quinta-feira, 31 de maio de 2012

Onde o Amor tece

Na escalada que todo dia, o dia nos toma
Voo por sobre antigos rumos, que são vistos
Nas voltas da estrada, fora os imprevistos,
Vislumbrados cada vez que o caminhar retoma

E o caminho se procede como sendo Mestre,
Que aponta a direção e sustenta o peso do corpo
Quando o peso de tudo parece fazer-me morto,
Aí mesmo é que vejo o tesouro que vós me destes...

E  assim, sigo eu subindo como posso esse caminho,
Procurando um fim no começo que sempre acontece
Pra quem se dispõe a procurar sem olhos mesquinhos

E se dispõe a ver quando o dia, no crepúsculo, esmaece
E olhar com luz que sobrou, da imensa quantidade, um tiquinho,
No peito seu, onde uma colcha de amores o Amor tece.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Parte importante da riqueza que temos

Nas latas daquelas todas coisas que ninguém quer mais,
Mas que antes de tudo é matéria prima do que vem,
Encontrei as raízes do passado que cada de nós tem
E deve conhecer, seja ele perfume de flores, ou gritos animais

Lá, onde se dizia que tudo que estava ali não prestava
Que aquele era o recanto de descarte, limpeza, esquecimento,
Que o que importa é o que cada um vive em seu momento
E que aqueles caminhos são onde ninguém mais andava,

Logo ali pude entender tantas coisas de meu caminho,
Como o perfume que tem algumas rosas, alguns crisantemos
E pude também sentir a aspereza de cascas, a agudeza de espinhos

Mas nas sensações que foram se me dando, compreendi o que vivemos
Eu e os meus neste caminho que é de todos, e de cada um sozinho,
Que o que há quem chame de lixo faz parte da riqueza que temos.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Infinito Amor América


A América mira o mudar do mundo
Mudança que em si já gerou
Mudos mantos de mães com medo
Do mal que o mentir medrou.

América mãe do mundo novo
América que tocada por Midas,
Este deu-nos a morte ao nosso povo,
E dela fizemos a celebração da vida.

Reagimos com a morte da morte
Celebramos hoje a vida vivida,
Nos cantos que de sul a norte

No vento que nos lapida
Às armas do amor, que nos tornou fortes
E nos construímos, América Infinita.

domingo, 27 de maio de 2012

Do que antes de tudo é

Santo Espírito,
Que desceu na forma de fogo,
Santo fogo a queimar as penas,
Apenas me toca, fogo vívido, pra eu viver de novo..

Pra que se queimem as dores,
Que se queimem as formas de mentira,
Pra se soltarem os ventos
E a esperança de que a história sempre se vira,
E a tristeza se torne em alento,
Faça brotar de meus pensamentos amores,
E o Amor de Deus, faça em mim assentamento.

Santo Espírito, que veio pra quem temia
Sair do esconderijo e dizer de sua fé,
Dá-me a certeza de que vencerá a alegria
Essência infinita do que antes de tudo é...

sábado, 26 de maio de 2012

Nesta noite

Nesta noite em que as estrelas sucederam a tempestade,
E a chuva deu lugar a um céu de pequenas luzes salpicadas
E os ventos sopram do frio que relembra vozes passadas
De amigos que no tempo infinito nos marcaram com sua amizade,

Nesta noite, entre a pouca sombra das árvores na Lua Nova
Bacuraus cantaram sua sinfonia de choros de gravidade
Seus sopros de singularidade em melodias de brevidade
A singeleza da noite me inspirou re-pensar o que me renova

Pois a beleza de tudo que me cerca tem asas com que corta
Os ares da eternidade entre as luzes que no firmamento
Marcaram rumos de navegantes em busca do que importa

Que é o encontro, que faz com que tenha sentido cada momento
Que juntos vivemos neste tempo que pra nossa vida é a porta
Que temos que atravessar pra chegarmos ao definitivo sentimento

Veredas do Cerrado

Nas veredas onde se adensa a mata
As águas sussuram notas de força
Em buracos de tatu, garras de onça
Muito nó que de cipó se ata
Borboletas azuis e saltos de corças
Miríades de sapos em qualquer poça

Ali serpenteia veio d'água quase rio
Ali clareia luz do sol bem brandinha
Mansinha é a Brisa que de onde vinha,
Era vento sem impedimento no vazio

Ali coexistem a jaguatirica e o preguiça, pacífico
Ali dormem morcegos em galhos de pequi
Soberbos animais deste gerais tão específico
Veredas do cerrado, cores e sabores daqui

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Noite fria

O vento uiva entre sucupiras, carvoeiros e pequis
Bacuraus e corujas afinam e regem os saraus
Que as finezas da noite candanga pintaram em meu quintal
Fazendo com que, apesar de tudo, valha a pena estar aqui.

E as estrelas iluminam este momento em cantos cantado
E a Lua nova renova meu coração, por este canto encantado

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Pureza de criança

Olhar pra mim me deixa tantas vezes
Assustado, perplexo, desconexo, angustiado,
Perdido, cansado, desiludido, descontextualizado,
E os segundos desta sensação parecem durar meses.

Mas intuo que olhar seja um caminho sem volta,
Se me olho, se me vejo acende-se como um lampejo
Um fiapo de Luz onde se escondia apenas o desejo
De ser melhor, espremido sob toneladas de medo e revolta

E a Luz, uma vez chegada, terá poder de regar
Os campos onde está plantada toda a esperança
Que terá, após tantas eras, o poder de frutificar

E fará, nos dias vindouros, uma inesquecível festança
Esta festa de mim, que decorre de decidir me olhar
E perceber que, apesar de tantos erros, ainda tenho pureza de criança...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Superar as agruras

Nesta lida dura, que o todo dia de todo dia, pede a cada um
Só nos sobra o sonho, amparada por nossas ternuras
Suportado pelo grande amor, que é espaço das canduras
Que entre nós nos damos, cada vez mais, sempre mais algum

Pois que quando nada mais nos sobra, além do amor
Tanto temos, tanto podemos ainda com este grande tesouro
Que a história é pródiga em contar quem perdeu prata e ouro
Quem jogou fora tudo que tinha, sem perceber o valor

Da esperança que a tudo salva quando entre nós é compartilhada
Da visagem da Luz de Deus que todos os dias se levanta
No alto do céu com o Sol, pai da experiência desta caminhada

Que fazemos nesta terra, em que o canto dos passarinhos nos encanta
Em que a cor de cada flor enfeita, e faz a suave esteira perfumada
Neste nosso caminho de superar as agruras, ainda tantas...

terça-feira, 22 de maio de 2012

Criar é alimento

Sucede que me encontro sempre em campo
Com a criação, que a minha alma anima
Com a produção da vida que ao meu querer mima
Como a mãezinha carinhosa que aponta pirilampos

Na noite escura pra espantar o medo de seus filhinhos
A mãe zelosa que acarinha e aquece os corpos dos seus
Como a onça que olha procurando como quem perdeu
Pra deixar tudo certo, pra ser só a gestora de todos os carinhos

Assim me alimento do generoso fogo que constrói
Da labareda que sucede graciosamente tijolos e cimento
Da energia toda da vida que tira a dor infinita que dói

Na certeza de que criar há de nos afastar do tormento
Como os cantos de passarinho sobre a grande mó, que mói
Como a infinitude altiva da existência, da qual criar, é alimento.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A paz da caminhada

Na sequencia destes passos, um após o outro, minha caminhada
Sigo nesta direção, rumo ao que convenciono chamar destino
Sinto que apesar deste tanto tempo ainda sou um menino
Que nem bem sabe se este caminhar se destina ao nada.

Pois que seguir  tem antes de tudo uma definida marca
Que é permitir que coisas novas vão se desenhando
Na medida em que os passos pacientemente vão se superando
Enquanto pelo estradar a própria estrada se alarga.

Mas mesmo que nada seja o lugar onde no fim chegarei
Mesmo que tudo que sonho seja feito de refinada ilusão
A grande descoberta é que o caminhar é o que levarei

Quando nesta terra tão linda deixar apenas a canção,
As canções que na palha encantada, alegre soprei
Quando a Diva me cobriu de beijos, e de paz meu coração.

domingo, 20 de maio de 2012

Nosso lugar

As vezes, num dia de tanta, tanta peleja
Há gente que não veja...
Gente de toda forma, que se vê, e se sente,
É sempre o que há...

Há gente que não pesa as palavras que solta,
E nas retas em que vida sempre volta
Se escora na revolta pra, empertigado, anunciar:
"Sou injustiçado,
Por que quando aquele outro, ou um,
Fez algum pecado,
Eu mesmo não estava lá..."

E quem nem se lembra das razões da vida,
Que vai continuando entre uma lapada e outra da lida,
Se pega assustado a meditar:

"Não é que o desembestado,
Neste alarido sem perspectiva de resultado,
Pode até ter seu peso, seu arrazoar?"

Mas a vida é maior que as penas,
E quem não se prega nas cruzes pequenas,
Pelo sempre sem sentido lamuriar,

Voa pelos céus de mares e copas,
E entre copos, massas e notas,
Vai compondo a canção de louvar:

"Viva a Vida, razão, sentença e nosso lugar"

sábado, 19 de maio de 2012

A melodia de todos os cantos

A vida dói dores qualquer que seja o canto
Do corpo daquele que naquele momento sente
Doloroso e dolorido está sempre o vivente
Porque a dor, da vida é inerente, eis meu espanto

A realidade é que perceber este dolorido estado me espanta
E sempre me espantou, em todas as vezes acontecidas
Uma vez que antes de tudo meu espírito sonhava que a vida
Era a materialização desta alegria que minha poesia canta.

Então, me resta ao reconhecer a tão natural e corriqueira dor
Fazer dela a matéria prima da construção do encanto
Pois que se sei do que dói, do amor também sou conhecedor

E dos feitiços da beleza tantas vezes compus acalantos
Com que ninava meus filhinhos no meio do vento aterrador
Que soprava as melodias que eu recolhia de todos os cantos.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

As dores da vida

A vida dói dores, qualquer que seja o caminho
Que tomemos, ou que de nós seja tomado
Pois já nascemos com a marca de um pecado
Que eu tenho certeza, pelo menos, que não fiz sozinho.

Ainda assim as dores doem no todo dia de tudo
Como uma chuva que não passa, ou um Sol que queima
Ou um arranhão na quebrada vidraça, ou a dor da teima
Em seguir deixando de calar e me dizer mudo

Pois só me resta seguir estas potenciais bonanças
Que pro nosso caminho, o melhor é sempre acreditar
Que pra isto estão sempre a nos ensinar as crianças

Que as dores que passamos são pra cada um de nós acordar
Pra realidade de que superior a todo sofrimento é a esperança
E que, se as vezes tememos o futuro, é porque ainda não sabemos recordar.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Telas alegres

Neste caminho em que busco meu caminho
Viro-me por estradas curvas nestas viradas
Quando a direção se apresenta na própria estrada
Em que continuo os passos apesar dos espinhos

E assim sigo eu, valente perdido caminheiro
Sagaz temerário que não teme se perder
Mesmo quando tudo que aparece parece ser
Descaminho do caminho em que sigo por inteiro

Pois que não sei menos do que tudo ao caminhar
Menos que a vida toda dedicada à procura
Em que me abasto na esperança que seguir pode dar

Pois a certeza de chegar na bonança em meu peito perdura
Apesar dos pesares que a vida insiste em pintar
Nas telas alegres que sempre vem após a noite escura.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

De onde viemos, pra onde vamos

Nesta viagem que faço, em que antes busco estar comigo,
Sigo feito caminhante que anseia em noite escura por estrelas...
Pois que consigo quase sempre, olhando, entre as nuvens vê-las
Mas nem sempre a real direção que seguir, delas, consigo.

Ainda assim sigo e digo pra mim mesmo que devo caminhar
Que devo não parar ainda que toda vontade seja esta
Que só acontecerá com toda propriedade a tão ansiada festa
Quando por fim a caminhada encontrar o ansiado lugar.

Onde nossas esperanças achem água, pouso, pasto
Sombra, tranquilidade, esperança e a imparidade da vista
Da alegria de estar neste caminho tão pequeno e tão vasto

Onde o nascer do Sol seja o nascer da certeza prevista
Na orígem da caminhada, quando deixamos o lugar nefasto
Da dor, da maldade, na direção da alegria tão quista.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Oportunidades mais que genuínas.

Nesta nossa viagem, enquanto ainda estamos aqui,
Eu espero, penso que todos esperamos
Que se distancie o dia em que partamos
Mas é certo que não sabemos o dia de ir.

E pode ser a qualquer momento, qualquer instante...
Mas eu espero que seja daqui a muitos, muitos anos
Num tempo em que os empecilhos de meus planos
Já sejam parte de um passado esquecido e distante.

E nesta luta, antiga, que agora se manifesta
Sejamos como a Luz que perfeita a tudo ilumina
E faz da existência de quem a procura, festa

E permite ao moço achar que a vida não termina,
E ao velho pensar que sua sabedoria é a que presta,
Mas que a nós todos dá oportunidades mais que genuínas.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

O que buscam as hostes

Numa manhã qualquer da vida vi hostes:
Vi hordas de sem-pátrias que se aventuravam
Por caminhos sem volta,
E, por fim, se encontravam
Onde nada faz sentido, onde tu não notes
Que de tudo que havia, nem uma nota
Se solta pra além dos sentidos,
E os ouvidos, sempre tão fortes
Chamam pelo perdido alarido
Que o pecado mais antigo
Canta numa noite perdida, onde os fortes
Se aventuravam em terras de conquista,
Terras novas, onde a vista
Se solta feito um potro novo, e forte
Um povo que o povo do leste,
E um povo do sul, do grande monte azul,
E um povo, que oh! Deus, nos deste, um povo do Oeste,
E por fim, das terras carmim, um povo do norte,
Todos estes povos, sonhavam com o tal potro,
A liberdade com que sonham todas
As hostes.

domingo, 13 de maio de 2012

O bem da vida

Outrossim, não se viam estrelas no firmamento
Estavam sob nuvens queridas para a terra
Que esperava pela chuva que anunciavam as serras
Em trovões que prometiam fim dos tormentos.

Como a vida que nasce na dinâmica do mundo
E concede a graça de permitir solto criar
A todos seus filhos que se deixam inspirar
Pela grande alforria do Divino Espírito fecundo

Que nos deu a possibilidade de partilhar da criação
Quando nos trocamos as vidas que vão e vem
Quando nos ensinamos, pais e filhos, por vocação

Que a riqueza maior da existência é estar também
Nesta terra, entre os que nos reconhecemos irmãos
Quando de nossas mães recebemos da vida, o bem.

sábado, 12 de maio de 2012

Gênesis

Nas árvores que há tanto tempo fizeram a vida
Eu estava, meu ser, meus inícios, meus carbonos
Estavam lá onde se firmavam meus abonos
E se sentiam meretrícios sem culpas ou feridas

Mas antes mesmo de tais árvores, nas gramas,
Nas lamas da terra fecunda gerando capins,
Assim, estava eu em minha essência sem saber de mim
Parado, saltando o viver antes das mamas.

E ainda antes das gramas, estavam meus fundamentais
Estavam minhas bactérias espremendo dos minérios
Sorrisos de movimento em seu inerte tão sério
Num tempo antes do tempo e antes dos ais

Mas, por incrível que pareça, antes de ser terra
Que floresceu em simples vida transmutada
Que na noite escura fez radiante e luminosa alvorada
Era eu o espírito solto que o movimento desemperra.

E antes da tristeza destes olhos meus,
Antes do tudo que ao infinito encantava
Quando era muda a sinfonia do nada
Vagava entre abismos o que chamamos Deus.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A beleza de seus cabelos

Nesta manhã de Sol teus cabelos me chamaram a atenção...
Não pela cor, insuspeitada cor que, caprichosa, escolhes,
Não pelo maravilhoso volume que de tua descendência colhes,
Mas pelo efeito de moldura de infinita formosura de sua feição.

Teus cabelos, ondas de cachos como um mar de farturas
Cobrindo o equipamento por onde captas ideias e pensares
Luzindo na manhã resplandecente que em todos os lugares
Reluz na sagrada Luz que nos afasta de dolorosas agruras

E assim, eu sigo com o consolo que sua beleza em mim verte
Como um bem-te-vi alegre por estar em um pomar
Como um colibri que se alegra pelas cores das flores entre o verde

Como um martim pescador que vê um cardume arribar
Como a garça cheia de graça, com a rã em seu flerte
Voo na beleza de seus cabelos que meus olhos vieram fartar.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Pra que a fartura responda

Acordei hoje procurando um caminho de firmeza
Nos propósitos que sei, são para os meus a trilha
Por onde deve caminhar, com tudo, minha família
E por onde eu devo conduzir meu destino com certeza.

Despertei de meu sono na cama quente com este pensamento
Me levantei com o desejo de me fartar de esperança
Que, já disse, é ela meu ofício desde que sou criança:
Procurar os caminhos que mostram os sagrados ensinamentos

E eis-me aqui, procurando palavras pra lhes contar
Que este navegante, quando está no baixo, entre ondas
Não vê o horizonte desenhando seu "onde chegar"

Mas nem por isso diz a si, ou aos seus: se esconda
Que quem navega sabe que o barco volta a altear
E que ter fé e lutar é a receita pra que a fartura responda.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Quando me deitar na sombra da vida

Lá longe, no longinquo horizonte avistei glórias,
Num lugar em que me permitirei estar em pouco
Tempo de me deixar na solta rede balançar solto
Acarinhando netos ávidos por ouvir minhas histórias.

E avistar este lugar me traz lembranças de futuro
Me permite chegar a sonhar com encantos e facilidades
De sentir no peito finalmente o fim das saudades
E ver o néctar macio substituir o velho pão duro.

E nestes dias serei então alguém que olhou pras costas
No tempo que viveu e sobreviveu enfrentando a lida
Nos dias em que lutou e se encontrou com as respostas

Que por mais duras que fossem ainda não eram sofridas
Como o tempo da não vida em que ninguém gosta ou desgosta
Pra onde partirei quando me deitar na sombra da vida.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Minha teia fundamental da vida

Capinei venturas em minhas lavras de sonho
Colhi agruras enquanto ainda estava tristonho
E no final de tudo
Pude perceber
Que só sabe o que dizer
Quem é mudo...

Pois quem caminha descalço sobre caco de vidro
E não corta as solas dos pés num gesto atrevido
Percebe que é ilusão
Tudo o que não transcender
A consciência maior de ser
Passageiro da solidão.

E sigo aqui, me vendo
Vendendo o que ainda posso ver
Plantando o que espero ver crescer
Minha teia fundamental da vida, tecendo.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Pra não ser quem apenas morre

Tanto por fazer, tantas respostas que respostar
Como se o dia antes de ser já se começasse
Como se o tempo antes do relógio se adiantasse
Como a corrida precisasse ser vencida antes de iniciar...

Os dias me pedem que diga o que vai acontecer
Os homens e mulheres meus filhos e netos
Os seres que de tantas formas me são diletos
Esperam que eu responda pra onde temos que nos mover

E eu me sento pra postar aqui estes poemas
Me deixo seguir a esperança que vigia as torres
Destes montes de onde vejo o fim de minhas penas

Neste caminho singelo de onde tanta gente corre
Onde apenas os deuses sabem estratagemas,
Eu vôo pra não ser quem apenas morre.

domingo, 6 de maio de 2012

A lindeza maior que há

Refletindo sobre o gesto que cria
Ouço histórias que me sopra o vento
Sonho escolas que venham de dentro
Da experiência que a vida sopraria

Pra mim, que sou experimentador disperso
E na grandeza dos amores busquei suportes
E na gentileza de amadas encontrei meus fortes
Vou dividindo o pouco que tenho com meus versos

Estes parcos versos que esta noite verte
Com minha pequenez ousada que se dá
E permite que com a Diva sonhe um flerte

E sonhe com os filhinhos desta prenhez que virá
Não nela, mas em mim, que sou apenas galho verde
Onde a flor da criação gera a lindeza maior que há

sábado, 5 de maio de 2012

Os que celebramos a Lua

Nesta noite, em que a Lua se enche no firmamento,
Sua Luz sagrada me motivou, me tocou
Me fez cantar como o galo outrora cantou
Quando a Luz de Deus habitou os pensamentos

Dos homens e mulheres de todos os lugares da vida
De todas as sensações que nos habitam e completam
Das emoções que firmam o Amor que os Astros pregam
Da beleza sem fim que de dentro de mim me sopra a lida

Que me motiva, e motivou nesta noite clara
Em que as bruxas voam risonhas e nuas
E nos mostram que a vida tem alegrias raras

A nos criar, enquanto passeamos pelas ruas
Vendo a beleza prateada desta noite em que eu cantara
E cantaram comigo os que celebramos a Lua

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Criação

A criação abre suas asas sobre toda gente
Com a beleza encantadora e saborosa da Diva
Com o encantamento e a pureza lasciva
Que o criar propicia a quem se permite, e sente.

Sente prazer em se permitir escravo da criação
Escravo do movimento que auto-gera alegria
Que tira o peso da vida, e à dor alivia
E nos faz parceiros de Deus na primordial ação

E nesta tarde de lascas de madeira que se divulgam
Pelos espaços da casa quando belezas se fazem
Sinto a alegria solta que pelos céus pulsam

Quando um sente o prazer que desde sempre sentem
Todos os que se entregam ao gesto criativo, e usam
Gerar belezas novas das antigas que desde sempre existem 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Seu Menino cantou pra subir

Nesta madrugada ouviu-se uma cantoria,
Galos, gatos, corujas, bacuraus e curiangos
Se empoleiraram em galhos, cupins e bancos
Pra escutar quem cantava com tanta galhardia

E no céu se viram estrelas onde nem havia
Se viram luzes piscando fazendo algazarra
Agitação de anjos tocando em animada fanfarra
Tocando uma sequencia animada que não se repetia

E quem olhasse pra cima perceberia muitas cores
E veria rococós de machê em nuvens se esculpir
E pernas de pau em cortejo cantando louvores

Numa festa que antes não se tinha podido assistir
Neste lugar onde os santos andam sem seus andores
No dia que Seu Menino cantou pra subir

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Diante do banho

Estanquei diante da água do banho
Nas mãos toalhas, sandálias,sabão
Toucas, sujeira, canseiras, roupão
Estava eu paramentado e estranho
Neste momento ímpar me deparei
Com a felicidade leve como um rio
Com a improbabilidade de um rombo no fio
Com que minha vida, aqui, amarrei
E ali, diante do banho inevitável
Me deixei pensar nadas e poemas
Numa sucessão de versos inenarrável

Que se foram quando a água fez lemas
Da limpeza necessária e insofismável
Da leveza graciosa e serena.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Belezas tantas

Esta manhã nasceu fria e nublada
Como se num sonho tudo convidasse
À cama, ao repouso, que eu pousasse
Destes  voos em que mais nada

De tudo com que corro todo dia
Fizesse algum sentido na jornada
Dissesse algo de novo nesta estrada
Nesta nublada manhã tão fria.

E aqui de dentro com café e leite
Vendo o vento frio que açoita as plantas
Que balança as árvores pra que eu aceite

Que cada tempo é tão belo quanto o cantas
Tu, cantor, eu que canto meu deleite
Nestas manhãs frias de belezas tantas.