quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Prazer partilhar

Espero nunca me cansar de mudar,
De ser novo a todo momento que pulsa,
Pois pula, pulula em meu peito a repulsa,
De pensar um dia, em não mais pensar,

É certo que tudo que justifica a vida,
Faz o eterno movimento, ondas do mar
De ida e de volta, redemoinhos no ar
Onde se projeta, constrói, e dói a lida.

Que não tem que doer, mas ainda não sei
Tudo que tenho que saber pra não deixar
A dor fazer seu ninho no meu caminho-lugar

E que haverão flores sem espinhos, eu verei
Pois o tempo novo de tudo começa no começar
No partir pela estrada, rumo ao prazer partilhar

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Vencerá!

Destas finezas, que compõem minha alegria,
Com frequência surgem nas copas das sucupiras
Bem-te-vis, tucanos, carcarás, sabiás e saíras,
Pintando aquarelas nesta seca que angustia...

Toscas e soberbas cascas de pequis e barbatimão,
Semeiam entre as areias do Cerrado o cinza colorido,
Que aquiesce, encanta, e permite se perceber o sentido,
Do que é tão lindo, e superior como a firmeza do chão.

Aqui, então, nesta parte do mundo de tanta exuberância,
Me sento ao pé da bacaba e sonho tempo que virá,
Em que antes de tudo o que é mais sério e profundo fará,

Sermos nós o encanto que sentíamos quando crianças,
Pois que o belo em tudo que se firma sempre acontecerá,
E dará a nós o sentimento de que, ao final, o amor vencerá!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Ninho do que é bonito

Me encanto com meus contraditos,
Contra meus favoritos temas de ser
Encontro-me com a leveza do infinito
No que acredito esteja além de parecer.

E me deixo nas águas do mar sem fim
Saio da praia, segura praia das areias,
Onde posso brincar com o que é ruim,
E levar a sério o belo canto das sereias,

O que seria, sinto, o despropósito anterior,
O sem sentido, ali em seu mais alto sentido,
Pois que este canto tem sido considerado inferior,

Como algo que não é verdade, um canto fingido,
Marcado pelo alarido da morte em seu esplendor,
Mas que em meu peito faz ninho do que é bonito!

domingo, 28 de outubro de 2012

Meu florir

Hoje se cumpriu a sina de manifestar meu ofício,
Eu cantei minhas canções em que me revivo a cantar,
Eu me dei pro caminho que constrói meu caminhar,
Nesta estrada de cantigas onde se faz meu viço.

Nesta noite, seu começo de encantada cantoria,
Num lugar pequenino onde gente simples se alegrava,
Numa rua calorosa onde todo povo se encantava,
Dos encantos mais singelos, da mais pura alegria,

Ali, cantei, meu canto que me chega aos recantos do coração,
Onde nem o Sol nos tempos próximos se fazia luzir,
Ou o céu, nas voltas do vento, se fazia perceber na canção,

Ali, cantei meu canto de festejos de deixar o Amor parir,
Um tempo novo, de aconchegos, onde floresça a emoção,
Nesta cantoria de alegria, que cantei neste dia, meu florir!

sábado, 27 de outubro de 2012

Sonho

Sonho passar aqui meus dias tendo a utilidade
De um besouro que se aprofunda na terra,
E pra ela leva o presente que o esterco encerra,
Na vida que se transforma em sua atividade!

Sonho em ser transformação e movimento,
Como a água que molha a flor na cascata,
Que molha os pés da Copaíba gigante na mata,
Enquanto ela lança folhas no baile do vento!

Sonho dançar a música que canta o infinito,
Nos galhos da Sucupira da janela da cozinha,
Que me ensina com sua graça o que é bonito,

Me ensina com sua leveza como ser sozinha,
Na imensidão do que é múltiplo e colorido,
Diverso e garboso, meu sonho que se avizinha!

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Enquanto perdura

O riso e o canto,
Em tudo que prezo, friso,
Sobre o chão em que me aperto, e piso,
Maior é sempre!... e as vezes nem tanto...

Aqui, nesta terra onde comungas
Comigo, e com tantos da esperança
Em tempos vindouros, onde as crianças,
Falarão com respeito, sem medo, dos Kalungas....

E desta nossa peleja há de brotar
Mais que o que se veja pelas ruas
Neste nosso, ainda de tantas agruras,

Pois sei que hei, eu, no porvir, de devotar,
Minha maciez ao fim das penas duras,
Pois conheço que isto segue enquanto perdura!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Mansidão

Nesta cantiga, que canto nestes brados,
Sons graves, meus saborosos destemperos,
Saborosos pratos, provocantes cheiros,
Onde re-afirmo meu desejo de não ser bravo,

Porque o manso pode muito mais longe,
Pode caminhar onde o fogo sobe do chão,
Se alimentar onde o espinho preenche o pão
Vislumbrar Luz onde a escuridão tudo esconde...

Quero ser um com a mansidão do mar bravio,
Com a temperança graciosa do leão que caça
Com o equilíbrio devoto do louva-a-Deus num fio,

Que a perpetuidade da existência se sobra na sentença,
Que exubera na imponência com que passa o rio,
Que lava minh'alma, aprendiz da mansidão, sua presença...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O mar e meu amor

Eu sinto meu amor como o mar:
Está aqui, nestas palavras que escrevo,
Está no ato de carinho que me fez primevo,
Está na lindeza andorinha que cintila no ar...

Eu sinto minhas forças vindo deste amor
Como o barco que chega por fim ao porto,
Como o perfume que em tudo faz-se no horto,
Como o tempo que ventando faz frio e calor.

Eu quero me entregar ao mar deste amar,
Feito as marolas que de tão longe vem à praia
Como a manhã que em tudo sempre raia...

Eu quero ser capaz de feito pipa me soltar,
Sem fios, sem armação, mesmo que caia,
Pandorga, papagaio, no mar do céu, arraia...

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Que eu me sinta inteiro!

Caçoei de minhas forças,
Brinquei com meus sentimentos de lastro.

E não fui eu quem se deu o sentido lato.

E não fui eu quem percebeu o que era fato.

Pois o sentido maior da existência se dá pela falta,
Que a própria existência se nos faz quando a perdemos.

E o barco leve da ternura, que em nós perdura,
Deixar a maré, a marola, fazer seu movimento incessante,
E nada que de bonito no mundo se nos parecer interessante,
E só a sensação de desconforto for a realidade dura,

Aí, pode ser que sintamos
Pode ser que paremos.

Aí, este meu peito sem forças,
Com todas as suas forças,
Sentiráq e saberá o que tem que ser feito.

Quero viver intensamente meu paradeiro,
E que ele não pare, até que eu me sinta inteiro!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Nem quando morrem

Cavaleiros percorrem meu peito,
Num tropel de lanças, ruídos, ventos,
Procurando por sangue, soltos, sedentos,
E o encontrando em meu coração desfeito!

E nada, nada posso mais me permitir,
Que soltar-me as amarras da nau...

Deixá-la ir onde o mar se encontra com as dunas,
Onde qualquer vela se enfuna,
E o mar não é nem bom, nem mau.

Ali,
Posso me deixar, me permitir,

Como a flor de alivinha,
Roxa, pequenina, de um dia...

E nada além de ser e fazer, naquele instante, a vida mais plena,
É sua alegria,
Faz graciosa sua vidinha.

Mas os tais cavaleiros que me percorrem,
A pisam, e nem a vêem,
Nem quando morrem...

domingo, 21 de outubro de 2012

Encontrando

O que quero mesmo é chegar ao centro,
Chegar ao ponto onde se vê, o mais alto,
Neste monte onde eu desmonte meus sobressaltos,
Eu me encontre com o bom que tenho por dentro.

E neste lugar onde chegar, campo de serenidades,
Venho e vejo a larga medida do que é singelo,
Do que é simples, e com o eterno estabelece o elo,
E faz belo o que já foi canto amplo de deformidades.

E me sonho, vendo o vento me perfumando,
E fazendo frescas e suaves no Sol, as manhãs,
Como o lambari colorido na água de prata nadando,

Como a andorinha ligeira, linda, nosso ar costurando,
Como os jabutis pacientes, mastigando maçãs,
Como João-de-barro, eu, comigo me encontrando.

sábado, 20 de outubro de 2012

De todo traço de flor...

Com quase nada mais implico,
Não me replico, se não no que é isto,
Que à forma de um múltiplo misto,
É o que a todo dia aqui publico...

Nestas páginas, antes brancas, pálidas,
Doravante, deste instante em diante,
Haverá o que foi e será sempre mutante,
Que o que virá fará nossas noites cálidas.

E a calidez há de se transformar na cor
Colorindo o que foi branco em diverso
Universo de sabores, amores, multicor...

Múltiplo de todas as faces, amor e dor,
Reunidas em meu peito, de onde disperso,
O que penso, repasso, de todo traço de flor...

Pelo que ansiamos

Me posto aqui, diante deste espaço em branco
Pra me colocar em algumas palavras, me postar,
Diante do que a vida, ávida de minha lida pode me dar,
Enquanto insisto na jornada, velho besouro manco...

Insisto porque acredito que o final desta estrada
É o jardim onde o mal terá novamente sua essência
Trazida pra Luz, pelo grande poder da clemência,
E sua capacidade criativa finamente aproveitada,

Pra que o belo se traduza em tudo que vivamos,
A alegria seja o som do sino que soa nas festas,
E tudo que pensamos em palavras de Paz, traduzamos,

E o Sol do novo tempo em nossas frontes nós sintamos,
Seu calor transformador em tudo que em nós se manifesta,
Seja a luminosidade da eternidade feliz pela qual ansiamos.....

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Feito rapariga

Cantei minhas tão velhas cantigas,
Como os sonhos que se repetem
Com seus cheiros que me pedem
Pra lembrar das águas antigas,
Que corriam por baixo das pontes
Que passavam por cima dos rios,
Que aos sentimentos, vejo que tu escondes
Desde imemoriais sentidos vazios,
Como as estradas, do tempo, fios...

E minhas canções vem de desde então...

Vem como o sopro do vento,
Como o torpor que sucede o alento,
Como a vibração que vibra na lira,
Que ao menestrel dá sustento,
Que ao coração, na dança, gira,
E revira os olhos no excitante momento...

Vem minha cantiga,
Feito moça fácil,
Feito impasse difícil,
Feito rapariga...

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Fim da Revolta!

Não devo me furtar ao dever
De antes de tudo apenas aparentar ser,
Aquilo que, concreto ou abstrato,
Não for apenas parecer!

Não devo deixar que este grande dever,
Pela lente das penas do basilar padecer,
Ao estilo discreto, ou declarado,
Da dor, tais penas, me amolecer!

Pois, que se divago, doravante há de haver
Mais voltas das virtudes que trago,
Em todas as reviravoltas que fazem meu ser!

E só dois, ou mais, estragos extravagantes colher,
No cais das notas, prelúdios do que vago,
Das bodas com a Revolta que enfim, fim hão de ter!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Caminho do (meu) espírito

Cutuquei o céu de meu chapéu com a corda,
Da Lira com que me toco,
Viola que me arranca os tocos,
E cujo alarido, nesta longa noite, é o que me acorda...

Assim, lá, entre as núvens de ventania,
Pude me encontrar com as pipas,
Pude me estruturar nestas minhas ripas,
Que seguram as telhas, que seguram a chuva fria,

E assim, seco e seguro como uma folha solta na praia,
Vi a maré pouco a pouco chegando,
As ondas espumosas em seu bailado se aproximando,
Molhando-me as pernas com frio dentro desta saia,

E o som da Lira é o que me permite continuar a lida,
Latejando choros, canções multicores,
Lampejos de luzes de todos os sabores,
Na canção que este dia canta pra Musa comovida,

Minha Viola antes de tudo faz neste chão, sentido,
Faz em seus acordes a aproximação,
Possível, entre o que quero e o que é são,
Entre o que imagino e o que me é permitido.

Canto, então, assim, esta canção desprovida de razão,
Só se provém ela mesma do fato,
De que por si se existiu como antecipado relato,
Do que pode vir a ser minha capacidade de cantar pra este chão...

Pois que este chão é o que nos sobra de concreto,
E nele devemos realizar o antes determinado,
Definitiva tarefa de domar o indomado,
De meu, nosso espírito, antes torto, no futuro reto...

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Meu caminho sentido!

Nesta manhã, de flores de alegria, vejo,
E escrevo pra além de minhas letargias,
Os sonhos que exigem prática, todo dia,
Exigem força que vá além dos lampejos,

Com que sinto, na superfície, as composições
No mundo em que me fundo e re-componho
Na lida em que me ligo e me disponho
A caminhar pra entender e ver as situações,

Daquelas com que me visto, me habito colorido,
Das cores do alarido da certeza de não saber
Mas ver verter o novo até então não sabido,

Que se desenha neste caminho que temos percorrido,
Que se avoluma na esperança que ainda ousamos ter
Que em tudo que pulsa, e é quente, pode ser sentido.

domingo, 14 de outubro de 2012

Canto de me vencer!

Cantei meus caminhos em cantos de vento,
Em cantos de água caindo de cachoeiras,
Nas estradas, avenidas, ruas, praças, feiras,
Escarpas e pirambeiras, por fora e por dentro,

Em todas as águas, de todos os rios nas margens,
Cantei minhas sentidas pedras preciosas, minas
De diamantes, coloridas e sortidas imagens finas,
Dos sentimentos que canto por todas as paragens,

E no alto dos outeiros, onde vai mais longe,
Meu cantar a toda a garganta a trovar as trovas
Se encanta com a luz encanto da Lua nova,

Porque o que é essencial, antes do óbvio se esconde,
Na vida re-sentida em cada lida que se re-nova,
Que se re-valida na alegria de vencer as provas!

O final desta estrada!

Eu peço ao Senhor da Vida que me suporte,
Me dê suporte, me ampare nesta grande lida,
E sob a sombra das coisas por nós sentidas,
Ampare as dores que por vezes são tão fortes,

Que se apresenta sujeição de um qualquer sujeito,
Se encontrar com a sensação de que não dá conta,
Pois quando a dor sai de sua toca, e então desponta,
Tem-se a impressão de que ela nunca esteve no peito,

Mas, aqui, neste peito, ela sempre teve morada,
É parte integrante do que nos constitui desde antes,
Quando nossa vista inda não via a grande escada,

Que se apresenta ante nossos olhos, a nossa estrada,
Por onde nada mais somos que números caminhantes,
Mas que promete a Paz, definitiva, ao final da jornada.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Jabuticabeira

No fundo do quintal,
A jabuticabeira,
Na beira do Umbuzal,
Entre a laranja e a pêra,

Cantei que bem-te-vi,
Nos galhinhos da amoreira,
E nas flores do pequi,
João-de-barro, lavandeira...

Eh, eh, eh, eh, eh, eh,
Vida inteira,

Eh, eh, eh, eh, eh, ja
buticabeira....

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Deixar de ser fera!

Caminhadas, cavalgadas no silêncio:
O vaso da alma caminha como quem coleta
Pedras coloridas e sem cores, todas diletas,
Seletas de rócheos sabores, dispostas em fio:

O fio das pedras por sobre onde caminho,
Em busca do lugar onde chegar vá me trazer,
Pouso pro cavalo, e onde meu corpo descer,
Da sela, e repousar na terra feita em ninho.

Ali, meu dolorido ser em busca, espera,
Ser de novo força e disposição de longe cavalgar
Pra perto, dar-me de encontro com o fim da quimera,

Onde a beleza da vida possa se mostrar sincera,
Senso da imensa alegria de onde me acertar,
Deste lugar onde eu possa deixar de ser fera!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

As cores do sagrado!

Na bagunça do netinho que canta
Cantigas que ainda não compreendo
Cansaços que ainda me permito ir tendo,
Enquanto um sonho em mim se agiganta,

E se agiganta a alegria da festa que chegará
Quando o estribilho da canção se fizer
Quando o tema da quadrilha a nós der
Nossos coloridos pares com quem dançar

A dança de dois e de muitos, ritmo ensaiado
No terreiro e no galpão das celebrações da alegria
Na presença de infinita beleza no terreiro aluado,

Onde a fogueira solta calores e chispas pra todo lado,
E os Violeiros chamam a Musa com cantos da cor do dia,
Com os cantos que chamam pra terra as cores do sagrado!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O Conselho da Diva

As nuvens se vem e vão,
Num balanço que dá ao tempo,
Graça e molejo, necessários à exatidão,
Como é necessária à fecundação, o vento....

As nuvens desapareceram do caminho do céu,
Nesta manhã de claridade difusa, em outubro!
Fizeram do ar seu garboso chapéus,
E se cobriram no infinito acima de tudo,
Acima das vistas que podemos, aqui embaixo, no escarcéu,
Além deste tempo em que nos movemos, alegres ou sisudos.

E eu aqui, sem elas, onde por a cabeça?
Onde recostar meus sonhos,
Com um azul tão intenso, onde disponho,
Da fluidez delas pra que o divagar aconteça?

"Divagar, devagar",
Diz a Diva,
Respondendo minha ansiosa missiva...

O sonho é feito do mesmo que são feitas as rochas,
De que é feito o pó de que tudo é feito,
De que é feita a alegria de um colibri ao ver que a flor desabrocha,
De que é feito um chute que no ar ganha efeito...

"Divague devagar",
A linda Musa continua a sussurrar...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Velho coração meu

Acordei tarde, neste dia,
Nesta manhã de segunda,
De primeira lida da semana que se inicia,
Da lida profunda,
Que pelo exercício da esperança com alegria,
Se faz antes de tudo, fecunda!

Hoje, acordei tarde,
E era uma manhã de segunda-feira,
O primeiro dia em que o Sol na semana arde,
Em todos cantos e beiras,
Nos centros e bordas onde se ouve o alarde,
Da alegra de árvores e plantas rasteiras!

Hoje, no despertar, passarinhos,
Me lembrando que o infinito,
Canta seu canto tão baixinho,
Que poucos de nós sabemos o tanto que é bonito!

Acordei hoje junto aos meus,
Cercado de cheiros bons e netinhos,
Que nada, além de dar graças a Deus,
Pude fazer em meio a tanto carinho!

Hoje acordei
E a cor se deu
Neste velho peito em que ninei,
Este mais velho coração meu!

domingo, 7 de outubro de 2012

A felicidade, enfim, descoberta

As forças por vezes abandonam os braços,
Abandonam as pernas, o sorriso e a melodia
Da voz de quem costumava cantar todo dia
Do calor do corpo de quem se aquecia com abraços.

As águas que correm nas cachoeiras, no entanto,
Continuam seu curso, sem se preocupar com a cor
Que o dia pode em algum momento apresentar à dor
Que existe no colibri, no bem-te-vi, em todo canto.

Porque a dor nos acompanha, e por vezes nos apanha,
Mas infinitamente mais forte é a esperança que liberta
Aquele que diante do sofrido choro não se acanha,

E canta, pra acalmar o choro da criança, que mesmo certa,
Não tem permissão de chorar, e ouve que se chora, é manha,
Porque o nosso caminho há de ser a felicidade, enfim, descoberta.

sábado, 6 de outubro de 2012

Alto das Cordilheiras

Lá, no alto das cordilheiras que em meu caminho
Representaram o sofrimento e a peleja das ladeiras
Espero, enfim, encontrar-me com a cadeira
Onde possa recostar meu corpo cansado, furado de espinhos.

Ali, onde a fluidez das marés faz encontrar
A maciez da areia da praia, a leveza de ondas
Que acariciam o corpo acostumado ao barco que tomba
Na giganteza que vê meu barquinho neste alto mar...

Então, lá no alto daquelas cordilheiras pra onde velejo,
Vejo, muito, muito além do que já vi o Tejo,
Muito além do Cabo de tão boa esperança do Bojador,

O sonho de encontrar-me com a Paz que vem pra lá de qualquer pejo,
De qualquer beijo que já tenha me dado, de bom grado, qualquer amor,
De encontrar o Amor definitivo, mar de tranquilidade, carinho, calor...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Oficina de construir destino

O mais difícil da jornada é o passo seguinte!
Quando o que movimenta  o olhar é o desalento,
Quando se procura e não se encontra por dentro,
Dou graças por me restar o recurso de ser pedinte.

Porque peço mesmo a quem tem, que me dê a fortaleza,
Pra enfrentar em mim as feras de que me componho,
Pra suportar minhas feiuras quando ao Sol me exponho,
Pra encontrar o entusiasmo que nasce da grande beleza.

Pois, em tudo que está ligado à vida, esta beleza existe...
A formosura é condição inata do que aqui é vivo,
Venta no voo dos pássaros, na plantinha que resiste,

E, como no casal de João de Barro, um do outro cativo,
Quero me deixar cativar pela esperança que insiste,
Em meu peito, oficina de construir o meu destino altivo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Nossos abraços

A corrida pela vida as vezes dá dores no corpo,
As vezes dói a alma pela angústia da peleja,
Quando é sujeito afastar-se o que se almeja,
E o que é reto afastar-se pelo que é torto,

Neste momento, junto ao inexato, vejo a Luz,
Na forma da esperança que não perde seu caminho,
Na forma da flor que é mais importante que o espinho
Na Graça que é superior ao escuro que seduz,

Porque a certeza de melhores dias a nós propõe,
Uma candura que na leveza destes meus passos,
Abre campos, vales, outeiros, charcos e espaços,

Onde os rumos são pra onde o andar se dispõe,
E nossa fé nos leva ao exato impreciso dos laços,
Que nos aproximam uns dos outros, nossos abraços.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sentar à beira do rio e tecer o infinito

Enquanto tenho que viver comigo,
E com as coisas que só eu mesmo sei,
Devo conseguir forças, pelo tanto que andei,
E ando, e não posso me permitir o castigo,

De parar de caminhar, de sentar-me à beira
Da estrada como criança pequena cansada,
Que de birra, querendo colo, diz: "Mais nada,
Mais passo nenhum dou com esta canseira"...

O caminho não permite que não pensemos,
Exige que o tempo todo seja de atenção,
Que o destino para ser lindo, está nas nossas mãos,

E nós somos o único material que todos temos,
Pra construir as tais obras de tudo que é bonito,
Pra sentarmos à beira do rio e tecermos o infinito!

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Eu, sempre menino!

Enquanto aguardo, meu pensamento voa...
Pelo convés molhado pelas ondas,
Pelo vento que desde cima ronda,
Porque aguardo, mas não estou à toa...

E voa, com destino ao infinito azul,
Onde as gaivotas brancas nascem,
Onde os albatrozes, seus ninhos fazem,
Onde o eterno é, de norte a sul.

Ali, vejo meu espírito planar sereno,
Como a flecha do arqueiro, manso, zen,
Que do alto de seu cavalo reza também,

Enquanto a flecha pensamento de voar ameno,
Se faz um, com o alvo e escuro destino,
Meu pensamento voa, eu, sempre menino.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O caminho que me vive

Neste caminho que percorro,
Grito,
Voo, passo a passo,
Neste chão infinito...
Corro
Como quem teme ao erro crasso,
Teme ao não sentir-se bendito,
Ao não sentir-se livre do laço,
Ao não ver o mundo desde o alto do morro,
Onde é tudo claro, livre de embaço...

Neste caminho que me corre,
Nem a mais linda nota,
Que de minha Viola escorre,
Nem a mais solta batida,
Me seduz tanto quanto a lida,
Me encanta tanto quanto a volta
Da liberdade e fraternidade perdidas...

Este caminho é o que me vive,
Mais do que os sonhos,
Que fechados, tristes ou risonhos,
Nem sei se tive.