domingo, 30 de novembro de 2014

Gratuidade


Que eu cante, (o que sobra)
pois o que é vão, e o que é bom,
e o que vem das cores e tons,
faz as dores e (lindas) formas desta obra.

Que eu cante, pois o que sou,
onde vou, seja por fim a eternidade,
(que se lança em saltos sobre a vacuidade),
e se mostra em tudo que não desabou...

Que seja nada, além da perplexidade,
e que a prosperidade me grude nas paredes do vento
e feito a flor, me desabroche por dentro,

e espalhe (de mim) o perfume que alenta a gratuidade,
que permitirá o (velho) ar novo, e criar acalanto,
acolher em mim a criança, outrora chorando...

sábado, 29 de novembro de 2014


Quais os caminhos onde tudo vai dar,
onde tudo começa? Pra que esta minha,
afobada pressa, se tudo sempre caminha
na direção que o rio da força determinar?

Conhecer as corredeiras e remansos
deste rio em que meus risos e tormentos,
e prazeres, e derrapadas, sentidos desalentos,
e inusitadas vitórias onde só havia ranço?

O dia, e só ele, é quem sabe o destino.
Nada mais pode ser pensado dele fora,
porque a vida é sensível e senhora,

e se vai, se quiser, porque aponta o atino,
e se dura pela eternidade nos passos crianças,
da Fé que se renova, e em nós re-faz a esperança.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Passarinho



Passarinho canta pra chamar,
a mãe, a outra, o outro, a chuva,
a alegria do Sol que mostra Saúvas,
besouros, frutas de nosso Pomar...

E o passarinho ali, cantando pra ter,
a sombra que defende e conforta,
e a noite, além do escuro sem portas,
é canto seguro, que de passarinho verter,

aliás, do seu canto infinito e fininho,
afinal é no passarinho que o canto soa,
de seu peito que cheio de ar, o ar ecoa,

e lança no Universo um chamado elegantinho,
como o Amor delicado que em meu peito
faz seu ninho passarinho que canta do próprio jeito.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Terras puras


E o que lembro hoje, se parece com uma brasa
que foi sobrada de uma fogueira gigante
que uma vez subiu aos céus, clamejante,
desejando que os pedidos voassem por suas asas,

desdizendo obviedades sob o Sol,
como tantos que neste caminho se fizeram,
ao mar, como as aves o ar se deram,
e aqui chegamos pra sermos deste quintal,

como árvores-espécies de fruta em todo lugar:
Um Abacate do Norte crescendo nos Pampas,
o Milho dos Incas que alimenta tantas crianças,

e no clamor da fogueira ancestral ainda a queimar,
a delícia das gentes e frutas, águas e farturas,
que estão e voltarão, nestas nossas terras sempre puras...


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Infinitos


O carinho abre portas?
Quem somos estes 
que aqui partilhamos
e nesta estrada sem sonos...
Rampas subimos,
escadas e morros
e pedidos insensatos de socorro
nos conduzindo às mesmas voltas?

O valor de tudo eterniza?
Quem sabe onde 
se vai a estrada que segue
(seguimos como quem não a percebe)
mas ela prossegue,
como a nata que ferve
quando o leite se aferventa sobre o fogo
e faz transbordar a alegria que o samba de coco, pisa?

Eu mesmo sou chama que bruxuleia!
Temo onça no mato,
temo o dia virado, no mar,
e um sujeito que não tenha o que perder,
da minguante à cheia,
em todo lugar
eu temo porque amo este meu tempo nato.

E hoje, exercito meu antepassado grito:
Quero a Paz ajustando meus infinitos!

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O mar mais alto


Caso não fosse quem sou,
que seria deste que canto, neste canto,
neste espanto sem mais entretantos,
eu, filhote branco e Banto que voou?

E tudo nada mais que um trapo,
um fiapo de flor, azafran, delícia,
água que avança pelas rotas propícias,
e faz rio, fundo e raso, estreito e largo,

e este caminho de água e nada em torrente,
tolo e incauto, antônimo, mas que escreve,
pequenidades como o infinito prescreve,

e caso não fosse este rio escrevente,
sucedânea de cantigas soando alto,
seria um vento voando sobre o mar mais alto...

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Uma vida inteira


O que se vê, sempre,
nasce da inocência, limitada,
ela, e quem a faz praticada,
e começa antes de acabar o ventre...

O que se ouve, quase toda vez,
vem do desconhecimento do límpido,
que o cristalino ouvido, impávido,
filtra nisto tudo que já se fez.

O que se busca em cada jornada,
está além das flores da beira,
da rua em que passeamos na tarde prazenteira,

e mais que pequis e flores, mãos dadas,
e aquela chuva, e a delícia da canseira,
lembrar que o Amor vale uma vida inteira.

domingo, 23 de novembro de 2014

Quem ?

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Quem sou, onde meu caminho
se planta com suas raízes de voar,
suas fincas de asas, se fixando no ar
pontas em brasa, átomos, ex-feras e espinhos

ferem, festam e desfazem,
e no escuro desta minha noite,
em que me escondo-acho do açoite,
me integro em minha própria miragem,

pois que sou o que vou projetando.
Eu, uma soma desponderada,
uma média ínfima e descontrolada,

solução onde não mais procurando,
inexatidão fria, sombria e assombrada,
vão entre o sólido e a realidade holografada.

sábado, 22 de novembro de 2014

Fio


O caminho tem percalços,
descuidos, apuros, flores, espinhos,
espetos, braseiros e carinho,
o caminho canta caminharmos descalços...

O caminho tenta, atina e tolhe,
e liberta, e socorre e visita após a pena,
no cumprimento dela, grande ou pequena,
ou justa, injusta como o que se colhe,

O caminho posa de rodovia, mas é, e foi
troça do trânsito, trampa do trllho,
alegre como o roçado, triste descarrilho,

uma picadinha feita pelo passar de bois,
uma senda sem certeza, um copo vazio,
copo cheio de veneno, no trilho por um fio.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Ninguém


Ninguém corre e viaja por todo
lado da estrada
caso a dor seja curada
a flor de tudo sucederá ao engodo!

Ninguém me acode quando
a dor se faz gritante
e no vazio eterno do instante,
eu me acho como o eterno, estando...

Ninguém sabe ao certo
o etéreo incauto e preciso
do momento mais largo e conciso,

e sabe também de tudo que já desperto,
nas linhas do vadio, decisivo,
como o lápis vê na palavra porque estar vivo.


Pro Idioma Japonês, e Alexandre Ribondi

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Uma geração


Uma geração, gera mitos,
conflitos, astutezas lindas,
crianças sempre bem-vindas,
amores, acolhimentos benditos.

Nossa geração se deu ao voo,
criou no horizonte do vasto,
do infinito no mínimo, amor de lastro,
amor de dentro de que me entoo...

E tantas crianças verão o farto,
versarão a si e ao longo e sido,
como a versão mais lenta do acontecido,

e nossa geração tomou o fardo,
e mais crianças terão direito reconhecido
a ser crianças em seu tempo destinado.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Colorido



Cores e coloridas folhas
compõem, cantam, custam,
e os João de Barro habitam
casas e alegrias soltas...

E assumidas e rotas,
e permitidas as notas,
lambuzam o dia e as botas,
e as lidas, nas casas todas,

pois as cores são o que conta.
As flores são o que espanta,
o que arranca o ar da garganta,

e no que importa, re-coloca,
e tira a tristeza de detrás da porta,
e a própria vida ao colorido volta...


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Samba


Eu sempre me encontro
com o Samba deste meu Tamborim
que trinca a madrugada toda
repicando no butiquim,
que soa, e doa a quem doa,
da Serra verter água boa,
saúde, os menino e a patrôa,
um Samba dentro de mim....

Eu sempre me encontro
com o Samba deste meu Tamborim
que tem um perfume que lembra
Rosa, Cravo e Alecrim...
Se bate da Barra à Gamboa,
malandro nunca tá à toa,
saber que há de vir coisa boa,
um Samba dentro de mim....

Eu sempre me encontro
com o Samba deste meu Tamborim
derrotas e lindas vitórias,
tudo que é da vida, enfim,
quem faz e rema a canoa,
conhece, que se a água é boa,
cuidado, nunca distoa,
um Samba dentro de mim....

Eu sempre me encontro
com o Samba deste meu Tamborim...

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Flor florida


Um bebê nasceu sorrindo.
Era lindo como os bebês o sabem
ser, viver, comer, em tudo que fazem,
mas este, ainda nasceu sorrindo.

Nos galhos daquela bendita alegria,
nasceram brotos de flor, de sombra,
de estradas, praias cheias de ondas,
e tudo daquele sorriso, que só luzia!

E foi que eu nasci, hoje, naquela risada.
Estava na estrada, em tantas voltas perdidas,
da beira do nada que sempre convida,

quando me veio sua expressão iluminada,
e o sem sentido de tudo, toda esta lida,
fez-se esta beleza, sorrindo feito flor florida.

domingo, 16 de novembro de 2014

Pau e arame


Quero beber 
do mel do enxame,
na casca do Caramujo,

Berimbau é pau,
e arame,
e quem toca é dito cujo...

É o dito, é o Zé,
Dona Lina, Isabé...
Seu Antônio, Malaquias,
Eh! Mano é....

Quem me chamou
que não reclame,
eu gosto de cantar tudo...

Samba, Maracatu, Merengue,
Na Capoeira,
vira tudo...

É o dito, é o Zé,
Dona Lina, Isabé...
Seu Antônio, Malaquias,
Eh! Mano é....

E é Pedro, e é Chico,
É João e Expedito,
é Maria e Caminito....

sábado, 15 de novembro de 2014

Nosso valor


















Todo canto, toda ponta me fere,
se não me deixa, me lida, impõe,
arrasta, exila, compila, ajeita, compõe,
e, quinas do mundo, no juízo interfere..

Eu era amaciado sentidor, menos penas,
menos lida, voltas, o mundo era mindim,
como o voo do Tisiu, a crista do Tico-tiquim...
Do Colibri, Bem-te-vi, a alegria serena...

Mas o dia vai montando seus quadriláteros.
Numa ponta vai depositando folhas,
com elas compõe Poemas, com que molha,

árvores da criação, pra que o repouso didático,
que nos mostra o valor da sombra pós-labor,
abrande o que fere, pra compartilharmos nosso valor.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Voo de Passarinho



















Ontem, hoje, estes dias,
tenho ouvido histórias de Passarinhos
que deixaram suas asas e biquinhos,
dizer o lugar pra onde o Passarinho ia...

E lugar de Passarinho é no céu!
Por isso, estes  meninos voadores,
cantavam dores, alegrias, louvores,
então seus João, Mario e Babi, o Menestrel,

acertaram pautas Divinas, e seguiram,
seus voos de cantorias, de amor benfazejo,
de desejos de Formiga e Viola, de arpejos,

porque de galhos e folhas e pedras construíram
varais de pendurar inutilidades consagradas:
Canções, Poemas, e uma linda Viola enluarada...

*Pra estas almas leves, que de tão, subiram estes dias...

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Onde o infinito se esconde


Na era da Paciência, quem a tem?
No tempo das igualdades,
na feira, na fila, na esteira em noites de amenidades,
no caminho que pelos estreitos de aqui e além,
num caminho de saudades e voltas,
num planeta redondo, de dobras...

Eu era como um arroio entre pedras.
Um assombro entre as velas e paredes,
entre esteios, verbos, vastos campos e batentes,
pastos onde entes casmurros, cada flor quebra,
cada sorriso esvoaça, borboleta latente
num mar denso de tubarões de afiados dentes...

Nesta era de infortúnios, e de Fortuna crescente,
cada vida no vento é bandeira e velame,
é esteira de arame que arranha e se solta insone,
e as Camélias, Bromélias, Jequitibás enormes,
e um pequenininho eu vertido no que se chama gente,
no que se planta e come, se consome, se sente...

Os dias da Vitória são agora nesta força.
Eu salto como a rã, cavalgo o vento que lambe
montes, Cordilheiras, poças de lama onde o João de Barro cante,
onde o Andaluz cante seus Cânones dos pulos da Corça,
e o Sabiá seus virados de geniais renomes
de abissais e estonteantes, onde o infinito, pequeno e tão bonito, se esconde... 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Rumo ao Mistério


Eu escalo o dia, 
com a alegria da canseira,
com a delícia desta vida inteira,
de saber dos filhos, netos, e a arrelia,
de saber que seguem os caminhos,
meninas e meninos, tantos de tantos trilhos.

Ganho forças nas pernas,
pra seguir subindo,
na direção do que vem vindo,
a vida plena, em voltas eternas,
o solto vento da beleza luzindo,
nas crianças, tão pequenos e ternos...

E quando sei dos infortúnios,
dos amigos, que feito eu 
constroem a vida com o que se deu,
e mesmo quando tudo aponta lamúrias
vejo o ramo, que no triste da noite cresceu,
mesmo quando as dores mais espúrias,

nos dão a certeza do etéreo,
firme no ar que vaga longe,
na leveza que a velha dor esconde,
na diluição do ar, vago, infinito e sério,
como eu, neste dia, subindo o monte,
minha infante escalada rumo ao mistério.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Música

Homenagem ao dia do Músico(a)

Um canto, nem sei bem onde,
nem sei bem se canto ou cachoeira,
ou estrada, centro, lado e beira,
escarro ou esteira.. (em tudo se esconde...)

Em tudo se planta, se espanta e surge,
como uma guitarra, uma cigarra, linha,
escada e catira onde a Paz se avizinha,
onde a eternidade sobe e ruge.

Eu, infante senil na arte de soar,
em minhas pernas as Gambas líricas,
as Trompas tácitas, Flautas plácidas,

Ninfas em translúcidas vestes de ar,
vastas cabeleiras em ondas túnicas,
a mais linda e eterna arte: Música

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Riso



O meu riso, do raso que tem,
sonha voos muito, muito além
das alegrias de todo dia, de quem
que nem eu, da festa ainda aquém...

Então, porque o sorriso?
Porque rio quando a força 
que faço, feito corrida de Corça,
deixa o Leão com saltos precisos...

Porque é o que pisamos, não outro
o chão que dá a base, faz caminho, 
e segura a cama de todo carinho,

pois que se meu riso é raso, e eu roto,
com ele sobrevoo as casas dos vizinhos,
e minha própria casa, meu risinho.

domingo, 9 de novembro de 2014

Rara

 












































A rara combinação, forma e cor,
espaço, ar, água, metais e madeiras,
vermelho nas folhas, azul nas beiras,
nos altos o infinito se deleita do primor...

Um galho atravessa com a elegância
de pra quem não importa o vão,
se duvido que existo, em valor e tensão,
como o etéreo que sinistro, esbanja excelência,

esbanja charme, alegria, fé nas miudezas,
fé nas grandezas crescidas, no embalo da vida,
na dor já sentida, e o medo, dela vencida,

ser re-dor que quer se re-por à mesa...
Mas, vem o imponderável do imprevisto belo,
nos ensinar que, só pra comida, são os cutelos!

sábado, 8 de novembro de 2014

O cheiro do mar


O cheiro do Mar invade os sensos,
mesmo se dele, não estou perto,
à esmo, como venta em mim o eterno,
o Mar sempre me canta nos pensamentos...

Seu perfume vivo e salgado se mistura,
com estes cheiros de Cerrado e chuva,
de restos de Pitanga, Amoras, Cabreúvas,
se manifesta no ar, água, terra em essência pura...

Assim, mesmo quando estou distante,
o Mar canta em mim suas velhas cantigas,
das pedras lavadas das ondas amigas,

que trazem notícias de baleias e navegantes,
terras próximas, longes chãos de outros temperos...
O Mar é em mim em todos os seus cheiros!

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Desejo


Então, como uma pedra vinda de longe,
uma maçã que se deixou comer pelo tempo.

Nada faz sentido porque se adianta, o hoje?
O inexato se espanta como canta o vento?


Quando o pedregulho quebra a vidraça,
quem é que afinal, se rompe?
É própria vida que a tudo eleva e escorraça,
ou a gente que se esconde-esconde?


Sei que veloz, já foi ir em Carro de Boi.

O que pode ser bom, pode chegar a ser melhor,
como o cheiro da Açucena, nascida na terra pior,


Capim Santo nascido no pátio onde a guerra foi,
este amor no meu peito que dá um jeito, com calor,
e diz do que quero e vejo, que este desejo é de amor.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Re-criando



E tudo mais, no perto ou no impensável,
no visível ou no escondido sob o óbvio,
no etéreo ou no divinizado na tela do sórdido,
mas atônito, assisto a tudo em enredo retratável

e retratado na infiniteza da obra que já há,
na sem par certeza que faz o caminho cândido,
da leve e florida arrelia que faz o dia esplêndido,
no vento de cheiros e vistas, que registra onde passar,

e em vento, em passo de cantiga, canção nova,
canção velha, eu, um velho lobo caminhando
um sábado de promessas de alegria domingando,

um século de esperas, um instante de atraso e a prova
de que o melhor da era é o que o povo, chegando,
a ser-se dono, sem donos este mundo re-criando!

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Este lugar


Venho, vim e estou em encanto de conhecimento.
Tudo ao meu redor, fogo, Artemísia e sobras,
das beiradas das esteiras, das obras e provas,
das queixas fora sempre de hora, sempre sem cabimento...

No meio cheio de brilhos da floresta, escura, úmida,
cacoete, miragem, vastidões do inconsciente,
mestiçagem do alarido, dos sentidos desta e toda gente,
e eu canto como o canto porque a alegria é lúdica...

Inventa jogos, mostra caminhos pra onde apontar,
pra onde aponte o nariz que sentirá o cheiro do novo,
o cheiro de quando nosso povo tomar este lugar!

Porque então, ao invés da violência que vemos,
Sentiremos nós, cada homem e mulher que trabalha,
a alegria gratuita, a vida plena que merecemos, enfim haja.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Minha reza


Cantiguei em mim uma rezinha,
destas que se faz no miúdo, no piquitim,
num quase silêncio (parecia assim....) 
que um, quase nem escuta a própria vozinha...

Esta minha reza, uma fala piquininha,
rouca e escondida, ao ponto dum sussurro,
parecer um grito solto no susto do escuro,
minha rezinha de nada, vento e passarinha...

E pouco a pouco a vida vai tomando a toadinha...
João de Barro traz tesouro do chão,
e dona Joaninha entoa com ele nova canção,

e uma Saíra bate na janela, e a própria ladainha
da vida, menina e suave feito um Andorinhão,
minha reza, minha volta ao meu lar do coração.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Fios





















Era uma volta, não uma história solta!
Era uma pedra na água da lida,
uma cantiga de estrada corrida,
uma certidão sem validade ou guarida.

Era uma folha voando e dando voltas,
e fazendo um passeio pelo ar antes da terra,
um passeio na fugacidade que por si, encerra,
o eterno solto de tudo nas infinitas revoltas,

que o dia faz entre os quentes e os frios
entre os rentes e os desatinos que cantamos,
que dançamos e fazemos dançar, meninos,

que sempre, e ainda sentimos o inexplicável vazio
que nos rouba e rosa, nos venda e mostra os planos,
deste momento em que o infinito nos liga os fios.

domingo, 2 de novembro de 2014

Vinhos



O sóbrio, sombrio mesmo de dia,
mesmo de fora, de lado das eras,
de beiras e brios e víboras das quimeras,
nestas barras das minhas alegrias.

Fibras móveis, flutuantes neste mar,
onde a estrela de fogo, erro e acerto
vastidão no certo, e no talvez do erro,
do eterno de fluxo de onde me vagar...

E nests estranhas águas, frias e vagas
a herdeira das ânsias e do frio na espinha,
onde a sobra das eras banhava as vinhas,

e Vinhos das Almas serenam grandes vagas
em oceanos e festas, e vistas da praia,
onde as castas se acumulam em teias de areia...

sábado, 1 de novembro de 2014

Medo



O vale do medo era sólido,
era em todo lugar que fosse aqui,
e quem ficava não pensava fugir,
mas quem fugia: não se lembra! Insólito!

Quando e quantas vezes só o medo,
ele, e nada mais nos impediu de ver
a mais linda tarde de por de Sol de arder,
vermelho fogo, nuvens, um canto do arvoredo,

e o seu medo também nos salva!
As vezes não caímos no profundo,
pelo medo arretado arretante rotundo...

E quantas vezes o medo, vigia de ressalva,
acordou-nos no meio da noite evitando lobos,
evitando perdas, prendendo, soltando....