sábado, 31 de dezembro de 2016

Servir


Quanta gente linda!
Se a gente olhar direito,
esquerdo, no eito,
em cima e em baixo, ainda,

aqui, e e em todo canto,
é esta gente que faz
tudo que se come e traz...
E tudo feito pelo encanto

de quem ama, e sabe...
O amor da gente pobre
desta terra tudo cobre,

e certamente não cabe,
no que guarda o "Cobre"
e pro Servir não se abre...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

De encontrar D. Flor


Sabe quando o caminho
se inventa, e ensina
direções clandestinas,
e o Eterno, de repente, faz ninho?

Sabe quando se vai indo,
e o que era, vai ficando
e um novo, se desenhando,
e sem mais, tudo é lindo?

Sabe a lembrança humana da dor,
quando fica miúda, pequena,
quando até parece que serena?

Quando, na ponta da estrada se vê, Aquela Flor,
que neste mundo trouxe alforrias
e pintou belezas no céu da alegria?

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Não dói


Era uma vez,
um lobo inseguro
um filhote maduro
uma trilha montês
de passadas fáceis
e um atalho impossível.

Todos se juntaram
e juntos se arquitetaram
neste ser-me risível!

Ser, então, esta pequenez
que sobra soluços
instala aquedutos
e canta, canta outra vez,

fez e faz-me
recém-nascido, e adulto,
que constrói,
da dor de tudo
tempo em que ser
feliz não dói...

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Perguntas


Como se formam
coisas, como aquelas,
a que chamamos: "belas",
que aos olhos conformam?

Como será que se dão
as frases destas cantorias,
que nos enchem de alegrias
em momentos de claridão?

De onde vem o sabor
que os olhos sabem sentir
e os ouvidos veem luzir,

enchem o coração de calor,
fazem a Esperança existir,
e permitem voar, por onde for?

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Só vendo


Uma moça cantava
suas canções de vento
velhas ilusões por dentro,
e alegrias, ela se dava...

Uma menina vertia
ancestrais verdades
em eternizantes mensagens
e inusitadas melodias.

E eu, ali ao lado vendo,
esta novidade senhora
colorindo-se da flora

que de sua música nascendo,
que desta emoção aflora,
em Cirandas,
e o que mais, só vendo...

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Onde, quem me é Rei, nasceu


Nasceu um menino
num vilarejozinho,
pobre, miudinho,
empoeirado e pequenino...

A família era operária!
A mãe, quase adolescente...
O pai, velho e laborante,
carpinteiro em sua área..

Pararam num lugar distante.

O mais das gentes estranhou
o cheiro de estrada que chegou
com o velho, e a buchuda caminhantes.

Mas, as casas cheias de amigos:
"Ninguém leva hospitalidade consigo..."

E ninguém os hospedou!

E o que sobrou,
foi procurar abrigo 
entre pastores,
e os animais, que estes,
defendiam dos perigos!

Na gruta, onde dormiam
Bois, Burros, filhotes,
do eterno, de repente ardiam
as chamas do Divino Archote.

E a Luz se fez entre nós.
E soubemos
que não estamos sós...

Ainda que poucos se lembrem,
ao largo de tudo que sei,
não veio por, nem através de quem tem
mas entre os pobrezinhos
foi que nasceu este Rei.

domingo, 25 de dezembro de 2016

A quem serve


Do meio da gente
mais pobre, nasce
o sorriso mais doce,
a cor mais brilhante,

a oferta decente,
a partilha do mundo
pelos que o fecundam
com o que é importante:

O trabalho sorrindo,
os meninos brincando
e os cantos se colorindo...

A Paz se esblandindo:

"Riquezas do mundo,
a todos servindo!"

sábado, 24 de dezembro de 2016

Desponta


Neste dia encarnou
o Amor, receita de Fartura,
e nas casas da vida dura,
a ternura a tudo saciou.

Neste dia, o menino dorme
na rua, com frio e medo
lembrando o velho enredo,
de tantos meninos, tantos nomes,

e em todos, o menino vindo,
na noite fria e abandonada...
Sua família, habitou a estrada...

E entre flores e bichos, sorrindo,
um lindo, lindo menino aponta
tempo novo que desponta...

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Movimento


Lembro de uma velha mesa
de um velho quadro empenado,
na parede pendurado,
e de tanta confusão nas cabeças.

Lembro de ter medo
e da vida ser jornada,
e, apesar de ser madrugada,
nos receberem mais cedo...

Lembro das crianças,
carregadas às pressas,
da tristeza nas frestas...

Era o fim da esperança?
Acima do GOLPE, gritou dentro:

"Sempre maior é o Movimento"


quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Pequeneza


Uma pequeneza, linda,
serena, frágil e leve
pousou um soninho breve
neste peito, que ainda

sussurra canções antigas.
Vi, que o que constrói, então,
que o que dá calor às mãos
é se entregar pra cantiga,

e entender a tradição,
não como congeleira,
ou morta madeira,

mas sempre como invenção,
que canta o inesperado,
e constrói o Paraíso sonhado...

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Caminhante


Um Bem-te-vi me viu e cantou:
"Ouça o que te habita
e este corpo que te hospeda",
e no meu ouvido de pedra, vento soou....

Se mostrou, 
como faz o caminho...
E na ponta do raminho,
uma folhinha radiou!!

Então, mais que antes
resolvi seguir acima
com a velha fome de rimas,

e a sempre sina de avante.
Que o que mais velho, sou,
é caminhante que sempre caminhou...

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Da invenção da nossa música


Um silêncio intenso
se seguiu
ao comercialismo surdo e frio
que invadiu nosso tempo.

Um vazio de intentos,
se desprezou e (des)ouviu
sons e sabores dos nossos tios
pais e avós, no vento...

Eu sopro Oboés
com a reverência dos Pandeiros
e a transcendência dos Violeiros,

dos homens e seus rasta-pés,
e vejo Cellos e Gambas duetando
na nossa música se inventando...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

As notas do vento


Uma cantiga se pode ouvir.
Vinha de insondáveis distâncias,
ventava ventos de infâncias,
e se enlameava das alegrias dali...

Uma sonoridade de enormidades,
entoada por peitos aflitos,
por corações cansados e bonitos,
por choros e alegrias de verdade...

E eu tento cantar este som.
Tudo que faço ou penso
se fez em mim do que é imenso

que vem nas notas desta canção.
Uma música que ecoa no Tempo,
e o É, e o lê, em cada nota do Vento.

domingo, 18 de dezembro de 2016

Flores baldias


Um prédio tem vigas,
e em suas voltas traz
risível rompante fugaz,
lindas e feias, coisas antigas...

Um pátio navega
como o faz o convés...
E cada marujo, sobre seus pés,
verte mundos, e se entrega

ao ofício de conhecer!
Minha nave se fez zarpar
pra além do calor, amor, lar...

Pra de mim mesmo, tecer
santuários de flores baldias,
como há de ser, em mim, a alegria...

sábado, 17 de dezembro de 2016

Da construção


Quando tudo era vão
sem beiras onde chegar
ou esteiras de caminhar
nos espaços de imensidão,

e nossa terra ainda nem
rodava no mar de energia
de luz, poeira e bizarria,
de onde este nosso cosmo vem,

desde lá, já brilhava este olhar,
que projeta, em cada que vejo,
um querer-bem, maior que desejo,

e constrói laços de afeiçoar,
e se lembra dos tempos de tudo
em que se construiu,
e se constrói este mundo...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Deste seguir


Um novo instrumento,
uma nova afinação.

A cada dia que,
aprendendo,
vou de mim vertendo
outra e outra sensação...


Um particular momento,
uma inusitada situação.

Quando o Sol,
antes nasce dentro,
vai me refazendo
até que eu mesmo me dou a mão...


E dali, saio,
e saí,
correndo.

O que vai me costurando
é este imenso amor,
me mantendo...
 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Velha história


"A vida é uma caverna
repleta de escuridão..."
Diz uma velha história
contada por Platão.

Amarrado no fundo
o homem é....

"Na entrada da caverna,
é acesa uma fogueira,
da qual a gente só vê
uma luzinha passageira..."

Amarrado no fundo
o homem é...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Força


Como vivesse dias
de aflição e pudesse
sentir que tudo se abrisse,
pra crer, ainda, na alegria.

Como plantasse contas
entre as plantas lindas,
e procurasse outras,
pra plantar, ainda e ainda...

Os caminhos se vão à frente
de quem caminha sem medo,
e escreve o próprio enredo...

E pra além do que fere a gente,
estão estradas que não tem fim,
enquanto tiver força em mim.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Presente inscrito no tempo


Alguns pedaços, eu creio,
caem de nós, pelo caminho...
Porque se não caem sozinhos,
nos pesarão, pelos meios...

Estou seguro, que vai
mais longe quem é
levinho, e segue a pé,
do que o que junta mais, mais....

Desejo a meus pedaços caídos,
que a felicidade vivida
por mim, em nossa vida,

seja o que a todos é permitido,
como presente inscrito no tempo,
como tudo mais o que vivemos...

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Manhãs orvalhadas


Tenho sentido esta dor
que habita estes dias:
Medo que arranca a flor
que colorida crescia...

Mato que sobe morros,
fogo que dói, e congela,
aguda e dura cancela,
que fecha e solta cachorros...

Em tudo, sigo seguindo,
vendo flores nas janelas,
coloridades nas lapelas,

porque o que, sentindo,
meu peito de caminhadas,
já cantou, nas manhãs orvalhadas...

domingo, 11 de dezembro de 2016

Imensidão


Um canto caminha!
Como a costela do Boi,
vai por onde o tal foi,
vou eu, e esta Violinha...

Mas, quem vai,
na verdade não sou
(que o canto me carregou) 
e aí, canto meus ais....

E nem sei se canto,
ou o canto se faz
por onde é capaz,

em cada vez, espanto,
de ver toda canção,
abrir caminhos de imensidão...

sábado, 10 de dezembro de 2016

Costura


Uma linha de som,
um caminho de notas
costura minhas grotas,
e vazios, do que é bom...

E nesse meu costuramento
vou aparecendo em mim,
uma novidade de Capim,
uma enormidade dentro...

Foi costurado este Poema
numa melodia antiga,
Árabe e Rabecante cantiga...

E assim, me costuro em cada tema
tangido em Violas e Alaúdes,
Cítaras, e eternidades miúdas...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

No vento


Tão antigo é o sentimento,
que sabemos até seu gosto.

Nas fumaças que vão no vento
sentimos o medo, vemos o dorso
de histórias que já vivemos.

Eu agora, quero outro trilho!

Quero que outra canção, soemos
que em nós fará nascer o brilho
de toda a maravilha, que merecemos!


Tão mais velha é a Esperança!

E em cada flor que nasce, em mim,
fora de mim, nos jardins onde vou,
nas ruas em que tudo começou,
sigo, porque todo mal terá fim!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Encanto


O Sol se peneira
nas flores nos panos,
ao longo dos anos
nos centros e beiras,

nas horas de força,
nas casas e esteiras,
cidades e aldeias,
nas corridas da Corça...



Nos cria esta Luz,
cada dia que vem
cada vento e querer bem,

toda cor, que à vida traduz,
no que vejo aqui e além,
encanto que todo caminho tem... 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

De vencer a dor


Era um fim de era,
uma solta solução
áspera e sem noção,
sôfrega, que desespera...

Era uma gente triste,
que às vítimas culpava ,
e dentro de si, matava
toda humanidade que existe...

E no meio, flores, crianças
e este impensável cantor
que fez do canto, labor,

pra garimpar esperança
e seguir recompondo a festança
que há, um dia, de vencer a dor!

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Criadora Graça


Um erro discrepante
não obriga ninguém
a não ter nada, e nem
não poder nem ser gente.

Uma falha horrível
não faz o sujeito
ter menos direitos,
do que é imprescindível,


como o alimento pro corpo,
o Sol, pra consciência
a dignidade e a decência...


Porque não corrompe o sopro
vital, o crime que algum faça,
nem é maior que a criadora Graça...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

De se ser


Cada ser, em ser a si!

Função difícil, nestes dias
quase um tipo de rebeldia,
pra quem chegou até ali...

A radicalidade necessária
pra apenas ser o que sente
faz que nem se sinta gente
quem correr em outra raia.

E se as raias são muitas
o destino parece o mesmo
distante e iluminado segredo

que na soma de algumas contas,
será o fim das existências...
Por isso, de se ser, a urgência.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Guerra: ofício das elites


No Paraguay, pós-guerra
nenhum homem ou menino
com mais de cinco anos, sobreviverá!

Soldados brasileiros,
argentinos, Uruguayos,
quase sempre negros, escravizados,
os matavam aos fardos.

A maior parte dos negros soldados,
antes de voltar "à pátria"
foram eles mesmos, assassinados!

A guerra é o ofício das elites,
pra que se matem
os trabalhadores que fazem
tudo que se consome, e existe...

sábado, 3 de dezembro de 2016

Desde que existe gente


Sons são nossas canoas,
nos rios do tempo percorrido.
Assim cheiros e coisas boas
do que temos sentido.

Gostos e sensações, canções,
de tempos de antes
de nós, antigos caminhantes,
percebidas nos olhos e pulmões...

Viola, Alaúde, Madeiras,
ar e água, terra e semente,
encontrando além do aparente,

dentro da alma hospedeira,
chaves de uma ligação recente,
que existe, desde que existe gente.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Ser o que queremos


Que nós cantemos
o que queremos ouvir.
Que possamos criar e parir
os filhos que temos.

É que, maior que o porvir,
nós ainda não sabemos!

E o que nós fazemos,
então, é deixá-lo vir...

E a cada dia, o recebemos
na forma do Sol, e seu luzir,
na condição do dia, de existir,

pra ouvir, e cantar o que somos,
ou, o que dentro de nós busquemos
e nossa eternidade possa brandir...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Sem servo e senhor


A nossa chance é conhecer!
A melhor oportunidade
que será dada à humanidade,
será, onde, e o que é, entender... 

O conhecimento cria.
Saber faz a Lua girar,
no céu escuro e estelar,
e faz a noite e faz o dia...

Saber cria as montanhas,
os vales, as ruas, cachoeiras,
becos, oceanos, ladeiras...

Então, não querem que tenhas
o saber criativo e gerador,
que criará o mundo sem servo e senhor!