terça-feira, 31 de março de 2015

Dos que ainda não viemos


Origem de tantos males,
praia onde chegar,
mastros de distante avistar,
ilhas de vertentes dos ares,

horas de calor e espanto,
viagem ao inusitado brejeiro,
esmaltado prato brasileiro,
ao medrado oprimido acalanto,
 
vertido em ovo frito e feijão,
lambido até o último  arroz,
cada palavra mastigada, pois,

o que vem pelo que é expressão,
das gentes que somos e vivemos,
falará aos que ainda não viemos...

segunda-feira, 30 de março de 2015

Ardendo




Meu canto é de dor,
é de assento, do intento,
da Paz desde dentro,
insensato valor,

de pranto, este canto,
que de susto, insisto,
e me calço e visto,
do que Viola e encanto...

E tanto, tanto, caminhando,
pelos vaus do rio, remanso,
repasto deste trilhar insano,

vou, porque o canto chamando,
porque o canto vertendo,
da dor, do riso, ardendo...

domingo, 29 de março de 2015

Lar ancestral


A Africa canta nas madrugadas,
em tudo e nos caminhos,
na cor dos muitos passarinhos,
a quem demos nome e nada...

A África é o ponto de partida,
de onde viemos todos,
onde cada se encontra no todo,
onde está plantada a ferida,

que fere o mundo com correntes,
que prenderam pais e avós,
e trouxeram Dendês e Ebós,

mas, antes, hoje canta contente,
"N'kosi Sikelele", pra lembrar,
a mais antiga terra, de nós, lar...

sábado, 28 de março de 2015

Vendavais


No Sol, do dia, da espera,
da sólida esfera deste vasto,
do que me amplia nefasto,
ou, do novo, me re-tempera,

me re-cozinha, e o que vejo,
é que ao contrário do que parece,
estreiteza de tudo, tudo se re-tece,
tudo se eterniza em lampejos,

e da estranheza do olhar,
bordo com as cores palhetais,
de tantas cores pensadas mais,

e tantas ainda por visitar,
ver o real do mundo dos ais,
vale de onde virar vendavais..

sexta-feira, 27 de março de 2015

Senso


 


Qual a extensão do inédito?
Me solto absinto,
ou sucinto e decrépito?

Sinto que só ido,
possa ter sentido,
este ser fétido...

quinta-feira, 26 de março de 2015

Carmins


Eu era só o vão, entre mim,
e o que eu vendia, pregão,
dores que alimentavam o chão,
e aturdiam o vasto, feito capim...

E saía, onde só o fogo ardia,
e a dor era o labor eterno,
como um atropelo, fraterno,
uma violência amorosa e fria...

Mas, sempre, e antes, seguia,
porque pior que nada, nem há,
e vazio, o que nos faz calar,

e sem fala, sem cantoria,
e o vão entre mim e mim,
rio preto, Piraputangas carmins

quarta-feira, 25 de março de 2015

Alvorecer


Cantigo-me, em aturdimentos,
nos batimentos do que meu cárdio,
músculo vadio e exato, um rádio,
que me liga pelos sentimentos...

Me liga pelas cantigas, e nelas voa,
como passarim que canta livre,
que nos céus passeia e vive,
e do ar colhe o que entoa...

E assim me sigo, me aturdindo,
menino já velho de ofício,
em busca de velhos orifícios,

onde encaixar o que, parindo,
me deitar pra ver o amanhecer,
onde chegará, sempre, alvorecer

terça-feira, 24 de março de 2015

De sonhar, aqui...


Brumas nesta manhã,
e eu re-invento o dia.
Até antes das hortelãs,
ou do que se sabia,

como, colher folhas na horta,
beber quando a noite acaba,
das gotas que nas folhas, água,
um mundo tem ali sua porta...

E ao gosto de chocolates,
cafés, cheiros e Bem-te-vis,
e Saíras nos Aguaís,

e Sanhaços nos Abacates,
e invenções do que há de vir,
cantigas de sonhar, aqui...

segunda-feira, 23 de março de 2015

Estar


A vida re-torna,
touro torno que rodopia,
a vida havia,
e há no que se torna...

A vida re-brota,
totalmente torta-cadente,
linheira e descrente,
e se lança no que importa...

A simples via,
onde o ar rarear,
ou for outro ar,

me lembra o que via,
quando olhava por olhar,
quando o que havia era estar...

domingo, 22 de março de 2015

Alimento e festa!


O planeta nos alimenta,
e se alimenta de nós.
E se apropria, tantos a sós,
e é fecundo feito a placenta...

Somos o sustento, e a sobra,
e o dobro, e o arroubo, o sim
o caibro, o alfarrábio carmim,
e tudo que na terra se desdobra,

e em astuto verbete, carne e verde,
e sórdido verme, e sangue e seiva,
e tudo pra se cantar, que aqui nos leva,

dos pássaros do ar, se apaga e acende,
e vasta e fende, vem e vai, e se manifesta,
no que alteia e liberta a alma em festa...

sábado, 21 de março de 2015

Sem fim


E só o que ser,
nada,
inverno e madrugada
a verter...

E o pó, do que escrever,
dizer nada,
intensa e abandonada,
do que dizer...

E isto,
que sou,
vento que passou,

cisto, Mefisto,
que do ar sobrou,
vazio que se completou...

sexta-feira, 20 de março de 2015

Refrigério


O Araticum se solta da semente,
sua polpa areante, doce e forte,
mistura os gostos de sul a norte,
destes Cerrados, sensos pendentes,

cantos ainda pra tantos, inexistente,
como se a terra e seus caminhos,
fossem erro, plantas só de espinhos,
e nada do aqui se criou, parece decente...

Como fosse pecado, sermos o que somos,
como fosse errado aquele que se apresenta...
E volta e se senta à mesa, calma e lenta,

sensata e arroubosa, e vital como fomos,
como é o Cerrado dos tantos encantos,
campos da vida, refrigério destes meus prantos...

quinta-feira, 19 de março de 2015

Saúdo e vejo



A força da cabeça gritou na mata,
no brado da lida, que a cada dia,
na sanha bela desenvolve a liturgia,
da dança de guerra, na Paz inata,
na ponta da lança do tempo passando,
tudo seu sendo, Pai, do que é quando...

O grão, se vê, se veja, se seja e voe,
com lastro e com o vasto de verter,
e ver, e ser um com o que é meu arder,
meu estar na certeza do que em mim soe...
O Pai, o sumo, gumo da faca, meu um,
em casa, nas praças onde se hálita Ogun!

E eu só, por encontrado visgo,
voo e fisgo minha própria boca,
uma cabra inédita, mas não pouca,
berrando e dando leite e pão e figos...
Peixe que nado em lagos no mar,
o movimento de tudo, pode tudo mudar...

E saúdo e vejo,
Pai destes tempos,
Força dos ventos,
Saúdo e vejo!!

quarta-feira, 18 de março de 2015

Me trans-forma




















A manhã amanheceu difusa,
e alegre, e eternamente livre,
como as borboletas que não tive,
os passarinhos, árvores e uvas...

Mas, no etéreo do ar, do vento,
eu lambo-me enquanto sugo,
e nas escadas da chuva subo,
e solto-me nas estradas de dentro...

E no vazio do que me largo,
vou galgando passos, um a um
como os pés cansados do jejum

os pecados, que cada um amargo,
os pedaços do que entalho, forma,
des-forma, e pelos meios me trans-forma...

terça-feira, 17 de março de 2015

A Lira que a tudo criou


Era uma cilada da alegria
uma sombra que alentava,
uma estrela que brilhava,
uma dor que alivia e contagia...

E nas vísceras do mel, sopro e breu,
e sopa e bife e verbaletes
e instâncias, em discrepâncias verdes,
e sobre mim, algo se deu.

E algo se enrosca no que virá,
como cordão de jóias,
esculturas de flores e Jiboias,

e Leões e vestígios, onde se dará,
o eterno da efervescência da pira
sombra da Lira que a tudo criou!

segunda-feira, 16 de março de 2015

Tampas do mundo


E nas tampas do mundo,
me encontrei com ares frios,
os mesmos que nos vazios
dos tempos povoavam tudo...

E povoavam as letras, cores,
e mostravam onde vertia,
a vida que nem sempre havia...
Pelo ar se conduzem os sabores...

E se conduzem as margaridas,
e suas velas amarelas de encantar,
suas cores girassóis, pra mostrar,

que só a dor, destas velhas feridas,
elas mesmas já não podem parar
o canto infinito que me faz continuar...

domingo, 15 de março de 2015

Palavras


E no carro, no que nos leva,
a espera do novo nos conduz,
dirige na estrada que busca a Luz,
e pras alegrias da jornada se entrega...

E num sonho, que se revela,
nas pequenezas do que vai além,
nas imensidões do que não tem,
eu, e tantos mais, enfunamos velas...

E é que mais que tudo, ao fim
se diga o transitório, feito de fases,
o que eu faço, fiz, até as pazes,

com quem nem enxerga a mim,
do que sou, palavras mordazes,
palavras mais fortes, ou suaves...

sábado, 14 de março de 2015

Cantoria


Sabor forte, de uma cantoria,
dum jeito que não se sonhava,
intensidade que transbordava,
extenso calor de toda arrelia...

E nasceu onde o som
por si, pelo tempo, voa,
eternidade que de mim ecoa,
canteiros da voz, reverberação,

na cantiga que de instrumentos,
corta voltas na direção do vento,
astuto aspirante ao pensamento

arguto e cortante rol de paramentos
com que celebrou-se a glória
linha que costura a nossa história.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Coragem


 


O medo me assiste.
De lá, de seu confortável
gabinete, emprego estável,
sente que meu peito palpite,

pois a vida se afunila,
em cada momento
ou infinito rebento,
ou perfeitamente me asila.

O medo vê tudo
de dentro dele
no centro da pele,

ele, que é o rabudo,
me segura e joga,
só quando se empolga...

quinta-feira, 12 de março de 2015

Fractais




O Universo, ele mesmo, União,
bate e volta em tudo em volta,
se prende, se arrepende, solta,
e rodopia, parado e inquieto pião...

O inverso, embora haja outra opinião,
se desvincula e sobrepõe a rota,
canta cantigas como quem namora,
a, desde as antigas, mais nova compreensão...

E o tudo e o nada, olhados de perto,
nem se olha, porque o olhar é inexato,
e está dentro do que esta sendo olhado,

e diz, porque o dizer é de certo,
o que nos distrai, desfaz o acabado,
e sobre tudo, o pequeno, fragmentado...

quarta-feira, 11 de março de 2015

O novo


Todo dia, e agora, verto,
de mim a espera do novo,
inspiração com que movo
a vida, própria pelo incerto...

Pois o que vem, antes, sempre,
não se sabe direito como,
e se apresso o passo, o retomo,
tal qual antes, pra re-sair do ventre.

Que cada dia pinta re-nasceres,
alimenta re-criares, inusitâncias,
re-habilita inéditas instâncias,

e faz de mim canteiro dos seres,
vespeiro de mel, vespas sem ferrão,
onde o novo nascerá em cada coração...

terça-feira, 10 de março de 2015

Belezas



E então, quando tudo sobra,
é o medo, a assustadora vibração,
que toma do corpo e do coração,
e impregna cada ação desta obra?

Só tenho feito, levantar os olhos,
e procurar na direção do clarão
e ver que se há peleja, há conclusão,
tempo da máquina se por seus oleos...

E assim, seguirá e eu seguirei,
os rumos que nos independam,
máquina e homem, livres se vendam

ao vento, que máquina, e eu escolherei
buscando belezas que dos veres pendam
e delícias que, todas as horas, choram.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Eterno abraço


A música de nossa terra,
cantou suas notas de voo
alçou asas como as entoo,
passarim que no céu se encerra...

E chega lá de tanto cantar,
como o soar da lira no peito,
o enlace que inspira respeito
respira e se vai, vocação de voar,

e seus cantos, flores e cores,
mostrou tanto à nossa gente,
que no coração, um estrondo se sente,

de uma saudade que, pra lá das dores
salta da vida, pra cantar no espaço,
pra Inezita cantante, eterno abraço

domingo, 8 de março de 2015

Canto que me vem


Na cantoria, minha alma
se lava, pobre e liberta escrava,
rica e prisioneira liberdade ignava,
ignóbil e assustada calma.

E no coração da eternidade,
os instantes da passarada, gorjeios,
nas porteiras do que cantos e meios,
estouros e maneios da saudade...

E soluços de onde vingaria,
a beleza sem esmero, de graça,
nas praças, Camélias nas vidraças,

Pixorolês na beleza toda que ardia,
e pras mulheres, seres de meu querer bem,
um canto de gratidão, me vem...

sábado, 7 de março de 2015

Se ensina?


O que eu me pergunto,
é se há o que se possa ensinar.
Se há algum mar que atravessar,
ou algum outro lugar, mais profundo,
ou alguma praia, porto que aportar...

A mãe ensina sua filha a lavar,
a cozinhar, a acalentar, varrer,
ensina a observar o que está pra acontecer,
ensina a ler, ver o que não se pode enxergar...
Não seria isto tudo, só um re-lembrar?

O pai ensina ao seu filho a corrida,
o labor da peleja, o sabor da Cereja,
a ter alegria nas belezas que se veja,
e não desistir se acontece a dor sentida...
Mas não será isto tudo, só a própria vida?

Eu sigo esta labuta de pernas pro ar.
Em cada dia, uma invenção que valha,
uma incerteza que leve palha se espalha,
e se venta nos ventos do que está por ventar,
costurando um futuro... Será isto aprender, ou ensinar?

sexta-feira, 6 de março de 2015

Errar, e ir em frente




















Eu era acerto e paixão,
uma sobra, um erro, e estrada,
e o escarro do que o caminho mascava,
e caminhada, caminhada, chão...

Eu era e sou, pra mim, incógnita.
Um verbo na clareira que aumenta,
um servo que caminhando arrebenta
suas correntes, pra cair na corrente insólita,

e ser de novo criador de si,
cantador de arrebaldes e ventres,
e seios e dentes e sorrisos contundentes,

e esbanjos de alegria só por estar aqui,
e arranjos de arrelia, e ver toda gente,
cantar os arroubos de errar, e ir em frente...

quinta-feira, 5 de março de 2015

Melhorar na vida

leandromd.blogspot.com




Na alegria, eu corria cachorrinho,
que nasceu a pouco e só sente,
avalanche de fogo, neve ardente,
mundo todo por encontrar caminhos...

Na tristeza eu visitava lodaçais,
que no lodo a vida brota,
como as pétalas flor, inda rota,
que primeiro viu o Sol nos meus quintais...

Então, busco a alegria como tino,
porque o que me habita
a cadência do ritmo que me palpita,

é a velha sensação, desde menino,
que a incompletude arde e dá guarida,
ao desejo, alegre, de melhorar, na vida...

quarta-feira, 4 de março de 2015

Cantares da alegria


De longe, de onde não
se esperava veio o complemento:
Cantar desfaz meus desalentos,
re-faz o corpo, e o deixa são...

Cantar re-põe as mesas,
as horas perdidas e encontradas,
as beiras de pastos e estradas
e desfaz enganos e surpresas...

E se, as vezes, o vazio se sobra,
maior será cada cantoria,
infinitas possibilidades de harmonia,

e silêncios que cantam sua obra,
que é a de nos mostrar a alforria,
que habita os cantares da alegria...

terça-feira, 3 de março de 2015

Pomares de dentro


Uma cantiga sempre
me sufoca e sai
pela güela, ai, ai,
pela orelha ou ventre...

Uma cantiga moça,
velha, mulher, menina,
Consuelo, Dodô, Clementina,
Fridas, lindeza que se esboça...

E me espaça nos eternais
como canteiros do Tempo,
como cantis, água vertendo,

na escuridão dos ais,
esta amada cantiga nascendo,
dos meus pomares de dentro.


segunda-feira, 2 de março de 2015

D'onde?


O que, afinal, nos conecta?
Qual a base, o topo que arde,
a água que flui (d'onde vem a arte),
o arco que nos lançou feito setas?

E na direção que aquele tiro tinha,
como nos ligamos entre nós,
o que somos, o que foram avós,
e tios, e antepassados de toda linha?

De onde vieram os questionamentos,
nossas bandeiras de luta,
nossas composições da labuta?

O que devaneio nos pensamentos,
é que nossa origem há de estar,
onde toque harmonia em todo lugar.

domingo, 1 de março de 2015

Cores e histórias



Este Universo,
que é o mesmo pra tudo
que existe,
em mim insiste,
em cada verso se revela e dispersa,
e, incrédulos olhos, me mostra o mundo.

Nas medidas contidas,
num acordo de tempos
impensáveis, antigos,
se faz aceso, fogo no vento,
arde em tudo, até comigo,
o fogo a que chamamos vida...



E em medidas não sabidas,
por nós (que não sabemos),
as nossas, de cada ser,
em todos que somos este parecer,
se extingue e liquida,
pra se repousar no mar de onde viemos.

E chamamos à isto morte,
por não sabermos que nome,
como é que se consome,
ou de onde volta e sorve,
as todas realezas do vivido,
as eternas miudezas,
grandezas do em nós, medido

Se sei, é que vou aprendendo,
em cada morte, a vida nadando,
a vida, sua palheta, vertendo
cores e histórias, pintando...