segunda-feira, 31 de julho de 2017

Da fundição da Poesia

Sobre obra de Oscar Pereira da Silva

Nesta casa/eu, 
em que me habito
tranço, transo, palpito,
(neste disto que me verteu),
sigo sonhando atento,
pra perceber, do vento,
o que me acontece e aconteceu...

Esse senhor, o movimento
do ar trazendo cheiros,
me entende inteiro:
d'onde vem o pensamento,
desde que se o pariu,
o falado e o que se enrustiu,
o de fora, e o de dentro...

Assim, este Poetar cingiu
as ancas da Poesia,
se verteu a latomia,
e o texto a si se produziu...
E com os rins aquecidos,
de Profeta arrependido,
este ser/Poema, de tudo, se fundiu...

domingo, 30 de julho de 2017

Por perto



Deste eixo, onde respiro,
sobe um ar de dor e sombra,
de alguma alegria que sobra,
no que me mexo, e transpiro,

no que me entrego e sinto,
do que me vinga e conta,
nas horas de briga e pompa,
deste tudo em que venho vindo...


Algo, que vem pelo ar
conta histórias de mato,
venta gentis manifestos,

e, pra se alimentar, 
lambe sais e pastos,
e se faz do que por perto...

sábado, 29 de julho de 2017

Há de ver



Estranhos seres sinistros!
Veem na morte dos outros
um jeito de matar o monstro,
que eles mesmos tem dentro...

Que dias de vento e frio!
Por todo lado, desafios,
nas ondas, o mar bravio,
nas terras, espada e fio...

Me canto pelo sobreviver...
Como um Antulio na neve,
um Papagaio, uma Lebre,

uma Lesma querendo viver...
Nestes dias de eterno e breve,
nestas Luas, que o novo, há de ver...

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Do Amor, que ficou



O sentido, o que foi
por si vertido de dentro,
em nós com força de vento,
o que aponta, quando dói?

Como explicar pra si,
e pros em volta, a crueza,
a sensação de estranheza,
do que se perde por aí?

Do sorriso, agora sonhado,
da flor menina, que voou,
numa vida que desemendou,

e nos deixa desencontrados?
Choro e rio, feito avô emprestado,
do sentimento deste amor, que ficou...

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Mirar o mundo



"Você é um ser muito satisfeito!",
diz, um outro ser que olha,
e sonha, e entre tantas escolhas,
não concorda com este meu jeito....

"Quem ri demais, vai chorar muito..."
Diz um sujeito rabugento,
que acha ruim com os barulhentos,
e já se perdeu de seus intuitos...

Se viver a vida for chatice,
chato pra quem fica e segue,
(que é todo ser que se percebe),

chato pra quem curte, na velhice,
o olhar além em tudo tudo,
jeito único e eterno de mirar o mundo...

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Enquanto for instrumento


Quando for indiferente
este vento, seu ruído leve,
seu peso eterno e breve,
não haverá porque ser gente...

Quando a vida em labuta,
não for estranha, inóspita,
e o olhar for das órbitas,
onde cada olho se evita,

será, penso, tempo de ausência...
Tempo de ida pra além,
disto que vejo, vocês veem,

de se re-fazer em inocência,
como um vaso que se plante bem,
instrumento da própria essência...

terça-feira, 25 de julho de 2017

Tão bela


Um sabor nos lembra
outro calor que foi
num tempo que nem dói,
mais, mas ainda esquenta

o coração, da gente
como fosse fogueira,
e se, se der bobeira,
tudo vem novamente...

Que os sabores guardam
vivermos em aquarelas.
Muitas cores e telas,

muitas chamas crepitam,
tantos gostos palpitam,
nesta vida feia, tão bela...

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Disto


Disse ao jardim: se esculpa
de flores e granizo,
de achar e perder o juízo,
do que nos liberta e culpa...

Disse ao mosteiro: faça!
Tanta festa e diversão,
pra quem quer se fazer são,
e beber da santa arruaça...

Um sopro se deu no céu,
e vento se fez em cheiros,
em gostos de pimenteiros,

em alegrias de escarcéu,
pra me encontrar por inteiro,
nos meios disto que é meu...

domingo, 23 de julho de 2017

Estribilho


Somos irmãos de leite
lactosamente dados,
matriarcamente irmanados,
nas dores e deleites...

Canções se prantam,
ou se riem em caldas,
em rugidos, palmas,
e fraternando-se, cantam...

Eu visto um estribilho,
como um peixe, ao mar,
como o pássaro de ar,

pra me fazer do chão, filho,
filha da terra que amamenta,
e a toda vida, nos sustenta...

sábado, 22 de julho de 2017

Vela/menino


Quando o vento
cantou lonjuras
cheirou pinturas,
outros avistamentos,

quem comigo vindo,
pintou-se tanto
que afogou-se o pranto
e se fez tudo lindo...


É assim cada dia,
dor de Sol que queima,
da cabeça que teima,

mas que é em alegria!
Como este sopro Divino,
enfuna-me, vela/menino....

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Afora


Muito embora
ainda haja tudo
eu, tenso e mudo,
intento agora,
é ser astuto
feito um matuto,
e ir embora.

Que o mundo é curto.

E não demora.

Os homens chucros,
dos tempos burros,
já vem
como quem devora!

E são eles que tem
as armas que destroem
a flor e o chão fecundo
aí pelo mundo
afora...

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Disto que canto...


Em cada ato, uma nota
de cada um se verte,
ou amarelo ou verde,
e por todo canto brota...

Nós somos meio e borda,
casca, recheio e fundo,
e qualquer parte do mundo,
nos pinta, enche e borda...

Assim, daqui e de lá,
volto ao ponto de encontro,
em que comigo desponto,

e sigo, feito o doido que há,
nas horas do desencontro,
nas pontas disto que canto...

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Lampejos


Um, sigo e faço,
e esta vida me diz:
"Aperte o passo,
seja feliz..."

Outro, venho e vejo,
e entre outros tragos,
e Trigos e seus bagos,
lambo seios e desejos...




Um e outro velejo,
neste barco encorporado,
cantigando ensolarado...

Outro e um despejo,
e colho como encantado,
da vida cores e lampejos...

terça-feira, 18 de julho de 2017

Vindouro


Pelos cantos, soou,
pelos meios e fins,
altas árvores, capins,
e pelo que canto e sou...

No brandir da pena,
que delineia sons,
dispõe letras em tons,
e é feroz e serena,

tem se cantado dores...
Existe uma tristeza
que nasce da clareza

de ver pisadas as flores...
Mas sabemos de certo:
é porque o vindouro está perto!

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Perfume e cantoria

Viva Dércio Marques e seu legado

Um vento deixou cheiro,
um mato deixou flores,
um caminhos, dores,
um Mar, mundo inteiro...

Uma claridade cores,
uma escuridão, tons,
um menino tantos sons,
um coração, amores...

Eu me deixo e fico,
assim como canto e vou,
no que vai e ficou,

no que durmo e palpito,
no canto que não terminou,
no Menestrel bendito!
 

domingo, 16 de julho de 2017

Me escambo!


O que flui em mim,
do mau, distante pior,
anterior e melhor,
tem sabor carmim,

cor de querer novo,
cheiro de tempo,
tato de vento,
dor de romper ovo...


O que vem e vai,
de meu peito velho,
é no fundo, espelho,

me escorre e cai,
enquanto me lambo,
e por mim, me escambo...

sábado, 15 de julho de 2017

Dia novo



Um cantar importante
nasceu nas galés,
quando atados mãos e pés,
estalos de chicote cortante...

Era e é, um canto
de liberdade pra viver,
plantar, sonhar, colher...
Se ouve, e ouvia em todo canto...


Menino jogando bola
menina brincando de ser
o que for e quiser,

sons de Harpa e Viola,
tambores que vão tecer,
e ver, dia novo, nascer...

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Do que me veste


A gente anda e gira,
dança pelos trilhos,
se espanta dos brilhos,
se engana, e pira...

As vezes para e pula,
se volta e corre,
voa, cavalga, morre,
e quando nada, se molha...


Nas manhãs, espera,
que o dia traga mais
do que nos satisfaz...

Mas, esta vida quimera,
se põe entre eu, e este
que visto, e que me veste...

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Mãos


A própria vida
se construiu pelas mãos.

A imagem Divina,
se mostra cheia de dons...

Quem do trabalho vive,
segue pelo que faz,
em cada mão sua, traz

a Fartura que nos redime,
a amplitude do mundo,
a comida do chão fecundo...

E havemos de ver tempo vindouro,
em que os trabalhadores
donos do mundo sem senhores,
nos repartamos os tesouros...






quarta-feira, 12 de julho de 2017

Luz do dia



Se sento na terra,
centrado e liberto,
arrasto o incerto,
que de tudo berra...


Tudo grita: voar!
O cheiro de sem fim,
os corredores em mim,
seguir a me procurar...



Pois que na terra crua,
feito o Lobo e a Cotia,
Anta, e o que ali corria,


corre à Luz da Lua!
E de mim e de tudo vertia,
e vertem versos, Luz do dia...

terça-feira, 11 de julho de 2017

Somos



Na arte da guerra,
a única arma eficaz
é a antagônica Paz,
que pode reinar na Terra...

No meio do fogo,
funciona a ausência:
alimentar a ciência,
e por água no todo...

Aquilo a que nos opomos,
não será de nós
nossa pauta à sós...

Pois que nos compomos,
do que vemos e falamos,
comemos e somos... 

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Além


Há um jeito,
em que olhando,
a gente de pertinho,
assuntando direito,
os contornos feitos,
as dores de espinho,
bem-quereres desfeitos,
e eternos carinhos,
desassossega-se o peito,
cantigueia-se lânguida,
feito inacesa lâmpada,
em ofício de escuro e mal feito,
a alma em seu ser sozinho...

Há um outro também,
em que olhando por tudo
se vê que quem,
cantou, pintou, dançou,
se deu aos mudos,
queimou-se além... 

domingo, 9 de julho de 2017

Benvindo


Quem é estrangeiro
em qualquer lugar
neste planeta de vagar,
em qualquer paradeiro?

Quem será de fora,
se nasceu aqui,
Ciprestes ou Pequis,
Taigas, ou Amoras?

Todo ser nascido,
nestes quintais do mundo
sobre os mares mais fundos,

antes é, por ter recebido,
este chão farto e fecundo,
onde todos são benvindos...

sábado, 8 de julho de 2017

Pelo chão


Sempre pra si,
pro ele, que o habita,
e a mim, e palpita
da sensação por si...


Sempre o meu,
o hábito inalado
do hálito exalado
do que me pertenceu...



Por isso, a dor
de criança sem ter
o de brincar e comer,


e mães sem ter calor
sem casa e pão,
jogadas pelo chão...

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Alegria vindoura


Da janela vi a cor
das horas das matinas,
eternidades repentinas
e tudo que mais for...

Nestes dias angustiantes,
das mais sérias brincadeiras,
instantaneamente, certeiras,
aqui e em palcos distantes...

Sei sem saber, que o jogo,
é este em que navego,
mais auditivo que cego,

evitando o calor do fogo,
o frio da água, a secura,
já escuto a Alegria vindoura...


quinta-feira, 6 de julho de 2017

Tanta


Sabe um canto,
que nem seu
nem de ninguém?

Corre um pranto,
um que se perdeu,
e sempre vem...

Eu me visto de acordo,
e cubro de plumas,
Samambaias e espumas,
os des-espaços do corpo...

E uma sanha se canta,
em velhas canções e sinas,
e nas beiras verdes meninas,
do rio, est'água tanta...

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Fogo


O eterno se apresenta
em cada história, e dia...
Asas de Baratas e Cotovias
voam a história do planeta...

Cascas de laranjas e ciscos,
ventinhos daqui pra ali,
crianças fazendo xixi,
crescendo à olhos vistos,

e minguando de velhice,
nesta vida que floresce,
em tudo que verde cresce,

de tudo que já se disse:
cachoeira que se precipita,
do fogo que em nós crepita...


terça-feira, 4 de julho de 2017

Cantilências


Cantiguei em mim
incelências a um ido
ativista partido,
neste dia de fins...

Como a barra
do vestido que lambe
o chão que te esconde,
pois te amarra...

E serei solidão, vasta
a terra por caminhar
o espírito, que é vagar

e a eternidade, que nem basta
e a tristeza sem olhar,
o olho que vê, sem mirar...

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Estrela distante


Manhã fria, dentro
e fora, e por todo
lado que me entrego
sinto o vento...

Eu nunca soube
ao certo o nome,
do bicho que come
o tempo que some...

Imagino seu vinco,
seu apetite grande,
que à barriga expande,

e mistura dente e bico,
e canta canções azuis,
e inspira terror e Paz...

domingo, 2 de julho de 2017

Rumo


Um pedaço de mim
sobrevoou-me no tempo,
e, inexatamente desatento
pude perceber, por fim,

que mesmo viajando,
ou saindo, rigidamente parado,
pelos céus voando pousado,
nós somos o Divino ventando...

E o vento em nós nascido
amarra a vida em toda forma,
emana em centros e bordas,

no incenso da brasa vertido,
na delícia que transborda,
no rumo, que tomado transforma...

sábado, 1 de julho de 2017

Assalto


O silêncio há de ser
uma benção infinda,
que a quem o escuta, brinda,
Paz, em rio, a correr...

O espaço pra se criar
em si uma assuntação,
cimento da criação,
parece se minguar,

e a Poesia grita alto...
Mas, quem há de ouvir?
Há enlatados à brandir

uma canção sem sobressaltos,
sem alma nem sentir:
Silêncio, ido em assalto...