terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Um com o vento




O que é que quer, quem quer?
O que habita o impensável,
O imponderável?
O denso, pretenso mal e bem-me-quer?

Quando e quanto do que ainda pode,
Do que se some e se soma
Ao vasto errático e em coma,
Pra este que aqui se pro expõe porque não explode?

Sei que o futuro hoje se abre,
Hoje se rompe,
E se agita pra que haja quem conte,
A história pra lá dos altos sabres,

Que da mesa dos coronéis
Em seus devaneios de arrancadas,
De violências que ainda não foram estancadas,
E ainda são ouvidas nos tropéis...

A vida, aponta a direção da dança.

A alegria, resulta mais elevada e não se cansa.

O dia, que abre o tempo, forte, lépido e lento,
Fará de meu corpo barco,
E eu me farei ao largo,
E serei um com o vento.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Pra quem veja...




Marinada. lambida e açucarada,
A vida, esta máquina encantante,
Que sobe as escarpas de a todo instante,
Numa encantada e sentida disparada,

E o tempo, feito vento que sussurra,
Espanto que usurpa e devolve
Enquanto o pleno, sereno se resolve,
E envolve a mim na lida que me empurra,

Rumo ao canteiro das flores saborosas,
Rumo ao certeiro rumo que viceja,
Histórias vividas todas, mesma peleja,

E o verdadeiro espanto ante as tão vistosas,
Todas flores, cada amor que na bandeja
Servindo o caminho, os espinhos, pra quem veja...

domingo, 29 de dezembro de 2013

Neste meu peito terno




E nada, do que até então se anunciava,
Parecia que veria a Luz da aurora,
E eu seguia, buscando a flor por quem chora,
Passarim sonhando ser a música que cantava.

E tudo, que continua independente do caminhador,
Como a estrada que nos leva, ventos na vela,
Como o barco que aparece sem dor, na tela,
Mas de quem a pintura verdadeiramente mostra a cor,

De tudo que na vida se ganha, se perde,
Se acha, se serve, se sintoniza com o eterno,
E o permeia pela água que molha no inverno,

E nos entangue de frio, do cio que ferve,
E permite a criação, árvore na montanha, no caderno,
No muro, na praia ou neste meu peito terno.

Este caminho



Caminho este caminho,
Que não apenas não é sozinho.

Antes, nunca e onde anda,
Sempre vai me conduzindo.

Um caminho de distâncias impensáveis.

Um estribo em alças e laços.

Um estrondo de falsetes e braços.



Assim, como um vento que se deixasse,
Sigo um caminho que chamo de meu.
Em que clamo ao Deus dos espinhos,
Ao Deus que vomita os mesquinhos.
Um Deus ateu.

Assim, caminho este caminho.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Antes nada



E nada mais ventava, nada mais dizia,
E eu, apenas uma gota de alcava,
Uma pena sem cinza, parva,
Uma caneta que nem apontava nem escrevia.

E de tudo que em tudo me lamentava,
E de cada cadabra que se conjurava,
De cada palavra que se perdia

Em tudo, antes, era onde me aparentava.

E pobre andarilho cheio de trevas e sem travas,
Vi tanto do mundo,
E o que não vi, me lembrava,
E como me doía me saber tão imundo.

Mas, antes, e sempre, a jornada.
Antes e sempre o caminho, mesmo eu tanto nada.

Gloriosa Glória



Um dia cantado, parado, inexato,
Este dia em movimento, pra trás,
Pra dentro, sempre em frente que traz
Um vento contado em seu pleno ato,

De ventar novidades onde a fome,
Do novo, de novo e sempre a fluir
Onde o tudo de sempre pode existir,
E o balanço, não se cansa e me consome.

Este dia de enormidades e lembranças,
Do que ainda não chegou, do que virá,
Do que em tudo que já existe, existirá

Um só dia poderia nos fazer de novo crianças,
E nos faz, e pra adiante adianta o que cantará,
O próprio Reino Eterno que a Gloriosa Glória fará

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Meu barquinho de caminhar




Eu as vezes me sinto como um barquinho,
Num mar de gentes, jogos e multidões,
Que sobem e sobram asas, vazios e senões,
Singrando um mar de infinitudes, sozinho.

Mas neste dia de hoje, dia de nascimentos
Quando os sonhos se sobrepõe ao que sabido.
Com a firme certeza gerada pelo dar ouvidos,
Ao que se expressa por nossas emoções, sentimentos,

Neste dia de hoje celebramos, nossa velha tradição,
Num dia de Sóis e chuvas, de vazios de ser,
Em nome de um grande amor que teima em poder,

E se acreditar no que toda pena há de valer,
Acreditar que o infinito manda mensagens pelo olhar,
Que os olhos são este meu barquinho, a caminhar...

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Nosso Lar



Eu nem cantava, eu nem seguia,
Eu nem parava na sombra da noite,
Nem me queixava da dor do açoite,
Ou continuava quando começava o dia.

E nestes meus trilhos de noite e tristeza,
Nestes meus espinhos, antes a me doer,
Nestes caminhos feitos com tanto sofrer,
Celebro antes e sempre, toda, toda a leveza

Que o chão pode nos dar, apesar do peso,
Apesar de espessos, meus caldos a me entornar,
Começar o começo, saltos que há que se dar,

E os passos que solto e vejo, alegre e teso,
Aos vastos vãos que as pontes farão atravessar,
Por chegar no imenso e inaudito Nosso Lar.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Viva o dia-a-dia!!



Era uma manhã
Que florescia
Como quem abre
Mão da letargia

Era uma tarde
Que ardia
Com tanto choro
Tanta mais alegria

Era uma noite
Em cujo escuro acontecia
O que se plantou
E tempo novo prometia

Viva o dia-a-dia!!

Nada




E então, era.
Nada mais.
Nada atrás, ou na frente,
Dragões devoradores de quimeras,
Bandidagem atroz,
Lambimentos em alçadas e paredes.

E então,
e então...

E então.

Era então nada.

Eu mesmo devorador ladino de vagas,
Construtor albino de pragas,
Eu mesmo,
Um melhor nem ter.

Eu mesmo,
Então,
Nada.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Alegria por destino


"Crianças brincando" de Cândido Portinari
Quero viajar por muitos mundos,
E conhecer estrelas e pessoas,
E ver os sóis das coisas boas,
E ver florescer tantos chãos fecundos,

Quero me dar ao prazer do que vejo
E plantar árvores, e colher seus sabores,
E ver o nascer das estrelas e a terra dar cores,
E saborear a vida, vendo a beleza dos azulejos.

Quero me permitir amar de forma singela,
Uma flor, uma velha senhora, um menino,
Numa estrada empoeirada, um viajante sem tino,

Uma Viola que chora e cora uma canção bela,
Um velho frei que viaja o mundo, peregrino,
Uma alegria que há de nos ser nosso destino.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Amor não comedido

img1.jpg
"O homem caminhando" de Alberto Giacometti

Nu, neste campo de entregamento,
Cada um de nós vem à terra,
Cada um desce a corda e a serra,
Até o dia de passar o passamento.

Sem as vestimentas com que o tempo rouba,
De nós o tempo que ainda nos resta,
O tempo que temos pra olhar pela fresta,
A dança de saber-se indo desde a primeira roupa.

Despido, tenho seguido, tenho me assustado
Com o que de mim sai quando me vejo,
Quando lambo o tempo aquém dos gracejos,

Com que a vaidade me esvai, enquanto inflado,
E nu, acompanho o passar do caminho, os lampejos,
Do amor não comedido que sonho, que vejo

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Do que canto comigo



Na verdade ainda não sei quando é ou ai,
Quando sobe ou desce, quando e quanto padece,
Quem se deixar olhar como o que sempre desce,
Que se perde nas noites onde apenas o vento vai.

Na verdade ainda não conheço o total,
Sofrimento ou alegria, valente coragem
Rebeldia sem alento, cadente e fútil aragem
Que passa, e nem o cheiro fica no final.

Na verdade, sou apenas parte de um
Mais que um mas sempre só este cardigo,
Sentinela de nada, abastado mas sempre mendigo,

Na verdade não sei se também é algum
Destes meus cantares, nascidos do olho do umbigo,
Que virá algo se revelar, disto que canto comigo.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Pedagogia do carinho

Foto "Havana" de Walter Firmo sobre obra anônima Cubana

Este é um caminho onde nós,
Gente que contudo, ainda acredita,
E aceita seguir o cordão que guia a fita,
Pra segui-la pelo caminho, desatando nós,

Ali, aqui, onde eu estiver é que vai,
Ah! Este meu desalento que fiz,
As abas destas minhas asas de perdiz,
As belezas do caminho que do peito sai,

E tudo que fui tendo e vendo, filho dos passos,
Tudo que sonho, que sopro, que caminho,
Tudo que no meio da multidão, ou sozinho,

No meio dos tropéis da caminhada, repasso,
De eu pra mim mesmo, onde podem haver espinhos,
Sempre a beleza herdada: a Pedagogia do carinho.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O Tempo de cada coisa




A corrida pro que chegará mansamente,
Como mansa vem a morte nos estertores,
Ao cruzar pontes, arautos de belezas e sabores,
A corrida é pra chegar onde já calmamente...

Calmamente nos encontraremos conosco.
Nada mais estará entre o que somos e fazemos,
Entre o que pisamos e pensamos e comemos,
E nunca mais fazer ao amor ouvidos moucos.

Calma será então um estado natural, como respirar,
Como andar depois que se aprende, naturalmente,
Como não cair quando a bicicleta range as correntes,

E as ventanias serão como velhice no chão do pomar,
Onde pomos e fomes se unem pra alimentar gentes,
Onde a fartura será a tônica do futuro resplandecente. 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Pra que que eu canto?




Acho que canto é pra me estradar.
O mundo chama a cada minuto,
E o caminho proclama severo e profundo:
A Poesia por si não encontra lugar.

A Poesia não tem canto nem fundo,
Nem raso, nem repetição de morada,
Nem condição de jurisdição ou alçada,
Nem alçapão ou arapuca de ribungo,

Nem prende, nem se deixa prender,
Nem se diz, nem condiz com o que esperar,
Nem rima, nem sem, nem vai se encontrar,

Apenas segue sua vocação de apenas ser,
Ser sem ser que nada faz além de caminhar,
Eu definitivamente canto é pra me estradar.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Folia de novo tempo




Alegria chegando, chegando o Natal,
Presépios ocupam a sala central,
E neles vem Reis, animais e pastores,
Em honra ao Menino, à Deus seus louvores...

Cantando, cantando chega o Folião,
Mateus e chicote, anuncia Bastião,
Que é vindo um menino portando um novo tempo,
E sua semente se espalhará no vento.

Três Reis que sentiram, vieram de fora,
Seguindo a Estrela até vir a aurora,
Também os bichinhos e seus bons pastores,
Celebrando o Rei que chegou entre flores.

Licença senhora e meu bom senhor,
Pra nóis cantar juntos um novo louvor,
Que a nossa Folia vem com a claridade,
Cantando um novo tempo no campo e na cidade.

Sagrada Folia do tempo vindouro,
Que nossa riqueza, mais que prata e ouro,
Nosso caminhar que é em honra ao Menino,
Cantando louvores aos Reis peregrinos.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Casório e cantoria.




Um dia de casório e cantoria.
Uma sombra sobre a terra, grama a se aspergir...
A solidão dos copos fazendo-se colorir,
E se ventar, e ser o sopro do céu neste dia.

Um dia de festança, um morro verde que proclama
Fazendo-se bonito, se enfeitando neste tempo,
Em que um ser se santificando em busca de alento,
Ou ainda, uma comunidade formando sólida rama.

E eu tive a honra de estar ali, de poder cantar,
Pra que aquelas boas pessoas fizessem o ato,
De fazerem a festa da alegria do dia em que o fato,

Do casório que se celebra seja o continuar,
Da vida casada, dividida, ambientada na convivência,
Que há de ter a força pra receber a Divina resiliência

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Com tanto pra contar



Nesta sexta feira em que alguém promete terrores,
Por sua associação casual com um número,
Do calendário, em razão dos fatos, inúteis inúmeros,
Inenarráveis e súbitos canto de temores.

Nesta sexta, em que o aturdido dia nos conta,
Suas ancestrais rosetas, suas perdidas voltas,
Suas subidas e descidas e mordidas soltas,
Só me resta ouvir, seus clamores sem conta

Pois que eu mesmo, ancestral vendilhão de pedras,
De coisas que por todo canto o vento encantar,
Tento me moldar ao que não aceita sugestão do ventar,

Tento me permitir vagar, vagar, vagar num mar de velas,
Brancos estertores da vida que luta pra continuar,
Entre os vagos e as vagas de tudo que há pra contar.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A lâmpada




E a lâmpada de tudo que aconteceu,
Numa noite pautada pela inocência,
De um tempo em que era outra a decência,
Mas no caminhar do mundo a lâmpada luminesceu...

E a Luz, presente em cada semente,muda
Faz o movimento da raiz pela terra,
Intui no ouvido do bezerrinho: berra!
Esta Santa Luz faz a escura terra fecunda!

E a lâmpada do que em meu peito se deu,
Do que em meu peito se dá, cada instante,
Cada quadrante em que navego sem sextante,

Cada falso que meu abstrato, enfim, teceu,
Cada pasto em que cavalgo navegante,
Um passo, outro passo, e a lâmpada confiante.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Parabéns a uma amiga nova



Cravei signos onde haviam postes,
Pra que a Luz chegasse por histórias,
Tantas Glórias, persistentes mais que retóricas,
Vitória neste dia de alforria pras hostes,

Que somos, caminheiros companheiros,
Aprendentes e ensinantes sempre sempre mais,
Como um ninho de fábulas fazendo bastar os ais,
Pela cura da verdade que habitará nosso celeiro,

Que nos alimentará da pura energia livre!
Mulheres e Homens novos nesta terra,
Chão germinante que pelos mitos berra,

E quem no dia de hoje tece a história que vive,
E (me) (nos) ensina que o Amor renova,
Filha mais velha, amiga cada dia mais nova.

Prenhe da imensidão



Num vôo galopante,
Rumo ao infinito,
Por este vale,
De paisagens verdejantes,
E olhos aflitos.

E atos incontritos,
Entre tanto concreto,
E granito.

Tanto verde infinito,
Verde bendito,
E tanto verde,
E tanto alarido de passarinho.

Kauô meu Pai.

Meu bentivizinho,
Que me saúda.

Meu João de Barro, Joaninha...

Verdadeira que passa voando.

Ancinha

Onça, Caninana e Galinha....

Eh! Chão

Aqui neste chão, um doido de mais cá em baixo,
Plantou a Capital de uma nação...

Aqui no meio deste chão.

No vazio chão do Sertão.

Vazio,
Mas prenhe da imensidão
  

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Cânticos nestes cantos




Cantiga cantada contada em tais contas,
Onde as pontas das portas cortavam cútis,
Cantavam fúteis e animadas prosas sutis,
E as panças se trançavam feito córdicas plantas.

Continham em si fadas de pandóricas fontes,
Cantarolavam parolas pardas e perdidas,
Perdoadas pela vida sem senso de lida,
Sem senso de nada, tão lindas e infantes.

Cortavam os caminhos feito cânticos sozinhos
Canas e cordas, cantinhos de feijão e pão,
De sabão, de pernas, moças, mastruz, algodão,

De cuscuz e paçoca, de pimenta e restos de Breuzinho,
Perfumando o que restou da semente do chão,
Onde se criam cantigas de contas e toda a diversidade de ser são...

domingo, 8 de dezembro de 2013

Espaços de mim



E aí, a cantoria seguia animada e vital,
Como um redemoinho no meio da tarde,
Um archote que feito o próprio mote arde,
E canta eternidades entre o fútil e o banal.

A cantoria seguia como ao ramo a Rosa,
Pra sê-la na ponta, como um culminar,
Como se o pulso fosse mais que pulsar,
E o corpo, que ao se conhecer se empossa,

De si, suave cansaço que a todos abraça
Renovada disposição em cada quadra,
Em cada passo, que em cada espaço ladra,

Cão com que caço o sustendo de nossa raça
Com que sendo, me atiro no espaço sem fim,
Revirando as constelações dos espaços de mim

sábado, 7 de dezembro de 2013

Minha real cor



As vezes me sento pra escrever,
Com os olhos e ouvidos voltados
Pra dor que constrói os revoltados,
Com um desconfortável e claro desprazer.

Por outro lado, as vezes me sinto ser,
Tudo que lembre alegria, beleza e amor,
Que jorro em cântaros de inestimável valor
Canções e pássaros, voos de conhecer.

Tudo me completa, acerta e mistura.
Na frente do Poema por se compor,
Existe uma estrada interna a se transpor,

Feita de flores, espinhos, mágoas, gastura,
Massacres e momentos de ternura e calor,
Estradas em que mostrarei minha real cor.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Existindo pelos meios




No olho colorido deste furacão,
Rompi íris, furei alguns tristes olhares,
Subi as rampas destes sofridos pesares,
Que fiz e sofro, entanguido de excitação...

No ventre colorido desta arrebentação,
Subi as ondas como um velho surfista,
Num mar com mais tubarões que água à vista,
Num ventar de ar e sombra, calorosa sensação,

Senti frio quando o ar me passou em revista,
Onde re-vi o que do olho do furacão veio,
Como o ouro que nada na terra em seus veios,

Como a beleza que nada nas opalas e ametistas,
Como o vento mineral do movimento saindo dos seios,
Cedendo ar e força, existindo pelos meios...

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Cantoria




Cantar abre as portas pra eu seguir,
Este caminho que vem de baixo pro alto,
Este rumo, com espinhos e sobressaltos,
Esta estrada de viajar pra me permitir.

Cantar me traz o alento e a cura,
Me permite me ligar com o infinito,
A forma em que o sem forma é mais bonito
O belo se mudando sempre,  por isso dura.

Cantar me traz o tempo das serenidades,
O tempo sem idade, antes mesmo do Tempo,
Antes mesmo das chuvas, da Lua, do pensamento,

Cantar me liga com Forças Estelares,
Bem maiores que meu pobre intento,
E estabelece uma fraterna ligação com o Vento.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Brame o mundo




Quando sobre nós se abre o céu,
Quando sobre mim se abre o chão,
Pulo, voo, solto-me solto farelo de pão,
Farinha de novos fermentos sem leús...

Quando sobre mim palpita o bramir da dimensão,
Do eixo que me acumula brandir espadas,
Puxões, canhestos, arranhões, pisadas,
Mordidas e feridas com carinho de imensidão...

Ali, onde tudo que houve foi nada,
Onde tudo que houve foi tudo, tudo, tudo,
Cada coisa que se escreve no mundo,

Tem a assinatura sempre sempre lavrada,
E o chão que se abre canta o absurdo,
E a alegria necessária pra re-fazer o mundo.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Antes do Tempo




E o vento deslembrava a fome,
E o tempo desmembrava a mim
Como uma folha se secando carmim,
Uma falha, que o tempo consome...

E as nuvens passando ali embaixo,
A terra vista de longe, sem cheiro,
Sem ter, pela metade ou inteiro,
Na terra onde tocar, ou colher cachos,

Das frutas, dos temperos e alfazemas
Das camas, pijamas, e da algazarra,
Que das pedras da rua, na chuva, esparra,

E sobe o aroma encantado das raizamas,
Das ramas das auroras que alimenta o vento,
Que ventava sua energia livre antes do tempo.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Fluido Menino..



Que os bons fluidos, das invisíveis forças,
Que das improváveis eras que se sucederam
De vera, com fortes mudanças que tremeram
As vidas de feras, de corcéus, éguas e corças...
 
Que estes bons fluidos fluentes entre as moças,
Que dão a elas os bons perfumes aos que cederam
A vida às moças, aos apelos e às loiças se sujaram
Do café e bolos entre os fluidos da manteiga insossa...
 
Que aquela alegria fluida de outras arrelias,
Que o despertar do Galo cantor do Presépio,
Com seu canto de ver a Estrela Luz Mistério,
 
Que os bons fluidos do reinado da Alegria,
Vertam caminhos, soltos, ventantes incensos fios,
Abram o caminho do fino perfume, fluido, menino...
 

domingo, 1 de dezembro de 2013

Morte e Vida



E neste campo vasto volto a transitar,
Como um velho touro, cujo espírito,
Sabidamente morto em combate lívido,
Perfumado à Lavanda, fraganciando o ar,

Sua morte, a imensidão da coragem,
Enche este campo em que ora transito,
Faz-me lembrar que sempre mais o infinito,
É quem pode dar-me de suas beberagens,

É quem pode bailar num varal de aragens,
É quem pousa, delicada mariposa peluda,
Inventada numa noitada criativa abusrda,

Em que o Cosmo, ébrio de ouvir as bobagens,
Que de si próprio aceita -se dizente e crente,
Que as infantilidades do eterno podem-se onipotentes.