quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Andar


Vento bom
vem ventilar
mais limpo e fresco, um lar
cantado em todo tom,
aqui e em todo lugar...


Cheiro amigo
desta cantiga
que é mão amiga de afagar,
nova e antiga
ouvida pelo caminhar...


Chegar é água viva,
que lava, anima, ativa,
quem se dispõe a andar...

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Cantares


Um canto qualquer
do planeta, este chão,
ensina jeito e direção,
do modo que o pé quer,
que a alma sonha desavisada,
que os olhos vestem de mirada...

Os rincões todos do mundo,
mostram o mesmo
com cores à esmo:
Em cada, as formas de tudo,
no pequeno, jeitos do grande,
no mínimo o Universo se expande...

Eu sendo aqui, vou pelos lugares,
vento os sólidos etéreos,
cimento meus mistérios
em (sempre novos) cantares...
 

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Imensidão


Choro as vezes até
sem vontade, sem rumo,
sem hora, Bezerro sem prumo,
sem Vaca, leite, café...

Canto as vezes sem pressa,
rápido feito Coelho assustado,
fatal feito cutelo afiado,
insipiente comida expressa...


Não sou muito mais que pouco,
nem vi as sete luas,
nem caminhei sobre virgens nuas,


mas espero gritando rouco,
as asperezas da solidão,
as incertezas da imensidão...

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Surpresas...


A vida cria laços incríveis!
Onde parecia (só) haver secura,
um rio aparece sobre a terra dura,
e rega sonhos impensáveis...

O dia, além das aparências,
sopra-se no sopro mais leve,
na presença mais indelével,
no gesto de pura decência...

Eu só faço celebrar!
Não consigo entender o movimento,
mas me deixo levar no vento,

pra ser este meu cantar,
que há de estar aqui dentro,
e fora em todo lugar!

domingo, 26 de novembro de 2017

Infame


Onde tenho caminhado
neste mundo de solidões,
pequenezas e imensidões,
tenho visto, desconsolado,

que, por mais que um sofrer,
eu possa ter acumulado,
sou indecentemente privilegiado,
e nada sei mesmo do viver...

Ver meninos com fome,
com a idade de meus netos,
é um documento completo,

de que este mundo não tem nome...
Mesmo tendo (muita) comida e teto,
Ainda convivemos com esta realidade infame!

sábado, 25 de novembro de 2017

Capaz



Um evento nos cabelos
mexeu com meus dedos,
me mostrou incríveis segredos
e a nós, se revelou em desvelos...

E em murmúrios deslavados,
em tristezas meninas,
apertando crianças nas sinas,
espremendo seres maltratados,

este mundo de maldades se faz!
E eu, inútil choro contumaz,
apenas me sento e sigo.

Não melhor, nem mais em Paz,
apenas lacrimejante mendigo,
me perguntando: do que sou capaz?

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Tecer



Quando não havia
mais que sonhos no vento,
insensato fui fazendo 
materialidades dia-a-dia.

Então foi-se costurando
folhas na chuva costeira,
cores das horas primeiras
e o incrível, se apresentando.

Sou como folha de palmeira,
que dança no ar e no tempo
que encanta e passa o sofrimento.

Em tudo eterna e passageira,
pra sempre na Terra é pensamento
pra agora a alegria tecendo.


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Saber amar

Resultado de imagem para andar sobre as aguas

Quem puder voltar
antes de ir, se adiante
como a sobra revelante
ou o revés, de ficar.

Quem quiser perder
antes de dar, se lembre
que alguém contente
pode tudo verter.

Quem andar sobre o mar
passe por sobre a lida
lamba-se das feridas.

Não se deixe afogar
nem espere guarida
mas, luta se souber amar.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Verde e Carmim


O manto de estrelas
que cobre luminoso
o anoitecer trevoso
esconde e acende as velas

Abre e fecha trincheiras,
solta e desfralda,
garante o que falta,
o brandir das bandeiras.

Que farão de mim
e de nós, caboclos 
e caboclas, aos poucos,

Um muito, por fim...
como sempre, contumaz e solto,
sigo por esta terra, verde e carmim.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Uma viagem

Uma viagem pros antigos
demorava meses.
As pessoas passavam dias, reveses,
e em todo canto faziam amigos.

"Uma viagem", é a forma,
como entendo a vida.
A passagem alegre/sofrida,
que a cada um conforma.

Esta viagem, que sigo
agora nesta jornada,
não é sofrimento, nem nada,

nem tudo, ínfimo infinito,
mas parte de uma caminhada,
que eu sigo comigo...

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Canção pra um senhor no abrigo


Um velho, no abrigo,
junto à freiras, canteiros,
vivendas de mosteiros,
canções de amor e perigo,

conta de mim, adiante,
atrás, dos lados,
nas margens, dentro dos lagos,
canta canções infantes...

Um ancião, no peito,
bate corações em Valsa,
ou Rumbas, Sambas, Salsas,

e dança as moças com jeito,
e espera os moços sorrirem,
sem sonhar com o que vem...

Pra Vicente Sá

domingo, 19 de novembro de 2017

Vida plena


O medo da página
em branco da vida
assusta a ferida,
no verter das lágrimas,
na essência da forma
na beleza que se entorna...

O medo da lida
ganha ares e ventos,
se sobressai aos pensamentos
e torna aborrecida
toda manha de andar,
e até o mais sublime cantar...

Eu sou passarinho
do mundo, Rouxinol
nas terras de pouco Sol...
No meu primeiro ninho,
sou Sabiá nas Pitangueiras,
ou Canarinho nas Amoreiras...

Quero cantar além do temer,
pra na vida plenamente se fazer...

sábado, 18 de novembro de 2017

Nova escravidão

Barracas com famílias Africanas nas ruas (geladas) de Montreuil

O mundo, como o conhecemos,
começou com gente
que preta, pequena, descente,
que na África, d'onde viemos,
resolveu criar asas,
e fazer do planeta sua casa.

Assim caminhamos pelo mundo,
e a solidariedade entre nós,
criou laços, fitas, retrós,
agulhas e linhas, que costuram tudo,
que nos tornam Franceses, Zulus,
Brasileiros, Americanos, Bantus...

Mas este caminho faz tempo,
e nos esquecemos das mãos,
que nos demos, antes irmãos,
uma verdade levada pelo vento...
Agora vale o bem-nascido,
antes do companheiro querido...

Antes da criança que tem fome,
antes da senhora em suas dores,
do senhor nas horas dos pavores,
está um "mercado" que nos come,
que nos condena à servidão
hedionda do egoísmo, a nova escravidão...

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Senhoras que caminham


Onde as línguas são outras,
outros os dizeres de amor,
outras canções de labor,
mesmas são as velhas labutas...

Onde as gentes conversam,
amam, pedem, choram, riem,
castram, contam, gritam, dizem,
as histórias se vertem e cantam,

não de si, somente, as bocas,
mas do dito em tantas floras,
flores de dizeres, palavras canoras...

Na terra das línguas outras,
outros os ouros, as horas,
e as caminhantes senhoras...

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Caminhos


A vida surpreende caminhos
rumos de vento e sol,
trilhas em que venho e vou. 
E gentes capazes de carinho

Que nem, ou ninguém espera,

nestes lugares de terra dura,
e corações, pelo tanto que o frio fura
o calor que humano tivera...

Mas a estrada faz surpresas...

mostra o velho Sol nascente
novo, renovando a gente,

Brilhando em nossa jornada de realezas,

em tudo de nosso cantado,
dentro do peito, por tudo, caminhando.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Minha casa


Lá fora uma névoa fria,
uma nódoa escura
cobre gentes e molduras,
nesta cidade onde se dizia:

que era de Luz, e Alegria!
Mas como ser, se tem gente
passando frio e fome demente,
e aqui ninguém mal se dá bom dia??

Dentro do vidro o calor propicia
a gente ainda se sentir vivo,
a alma desejar ter voz e viço,

mesmo sabendo que a nevoa baldia
é gelada, ingrata e maltrata,
em todo lugar do mundo vejo minha casa...

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Nascido em Sol


Indo de encontro
ao desconhecido ausente,
incessante, insistente,
tão desperto quanto tonto...

Indo de passagem
na estrada de soberba,
imprecisamente nas cercas
do virtual da mensagem.

Um grande tesouro se revela,
cada e todo dia existente,
que nos surge do sangue quente,

e faz cafés que o açúcar mela,
onde o doce falta, fala e surpreende,
pro dia nascer em Sol, na gente...

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Fora e dentro


Eu sigo em busca da Paz,
dos dois lados do peito,
me lambendo e caçando jeito,
assustado das voltas que faz

o Tempo em suas andanças...
Embora Ele, siga parado...
Este "sentir-se no rio", instalado
na gente gera a confiança

de que tudo caminha
nos tempos do que vivemos,
nas águas que nós vertemos,

na eternidade, vizinha,
parede e meia com o vento,
viva no que vivo fora e dentro...

domingo, 12 de novembro de 2017

Sob a Juriti



Plantar Louros, pra colher
nas vitórias pequenas,
porque nossas almas, serena,
e parece nos circular e tecer...

Plantar calma em barcos de correr,
em plataformas e caldos,
em estradas e saltos,
em melados bons de lamber...

Plantar Lírios e Tabacos,
Milhos, Abacates, Caquis,
Mates, Mamões e Pequis...

Plantar casos em gritos e nacos,
em rios distantes daqui,
em morros, sob o voo da Juriti...

sábado, 11 de novembro de 2017

Vida inteligente



Não vi, ainda assim
em tudo que voava vejo
a sombra de relampejos
a graça de Bem-te-vis.

Eu só me entrego e desejo
em pedidos de leveza,
em sórdidas desmemórias de mesa
em vertiginosos lampejos!

Pois a água é veloz em mim!
E o ar tem cores de vento,
de montanha, de mar adentro

de Canários e Juritis!
De Mata fechada e perfumada
da vida inteligente e emancipada.
 

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Da festa



Numa longe temporada
daqui, deste mundo
vazado e perfeito,
astuto e imundo,
vi o tanto que tudo é nada!



Numa perto convivência
agora, neste tempo
calado e rarefeito,
vazio por dentro,
senti a ínfima essência da existência!



Nosso sentir importa.
Mas tanto quanto outro,
cansado ou já desfeito,
qualquer ser ou corpo,
ou lembrança viva ou morta!



Somos parte de tudo,
e só seremos felizes
se aceitarmos nosso assento,
nossas parte, e cicatrizes,
na festa com que nos compomos no mundo! 

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Prumos


Mais tempo livre,
mais horas de alegria
pra sentir a alforria
que sente quem vive

a esperança de voar,
pelos tempos da vida,
(as vezes cruel e dolorida),
por vezes mar, e nele vagar,

por ele subir e descer ondas,
velas abertas pedindo vento,
comendo as distâncias, alimento

da alma errante sem conta,
dos pés que firmam o rumo,
da liberdade inventando prumos...

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Da prosperidade libertária


A abundância abre as portas
do coração com a fartura,
da amplidão singela e pura
que cada um em si, porta...

Existe mais que o necessário,
o dobro, o triplo, infinito,
pra que tudo seja o mais bonito,
e perfeitamente libertário...

Dizer então esta lembrança
desta realidade antiga
deve ser nossa cantiga

pra ser cantada pras crianças,
e lembrar que o mundo pertence,
a quem nele constrói, mói, tece...
 

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Morte

 
Uma dor parece subir
das entranhas do peito,
dos calores dos leitos,
e a Mãe Terra parece ganir
choros de crianças nas margens
dos rios onde a guerra age...


Uma tristeza escurece ao léu!

Um fechar de portas se deu!


E só a esperança que nasce do povo,
é que de novo,
há de fazer alvorecer Alegria no céu...

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Dos cortes no mundo



"Ficou, e eu nem percebi!"
A vida seguia, as contas chegavam,
as horas tardias chega matavam,
do que restou dos Bem-te-vis...

"É bom ter vós", eles diziam,
nos seus cantos falantes felizes,
nas suas valas escorriam deslizes,
mas, parecia, nos queriam...

Eu sei que desperto a re-existir,
com nome, números, cantos...
Como se sempre vivesse aqui,

como se tudo este pequeno canto,
e não um desde sempre brandir,
de espadas, o mundo cortando...

domingo, 5 de novembro de 2017

Este canto


Muita gente consegue,
muito mais gente tenta...
A vida é uma corrida lenta,
em que a gente sabe o que segue...

A gente sabe quem ganha,
sabe quem corre, quem perde,
quem ajuda, e de si verte,
e de quem se encosta, e mais apanha,

tanto das surras quanto das dádivas,
vindas da Diva ou do Manto,
que a Matriarcalidade dando,

se re-faz na canção e nas práticas,
no Amor que se renovando,
faz a estrada, que é este canto.

sábado, 4 de novembro de 2017

Felicidade insurgente


Um átimo, um cabelo
da finura de um fio,
e todos nós num desafio
que nos arrepia os pelos...

A gente acreditava ainda
que neste tempo vivivo
os pobres eram (des)esquecidos,
e que a tristeza era finda...

Mas a história nos chuta
a bunda exaustivamente
e nesta imensidão, descrentes,

e crédulos do valor da labuta,
que vivemos cotidianamente,
esperamos pela felicidade insurgente!

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Velho caminho


Um velho caminho andou
como a sombra de um atalho,
como a faca fazendo talhos,
num corpo que se rasgou...

Uma antiga dor se sente
nas águas de um rio frio,
nas horas de desafio,
num abraço de corpo quente...

Nada mais que caminhar
dá sentido a este existir,
(parar sendo forma de desistir),

feito a bicicleta tombar
se a pedalada não gira,
se já se queimou toda pira...

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Frio

 Um dia frio e chuvoso
tem calor de existência
tem presença de ausências,
mas é antes, dadivoso...

Porque existir se estica,
se encolhe, vai pra frente
e pra trás, apesar da gente
achar que pra sempre fica!

E os dias de chuva mostram
que  nada virá além
do céu, d'onde tudo vem...

E os frios, agudos cortam
e contam a certeza caminheira,
ontem, hoje, amanhã, vida inteira...

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Das surpreendentes alegrias

 
Brincar com o medo,
é assunto de criança...
Tipo, quem não vê, e dança
nas beiradas de alto lajedo,
ou águas de arrebentação,
de afogamento e Tubarão...

Brincar com a morte,
é coisa de velhos...
Feito os olhos vermelhos,
com que nos vê a sorte,
quando a vida é corda solta,
e nos parece chamar de volta...

O tempo prega peças
nos que nos aventuramos
pra além dos desenganos,
pra aquém de toda pressa!
E a surpresa de cada dia
há de trazer sustos de alegrias!