bem, ficou a flor,
do Chapéu de Couro, planta
que nesta terra tanto adianta,

pois havemos de ter, além da dor,
toda beleza que daqui já se emanou,
e hoje, nesta incrível flor, se mostrou

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O Colar de Coralina




Ana era menininha
quando apareceu quebrado
o Prato Azul-Pombinho
seu destino pintado...

E um colar com os cacos
Aninha teve que usar
feito as contas do acaso
Sol neste céu de brincar

domingo, 28 de dezembro de 2014

Irmandade


Um irmão, que nunca tinha visto,
uma alma que a caminhada modelou,
argila lavrada na olaria do imprevisto
e nas brumas da dor, alegria formou.

E eu, rompantes da alma sensível,
que habita tudo, e em tudo vibra,
abrupto eclipse que em mim se timbra,
e faz caminhos com cores do imprevisível.

E meu irmão, que feito outros mais,
irmãos todos que somos nesta trilha,
neste planeta, que pra nós é ilha,

de onde só saímos quando viramos mar,
quando viramos o amor que transformou,
água e pó em vida, porque nos criou.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Ébano e Marfim


A criança joga seus jogos
pra aprender como funciona
a estrada e o motor que impulsiona,
e a eternidade onde arde o fogo...

Cada um de nós precisou
de brinquedos e atenção
(algo muito além do pão)
que ensina o que vem e já passou,

e nos mostra, antes, a conexão,
como um lago de jardim,
se conecta ao mar sem fim,

e cada, em particular reflexão,
pode entender o caminho, assim:
O preto do Ébano ao lado do Marfim...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Café das alegrias


Um Bento menino certo dia,
no papel coloriu um Arco-Iris,
(enquanto a xícara esquenta o pires),
meu café da manhã das alegrias...

Um vento invadiu a sala, com a criança
canções de Chupins coloridos,
Bem-te-vis e Joões de Barro entretidos,
lida de colorir a manhã de esperança,

e nada mais se põe além da lindeza
da cantiga de seu João e Joaninha,
que no pé do Pequi firma as perninhas,

e cantar da eternidade a beleza,
e beber meu café sentindo o alento,
de ver o colorido Arco, vindo do Bento...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Trabalhadores, Reis e Animais


25 de dezembro, é o dia do Natal,
quando nasceu Menino Deus,
numa estrebaria de animal....

E entre flor e bichinho,
chegou Deus Menininho...

Aleluia...

Na hora que Jesus nascia,
uma estrela brilhou no céu,
e os bichinhos ali de perto,
pensaram que o dia já nascia...

E entre flor e bichinho,
chegou Deus Menininho...

Aleluia...

E 3 Reis de sabedoria, 
se puseram a viajar,
procurando os novos caminhos,
que apontavam aquela Estrela guia,

E entre flor e bichinho,
chegou Deus Menininho...

Aleluia...

Trabalhadores, Reis e bichinhos,
ao redor da humilde criança
naquele berço-cocho
Enxergaram um Rei que traz caminhos...

E entre flor e bichinho,
chegou Deus Menininho...

Aleluia...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Insensata e séria


E a cantiga, ela mesma,
se seguiu, feito um aro,
o ar, concentrado e raro,
fê-la eterna, ao esmo...

Ao ermo que banha o perpétuo,
ao vaso que contém o vasto,
e não se contém e voa no pasto,
e garimpa o sólido em busca do fátuo,

e em cada coisa se ouvia,
o som das eternidades frescas,
a velharia das novidades secas,

minha cantiga, minha alegria,
me deu e dá estrada e matéria,
pra vida que é insensata e séria...

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Pr'onde meu canto


Cantei quedas, porque as vivi.
Chorei guerras, porque as lutei,
uma a uma, cada gota que arranquei,
foi de tantas outras que perdi.

Meu canto se levantou antes,
do Galo, do orvalho chegar na relva,
da pedra sobre o rio que corta a selva,
e tudo pra que meu canto cante.

Esta infinita dor, o pranto que corre,
a veia que escorre no corte final,
a vida deixada em memória e fel,

esperança de chegar ao lugar que morre,
todo sofrimento, e tudo seja Luz,
porque é pra lá que meu canto me conduz

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

"Amém"


A vida então, volta e vira
e dá asas às tartarugas viradas,
e tira seus costados da lama rasa,
e às devolve ao caminho, e à gira...

A vida, nos corrimões desliza,
descendo rumo ao tempo final,
de cada, nesta compreensão letal,
de que o caminho ao começar, se finaliza....

E se bom há, é que sempre
em tudo o viver caminha, caminha,
em tudo, a graça da pena levinha,

a vertente de água que é o ventre,
(que nos verte e a tudo que vem),
pra que haja alegria em nosso dizer: "Amém"

domingo, 21 de dezembro de 2014

Nesta jornada













Vitrines e viradas:
Sombras incrustadas na Paz,
pois quem ama, sobra, mas,
também se cobra por nada...

Rombudo, pronto, inexato,
confuso, abstrato, Bezerro,
de Ouros e Paus, berro
pelas Copas e Espadas dos fatos,

pois no jogo, se embaralha a vida,
como as cartas, várias e nada,
tanto as mais atuantes, e as deixadas,

ainda assim, o finório tino convida
a celebrar com alegria renovada
a Paz entre nós, nesta jornada.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Passarins

Foto: Geraldo Portioli Canários da Terra e rolinha em Ponta Porã, MS.















Tem canarinho até onde nem...
O dia amanhece as vezes nublado,
carrancudo, cinza, azul fechado,
e quando menos se espera, Eles vem...

Cantam um gorgeiozin de ventos,
de silvos pequenos, guizos e bandeirolas,
nas gargantinhas a voz se enrebola,
e soltam seu canto, que é pro mundo alento.

E daqui das madrugadas deste meu dia,
verto de mim este canto-reconhecimento,
que só quem já teve o bom seguimento,

de ver cantar Canários quando não havia,
pode saber deste meu aqui contentamento,
pode sentir o sabor de estar vendo e ouvindo...

Vistosa planta


Ainda hoje, pensei, há de
ser, verter como um rio,
de onde ventasse vento frio,
este lugar, onde no mar nade...

Um mar de venturas,
vitórias, paisagens leves,
nuvens escuras, brisas breves,
furacões em primaveras prematuras,

e em tudo, o amor ganhe!
Em cada o amor seja
como um bolo só de Cerejas,

como uma carta que se apanhe,
no meio de tantas,
e o amor vaso de vistosa planta.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Cantar comigo


E me surpreendo com o pouco
que faço com o muito que tenho
com o tanto que franzo cenhos
e me entrego em meu canto rouco,

pois o eterno canto o tempo todo
e usa lupas e latas, e vastos pastos,
abre picadas pra frente e de fasto,
e se fastia do susto, e sai do engodo,

eu e o eterno, ambos nós encordoados,
acordando pelos acordes da infinita
Viola que toca e amarra a própria vida...

E os dias virão, e irão, Rosário marcado,
pela devoção das lidas, rezarei meu Bendito,
chamando quem canta à cantar comigo.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Paranapanema


O dia raiou com Alecrins d'além mar!
Seus cheiros invadiram canções,
e entre beijos travessos vazaram senões,
e se encontraram com um divisar...

E "Paranapanema", meu canto viu,
deste primeiro lugar, d'onde se vê,
d'onde se divisa a promessa de verter,
água toda do mundo, que no mundo fluiu...

E eu ali, aqui, antes e neste tempo,
vendo o mar de longe, de perto, dentro,
cantando as ondas de meu peito ardendo,

o Tempo mandando lembranças do agora,
e do perfume dos Alecrins, nota soando
mar de alegria, que é sempre senhora!

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Com a sequencia


Quem gosta do que virá,
se não se sabe se a preguiça
se o incerto cobiçar, à guisa,
de saber, e ser? (então será!)

Quero seguir na estrada
de ser feliz, e fazer, e cortar
e nas voltas do que se apresentar,
verter, voar, sentar na calçada,

e me contentar com tudo,
e em nada cansar
em cada agir e pensar,

e aprender com o absurdo,
que vindouro trará alegrias,
e alforrias, nestes nossos dias

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Irmãs


O cristal do dia anunciou-se
na mais ordinária das horas,
das espécies da labuta que chora,
que se reconsidera, e vê a si...

E então, o inusitado revelou-se,
como o eterno, que se apresenta mágico,
um estratagema antiquado e trágico,
um espólio desde aquela, diga-se,

desde a sensação de vazio e perda,
o vale de sombras e víboras rasteiras,
e o dia de Sol, que a todos, da mesma maneira,

e lembra, que apesar, somos quem herda,
e se fomos horda, famigerada e vil,
as estrelas como irmãs que a outra viu.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Silêncio


Cala. Antes e sempre.
Na estrada só anda
não fala e se espanta,
que fausto e astuto ente.

Nada diz porque só,
nada nestas claras águas,
corpo-barco de mágoas,
carne e madeira que já foi pó.

E se não falo, caminho,
e me verto em pratos,
e me divulgo amplo e inexato,

vendo flores entre espinhos,
lá no topo, pr'onde vou indo,
o Sol sempre nasce mais lindo!

sábado, 13 de dezembro de 2014

Respirando


O canto pede ar, pra ser.
Onde tudo se dará,
nos dá força, se fará,
pra aconchego, então, ter.

E o canto quer cantar.
A própria vida se é,
pelo que canta sua fé,
pelo que pode imaginar.

Eu respiro é pro meu canto.
Digo a jornada vertendo,
como um arrimo escorrendo,

escorrimento de seguir segurando,
o ar, este e todo canto me dando,
pulmões enchendo, esvaziando cantando.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Chamando Canários

















Hoje chamei todos os canarinhos,
pra cantar em cada passarinho
que voa sobre este chão...

E neste coração...

Vem canarinho...

Canta sobre este chão,
que é pra nossa salvação,
o seu canto miudinho....

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Leminskiante


Nas copas das eras,
as voltas das horas
(amigas velhas senhoras)
devorando-me panteras,

nas vistas das alas,
nas costas das canhas
nas alas das manhas
das meninas lindas raras,

e eu, valente artimanha,
volante da chama que cai,
cantante, instante que vai

e venho, menino que arranha
a própria sina, marra, assina,
o destino que Leminski ensina

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Dançar até nascer


Quase não usamos nossos corpos,
quase não sentimos mais das forças
destas terras onde já saltaram corças
saltamos outros nós, ouriços e porcos,

e nas sombras das árvores que nos viram
os mesmos raios do Sol generoso
que ilumina os seres de todos os remansos,
de escarpadas encostas, onde tantos caíram...

E hoje, que a chuva, de gentileza, molhou o dia,
eu me chamo e ao meu corpo pra colher
Pequis, Araticuns, Araçás, o  que mais tiver,

o que mais do chão nascer feito alegria!
Tanta festa que os passarinhos todos vem ver,
tanta Música e Fartura, dançar até nascer!

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Vagas do vazio


Eu ia, mesmo sabendo que chegar
nada mais era que etéreo vento,
uma lembrança futura vazada no pensamento,
uma pendência perdida, vaca no Pomar...

E, só por isso, segue porquê, o mesmo,
em tudo, em cada, nas praças e ruas do mundo,
elevados planaltos de envasares fecundos,
de planares rotundos distribuídos a esmo.

E de mim vertiam-se as cores de tantos sonhos
que cruzam o céu dos meus dias como bólidos,
balas de vagos, disparadas por Baleias no cio,

onde os insólitos duvidam da realidade do sólido,
e as vielas, todas elas,e eu, tristonho,
barco de velas rasgadas, vagas do Vazio.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Epitáfio


Um fio azul a mim liga,
à vida, ao fluxo do que,
emana, mano e mana e 
quem mais, consigo siga.

Uma azulecência alarida,
como a camisola suada,
e o feijão na corda contada,
no cordão que verte a vida.

E preso assim à este cordame,
canto uma canção de gatos,
miados em cabeleira, despenteados,

e sonho não mais ser este vexame,
em ser apenas fiapos,
e esquecido, meu canto desafinado.


domingo, 7 de dezembro de 2014

Cantessência


Então, mano velho, como não cantar?

Maninha, (cuja figura sempre me alegra,
o próprio cantigar,  de Rumbas etéreas),
onde o coração, que se faz em arrelias,
que enfeitam este, e outros dias,
com que sigo... Como não cantar?

Como não, este fado d'outrora, despejar?

Corre em mim este rio, que do Salvador tem cantado
tantos e tantos fadistas,
amigos, tantas odes e vidas,
tantas dobras no caminho transitado,
tanta lida... Como não cantar?

O frio da madrugada me pergunta: "Como não cantar?"

Olhando pra vida onde as noites sucedem
na dança do Tempo que sem saber dançamos,
dos passos certeiros por onde nós vamos...
O calor do Sol há de vencer o medo dos frios,
pois da mesma forma, em outros desafios,
tudo só fará sentido à partir da gente cantar...

Por isso esse Poema me pede pra lembrar
de sempre pedir,
e sempre, sempre cantar!

sábado, 6 de dezembro de 2014

Velho senhor!


A própria anterioridade
disso que no futuro cantarei,
me faz pensar onde andei,
me surpreende pela atualidade...

O tempo de tudo é.
O passar do ponteiro
me iludiu com o cheiro
do que antes e depois se fizer,

pois, tudo vibra o tempo inteiro!
Nestas bandas da estrada,
o que passou de madrugada,

o que virá no próximo outeiro,
são ilusões de passado e futuro,
aquém sempre do presente puro.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Transitoriedade

Maria Nanin

Eu era uma sólida vista,
uma escondida via por viver,
um inédito e repetido re-ver,
re-destilado, repita, insista!

E nestes retalhos de sentidos,
eu, como fosse um atalho,
sendo a sombra do ato falho,
a encarar o bem maior vivido.

E nas vertigens desta corrida,
velocidades além do tempo,
o espaço se soprando em vento,

e as infinitas possibilidades da vida,
e as infimamente pequenas vaidades,
que me lembram de minha transitoriedade.



quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Beijo


Ouço a Poesia que se estende
pelas matas e campos e vales,
e sombras, e eternidades fugazes,
canteiros e sobras, onde exista gente...

Escuto um canto que vem de longe.
Odes e odes que já foram cantadas
em noites de alegria, outras cansadas,
outras perdidas na dor que se esconde,

na tristeza sem par da guerra, na alforria,
no caminho que conduz ao alto,
no espinho que reduz o ímpeto,

e vejo a Deusa, que se veste de alegria,
me acenando, meu coração em sobressaltos,
quando sinto o ímpeto do beijo da Poesia.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Do Carinho


E eu era só, então,
uma nave solta, um pedaço,
uma linha perdida no vasto,
um pendido da flor pendão...

E nas cabeceiros de rios,
de camas, de rumos e estradas,
nada passava mais então nada,
que a ventura do que chegará no frio,

pois que a isto se seguirá o calor,
(da batalha em que perdemos vidas)
de cada, das fadas, dos cansaços da lida,

dos exageros que em tudo é (des)valor,
ou valor sem esmeros, baciada, desalinho,
e no meio de tudo, dança resoluto, o carinho.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Canto


Neste canto tão lindo
do mundo, vasto e perto,
os bem-te-vis vadiando de certo,
de longe, de onde o vento vindo...

E feito vento,
desmedido, sólido,
plantado no etéreo lógico,
semente cantando...


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Toda alegria


A Água é mineral,
em outras densidades.
O vazio entre a terra,
e o espaço sideral,
se tratado com verdade,
nem existe, nem emperra,
a vida de ganhar todas as asas,
e nos levar asas e águas de volta à casa...

O vento conta caminhos
que viajam dentro,
e alardeiam fora...
A Baleia cuida de filhotinhos
mesmo seus não sendo,
mesmo os que outra qualquer ignora...
Vejo então um espirito fino que está,
mãe Baleia cruzando o mundo amor vertendo.

O espanto que sinto,
o perfume intrigante no dia,
e a cantiga que a Arara grita,
e se verte em chuva do infinito,
em trilhos de alforria,
e, entre as árvores levita,
e aponta meu olho que fita
e (des)mostra o óbvio, e re-escreve toda a alegria.