terça-feira, 30 de setembro de 2014

Enfeites do ar


E eu, nada mais era que as horas
com e sem honra em que, ávida,
a vida se impunha, e hoje se re-valida
e mastiga, após muitas lambidas sonoras!

Eis, meus senhores e senhoras, a vida!
A alegria de comer dela, e por ela,
ser deglutido, e em tudo, o sentido nivela,
e traz à tona a maratona... E ela? Nos intimida?

Nada! Corremos ao raso, secamos os movimentos,
Nadamos no seco do divertimento de andar,
voar, plantar, ver nascer, subir montanhas no ar

e nas infinitudes dos pavilhões, deste peito-vento,
achar as linhas que não prendem, mas soltam,
Pandorgas, Pipas, Papagaios, aos seus voos voltam....

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Gratuidade


Subitamente, me encontro em plena alegria!
Como fosse que a manhã raiasse,
e cada verso subisse a ladeira e cantasse,
e o Maracatu troasse Loas de um novo dia!!

E isto, sem razão nem aflição ou gastura:
Apenas a mais singela e desenvolvida
certeza de que antes de tudo nesta vida,
cantar a beleza da Luz do Sol que nos apura...

E hoje, nas beiradas da de hoje jornada,
vou ao encontro do destino, que há de me dar
tantos sonhos e alentos quanto eu hoje sonhar,

e eu aproveito e sonho. e sonho em disparada,
como alguém que corre no campo, pra chegar,
e encontrar em casa o que faz que o chamemos lar.


domingo, 28 de setembro de 2014

Do velho, criança



O vaso, o caso, o desmedido acaso
que faz o que precisa ser compreendido,
ser deixado de lado, feito um não-pedido,
lobo perdido, ser cônscio exaurido de espaço,

de onde venta, o ar que se faz e desfaz inescasso,
pois que o vento que sentimos são ondas de energia,
(que nós pensamos ser o ar em arrelia),
mas é motor de tudo, em tudo e nisto que faço,

E cavalgando a alegria, meus pés nos estribos,
apoio e leveza, vento que é montado e monta,
e alimenta e sacia e por vezes sem conta

salva o dia, molha as plantas, abraça amigos,
e canta docemente nos ouvidos um velho mantra:
"Gentileza meu amigo, faz do velho criança"

sábado, 27 de setembro de 2014

Que a tanto tudo recomeça


Um velho me vejo, desde tanto,
tanto, pranto imã e desaviso,
força Xamã, Hortelãs e Narcisos,
Begônias, Tulipas, Laranjas crescidas no Guano...

E eu passaredo, passarim que voa, vive, fala,
canta um canto sem precisão,
sem certidões, vastidões e antemão,
invento caminhos nunca pensados no ar da sala...

e de fora da sala,
passarim preso no mundo,
querendo voar universos vagabundos,

mas do querer ninguém me cala,
nas voltas antes que sempre anoiteça,
sempre amanhece e tudo mais recomeça

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Um canto Bem-te-vi


A gente olhando, os rochedos
parecem invencíveis, mas a água neles vertendo
é o mar que os desfaz nos instantes de seus milênios...
A gente olhando, os rochedos desde os meus medos...

Atente ao espanto que causam torpedos,
ou esqueça, mas siga os evitando.
Os mais irresistíveis e decrépitos segredos
deste nosso enredo vamos tirando...

A escolha da beleza da vida é farta.
Cada pingo do infinito ao redor, daqui,
dali, de tudo que se verte, verdes pequis,

cantos encantes Sabiás, e a Solar sabedoria lagarta,
e a basilar fisiologia que recebi,
pra sonhar, olhar o belo e o canto Bem-te-vi

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Viracambota


Eu fiz um desenho
sem cenho,
"sombrancelha"
como se diz...

Eu era robusto e pequeno
veloz e sereno
"cambalhota"
alguém já diz...

E eu me fiz Viracambota
sem botas
perna torta
porém feliz...

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Viola


Uma velha Viola, em sua glória,
em sua estada musicante no tempo,
mandando-se em encantes e lamentos,
em vibrantes batidas e ponteadas histórias...

Uma Viola que se é nas trocas,
nos encontros entre almas a quem ela,
é que toca, em suas encordoadas janelas,
que se abrem em melodias e troças...

E eu, perto dela, nada, nada, nada...
Feito o mar ante o Universo,
gigante e ainda pequeno e indefeso,

e nas vitrines que são esta minha estrada,
eu viajo montado nesta velha Viola encantada,
e distâncias sem fim, além de mim, atravesso!

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Um dia


Viver,
é uma aventura perigosa
e insensata...

Se a gente tivesse 
sensatez,
acho que nem vivia...

Nem ouvia a gargalhada
sem virtudes
e impensada

nem conhecia a troça,
a roça, a moça,
a enxada...

Pensando bem,
a vida é toda desmedida,
desregrada...

(e quando saio, penso
que não é viagem,
se já sei o fim da estrada...)

Se a gente tivesse ideia
não perdia
nem um dia
nem nada

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Alecrim brilhante



Alecrim, alecrim brilhante
Lua nova a brilhar no céu
Conta o dom claro deste instante
O alecrim, o infante
E a mãe do céu

Na Belém, que é daqui distante
O menino Jesus nasceu
E fugiu da espada cortante
De um rei delirante
Desafiou o céu

De Deus a família retirante
Num riachinho que apareceu
A mãezinha delicada lava
A roupinha rara
Do menino Deus

E o alecrim, que era sem cheiro
Suas galhinhas ofereceu
Pra mãezinha
Pendurar a roupinha
Já bem limpinhas do menino Deus

E o Divino perfume das roupas
A mãezinha ao alecrim deu
Um perfume pra todas roupinhas
Das criancinhas do Reino de Deus

domingo, 21 de setembro de 2014

Da natureza do vento

marisbrasil.wordpress.com

Não havia vento, o ar parecia esquecer
sua natureza de ir e vir, e nada se via,
e a Lua mostrava sua face clara e fria,
e a noite era quente como só o dia parecia ser...

E entre nós, ninguém parecia que entendia,
ninguém sabia mesmo a razão desta estada,
como fôssemos jogados pelas ondas, mais nada,
e nas vagas, avistar a velha Luz que nos luzia...

Mas, quem passou a vida embarcado, nada?
Como se achar com o mar sem o madeiro,
do barco, lar e largo onde eu caminheiro,

viajo, pelas águas que cercam terras encantadas,
terras lindas deste mundo lindo, pra me lembrar de dentro,
quando o próprio vento parece ter esquecido seu movimento...

sábado, 20 de setembro de 2014

Tradutor mudo


O que canto, então,
neste canto de inteirezas miúdas,
onde me exalo em meus ventos de fuga,
ondas da inexaurível imensidão...

O que sou, então,
é o que canto, como as indefectíveis rotas,
onde as horas encontram vagas e brotas,
a vida, a mais múltipla solidão.

Vou traduzindo em linhas.
Apareço nos momentos de inusitância,
como o velho guri, carente de permanência,

Que todas as criaturas são sozinhas,
e estão juntas, no carrossel de tudo,
este meu canto é só um tradutor mudo.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Manhã de brilhos


Uma manhã de Sol, sombras e brilhos
a Primavera que se faz perceber,
nas encostas colinas, subir, descer,
e o verde que se rebrota em brotos-filhos,

em Bambús, Begônias, Betaliscas e Brocados,
Bacarízias, Betiltades, Calixtas e Hortelãs,
cada planta me espanta e no Caramanchão das rãs,
visto as levezas das Prússias, azuis repicados....


Uma manhã de calores, anunciando chuva,
anunciando velas no vento da Prosperidade,
feito a mais secreta e mais revelada das verdades,

feito a mais singela e eternizada bebida de uvas,
que o nosso modo de viver foi transformando,
em jardim de sonhos, o doce, o idílico gerando....

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Esperança


Aqui, neste lugar, Cerrado em que vivo,
Primavera quer dizer: "Vigor da esperança"
quando a seca até o céu da boca alcança,
mas as plantas resolvem verdejar-se de motivos...

O dia se esquenta, o Amor, pelo que é,
se re-inventa, se re-planta em caminhos,
espinhos, tantas flores e tanto, tanto carinho,
como se o infinito descansasse seus pés...

Como se o eterno não quisesse ser sozinho,
e criasse Árvore, Papagaio, canastra e Jiló,
e Sabiás, Juritis, e lindos Jaguares e Curiós,

e aqui, onde o chão tem pedras, as águas, carinho,
e a promessa certeira da chuva fizesse florescer,
só pela confiança que a vida existe por ter.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Com o que me condiz




Este copiar que não diz
do que disse a sombra,
do que predisse a lombra,
que cada um, pode, da própria raiz

Beber da seiva que salva!
Ajuda a salvar! Dá força!
Dá ar ao Gavião! Saltos às Corças
Mares ao Atum, ao velho a testa calva...

Pois que na inexatidão das marés,
os céus nos dão, água que desce/sobe
a Lua clareando tudo que pode,

é que alguma coisa n'algum canto é,
´pois que só um copiar não diz,
cada um, sua jornada, com o que lhe condiz...

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Tu vês


Dileto amigo,
instante de encontro, vigília,
e quanto, se digo, e quando?

Onde nas escapadas desta nossa ilha?
E qual o tamanho do espanto?
E tinha gente amarelando?

Veja: É Deus e Tu!
Nada além, de tudo que existe,
que tudo que existe sempre está além, e insiste,
e toca o verbo na vitrola azul,

que é o céu, que se cobre de nuvens,
se enche de almofadas pra nos ver,
e assistir, de lá que é cá e poder,
E o Poder, céu azul, lindo e nú, Tu vês!

domingo, 14 de setembro de 2014

Alegria das vitórias


Antes das horas.
No tempo das vidraças,
nas ruas, campos, quartos, praças,
plantas, prosas, cantigas de dentro e fora...

Lá no passo, na vida que corria,
na sina que fervia, antes de tudo,
antes dos muros, cantigas de absurdos,
que separam a gente do que arde e ardia...

Antes do que parecesse eterno,
atrás destes minutos em que a angústia
monta suas trapas, matas, minúcias,

e apenas a letargia que faz do mundo inverno,
e mostra a cor da pedra de nosso rochedo interno,
de onde chegará a era da alegria das vitórias...

sábado, 13 de setembro de 2014

O mesmo e o outro



O Sol é sempre o mesmo,
e todo dia novo, sempre quente,
sempre frio, ausente e aqui incessantemente,
o céu, o ar, a lida eivada a esmo...

E nas dobras de cada esquina,
re-invento o motor, o modelo,
o labor, a lamúria, a textura à pelo,
neste cavalgar sem zelo nem estima...

Mas que antes de qualquer coisa, quer,
seguir, fazer fluir, voar a elibada preguiça,
cantar a celebrada e tão linda presença mestiça,

que nesta nossa terra faz florescer,
uma alegria insuspeitada e castiça,

desta nossa certeza interna e postiça...

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Pio de novo


O novo atende perpetuamente, ao chamado,
nunca feito, nunca dito, mas esperado,
feito um filho de quem o brilho antecipado,
viesse na mais escura noite, claro anunciado,

assim o novo, este filho espevitado brinca
da alegria mais pura que só criança faz,
que só criança estica o dia além da vinca,
que o Sol, de tão poderoso, à Terra traz...

O novo me fura a estrada, pra chacoalhar,
rompe as barreiras das represas,
canta o velho, feito novo às avessas,

só pra, do velho sabor, poder lembrar,
e traz desafios e rebojos, e noites ao luar,
onde o frio e o encanto encerram suas pressas...

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Universo


O Universo antes nos une,
antes nos versa dos assuntos,
que em tudo, tudo reflete o mundo,
que em cantos nos cora e resume.

O que é unido tem a essência!
As vezes se perde, contra-corre,
vai de encontro às pontas do mata-morre...
Mas o estado de real estar é a consciência.

O Caos canta suas cantigas anti-compasso,
um estalo, um vazio, um sem fim de brilhos,
um escuro frio, um calor de queimar ladrilhos,

O Universo em tudo é aperto e espaço,
os galhos na floresta, que no chão macio,
vida que se cria pela morte dos galhos filhos


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

De onde tudo partisse


A ginga do vértice do vento.
A soleira da porta. A pena,
que voa solta na brisa pequena,
na lista da antena da mosca do desalento...

E nas voltas do redemunho,
poeira, arco-iris na lama que sobe,
nas camas onde se come e bebe,
nas mesas em que se dorme sozinho...

Eu voltarei, como um Tordo devolvido,
ao ninho de onde nunca saísse,
ao vício de onde tudo se sentisse,

e cantarei canções das terras de olvido,
lembradas no tempo, onde o vento nos disse,
e plantadas no centro de onde tudo partisse...

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Pobre enredo


E toda a cantiga, era vasta e rubra,
e eterna e espúria como a peleja,
e liguenta e firme como bolo com ameixa,
com a cobertura que o sonhar cubra...

E por todo o canto este cantar anuncia,
este apertar silencia a certeza esperta
despertada pelo atento olhar que espreita,
e segue o movimento da vida em sua correria...

E eu até correria, se não tivesse já sentido,
o cheiro da falácia que a sequencia mostra,
mesmo quando o visível não o mostra,

pelo nariz que cheirou outros tempos pode ser sentido.
Pela mão que já viu quanto pode encobrir tudo o medo,
que há de se denunciar por si a farsa, tão pobre o enredo...

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Com o mar


Soprei minhas próprias velas
como fosse eu meu próprio moinho,
como se o ar ventasse amarrado em espinhos,
cavalgando o céu apinhado de estrelas?

Enquanto soprava, retesava cabos,
acochava escotas, retrancas, cabrestos,
como se meu barco, eu, um bicho preso,
em mim pelos cabos deste eu barco.

E me fiz ao meu largo
pra além das minhas baias,
os mais altos mares, eu seguia

e sigo hoje veleiro trimado
neste rumo de estrelas e paz,
e meu velho barco com o mar se faz...

domingo, 7 de setembro de 2014

Mundo canteiro


O mundo é canteiro bendito
Aqui a beleza pelos cantos
Floresce em brincos e espantos
E florestas e luas e benditos

Nasce em florzinha mais amarela
Em flor mais roxa, azul, açucena
Olho botão grande, pétala pequena
Pedaços de cores outras daquelas

O mundo é festa em palheta
Cores de inusitância variantes
Das cores, tons de nunca antes
Nem mesmo mais enfeita

Que as cores em tudo que há
E morre, e nasce e cria
Em todo lugar.

sábado, 6 de setembro de 2014

Pra fazer sentido








Eu me calço,
pra andar no chão de pedras,
pontudas pedras da rebeldia.

Em meu próprio peito,
um avassalador vintém,
sopra as velas de um aniversário falido.

Em tudo que lavro,
encontro-me com o sentido perdido.

Em tudo que calo,
nem falaria mais se me fosse permitido.

Eu calço meus freios, e não falo.
A dor não deve doer mais,
nem que seja pre verter a calma,
nem que seja pra fazer sentido.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Arco de flechas-poemas


Eu mesmo um arco,
de onde cada flecha-poema 
se atira, equilibradas nas penas,
eu mesmo? Apenas fico ao largo....

Mesmo sendo eu quem largo,
mesmo sendo aquele que à flecha manda,
silvando seu esguio corpo, encanta,
e mata! Mortal! Quem mato?

Eu mesmo somente de onde a seta
vai em busca de si, curiosa,
furando o vento assassina furiosa!!

Mas quem vai é ela, fatal e abjeta,
de longe, choro sua obra filial,
minha flecha-poema-filha, mortal...

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Sal?


Eu verto a cada momento, um sumo!
Não sou o mesmo em toda esprimida,
sou Super Suco, em liquidificada vida,
cada lida, cada momento em que sumo,

me encontro no topo de ver o resumo
e lamber o limbo libidinoso e dolorido
como se o vaso plantasse o corpo florido,
e cada flor uma cor e um novo rumo!

Eu sou o que ainda não posso
mas possuo valor, galhardia,
como um sóbrio sem alegria,
um insano sábio, pra não ser insosso...

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O poço Armorial


Ecoa em meus ouvidos,
como se visse agora,
como brincasse com as crianças do lado de fora
ecos de ondas destes mares de olvidos....

Que onde por vezes está o esquecimento,
também se encontra a presença,
como se o tiro não mais uma sentença,
mas o reflexo do que mais em mim sentido....

E em escassos e lindíssimos sentidos,
venho cantando em busca de um frescor ancestral,
nestas ondas de tanto cantar em minha vida usual,

e se não o vi ainda, é porque moucos ouvidos,
fracos sensores pra o que é além de normal,
mas bebo água é deste poço Armorial....

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Porto da Consciência


O dia passa, e vejo na correria,
as vezes, numa suja vidraça,
ou quando mordo a mordaça,
ou então me lambo de alegria,

em mim, que o tempo se espraia...
Como a poeira nesta seca estrada,
como a Luz do Sol na poeira filtrada,
como a ondinha, na beirinha da praia...

E este espraiar do tempo tem me mostrado,
que o melhor é saber sentir o vento fresco,
a alegria fria da água que respinga nos cestos,

neste barco que temos por emprestado,
e com que cruzamos o dia, os dias, a existência,
com a fé de um dia chegar no Porto da Consciência.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

E além


Distante o vale onde a chuva

banhava, e além...


De cima de cada pedra

espiava, e no vento lançava,

com a cara mais brava


que a Luz do dia, em suas

perfeições

permitia,



e era em mim que ardia

e meu peito bradava

a mais fina alegria!