sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Do que é...


Qual a forma mais atual
da certeza plena e absoluta,
que se impõe de forma resoluta
e se estende pra além do bem e do mal?...

Antes do infinito, a inteireza
da magnitude que se expande
e lambe, e atiça a glande,
e aumenta a liberdade de nossa mesa...

Mas penso no amor como conceito,
que abre os olhos, e as intenções,
as levezas e as inflexões,

independentemente de com quem me deito,
com quem me levanto, e me mantenho em pé
feito a promessa de ser, cada um, tudo que é...

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Catapimba!!


Os fatos, os ditos, as horas...
Cada uma das dores, viva,
enquanto choram as cativas
mães das Praças, das metáforas...

No paço, eu vasto e mendigo,
canto meus azares e sortes,
onde não se atreveria a morte,
que se esconde enquanto digo...

Esta cantiga me verte de dentro,
do interno dos intestinos,
da minha vida desde menino,

de todo cheiro que me chegou no vento,
de toda água que me deu a cacimba
da vida que, dolorosa ou leve, Catapimba!

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Cortejos


Um vasto vazio encheu
meus dias e sonhos
alegremente tristonhos,
tristes, na alegria que se deu...

Eu pensei que entendia,
mas nem ao menos pensava
o que de fato se dava
e com a gente, acontecia...

Só fui me dando, sentindo
a maré do mar carregando,
no rio, a correnteza puxando,

e em mim mesmo, a vida luzindo,
em lampejos do que fomos fazendo,
nos cortejos dos santos mais lindos...

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Da vida


O mundo pode ser redescoberto
a cada olhar que se dispensar.

O fundo do poço está sempre perto,
e nem longe está o fundo do mar.

Eu sempre fui lento e esperto,
feito um Bugio a se balançar.

Mas antes de tudo, o incerto,
foi o que me fez me aventurar...

Sinto dentro uma paixão aflita,
como um laço de flores,
ou um abraço que acalme as dores,

ou ainda uma arrumação de fitas...

Entre todas as minhas diversas cores,
escolho a que me lança na vida...

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Alento


Caminho, volta e sentido
são a apresentação da vida...
Nos lambem a dor sentida,
e acinzentam o colorido.

E colorem o acinzentado,
na mó dinâmica virando,
ossos e mágoas triturando,
sangue e alegria por todo lado...

Seguirei, ou como vento,
soprando canções sutis,
nos campos renovados e senis,

ou como solo lamacento,
onde farão casas os Siris,
e pra eles, serei alento...

domingo, 26 de agosto de 2018

Costura


Medir, avaliar, proceder.
Andar pelos vales retos,
pelos enveredantes e diretos
morros, vivos em cada ser.

Sempre fui militante indireto,
nunca quis direções,
a das inexatas noções,
mas o contato direto!

Cantarei meus hinos, solto,
no mar que ruge ondas,
no ar que venta e solta,

nos morros do solo revolto,
onde olho horizontes luminosos,
e costuro sonhos com meus ossos...

sábado, 25 de agosto de 2018

Verteduras


Todo conhecimento
veio do céu, do ar,
é sólido concretar,
e constrói-nos momento a momento...

Tudo no sentimento
é a vida que ganha vastidão,
é taça de beber com a mão,
é libertário libertamento...

Eu, feito menino, voo
estradas sem fim, alturas,
profundidades e leveduras,

levezas do som que ecoo...
Desenhando-me em pinturas,
em tudo que verto e sou...

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Por fim


Uma vela, um velho velame,
enroscado entre redes,
nos toscos pregos nas paredes,
do barraco dos barcos e vasilhames...

A memória se enrosca
entre fios e remos,
e penso se fico, ou iremos,
nesta viagem de volta...

Que é uma viagem de ida,
a esta ancestralidade de mim,
onde a necessidade do sustento e a vida

cantaram loas carmins,
ventaram ventos de dentro,
pra tudo se encontrar, por fim...

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Outra episteme...


Um dilema não resolve,
antes, sobe a areia
que em tudo se permeia,
e do infinito escorre...

Uma dúvida não responde,
antes assusta a caça,
que na mata se espaça,
e a verdade se nos esconde...

O pensamento, caçador,
vê nas sombras, movimento,
nas águas paradas adensamento,

do movimento questionador,
que põe tudo no pensamento,
e esquece a epistemologia do amor...

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Velhos hábitos


Um velho hábito nos faz
e fez e voltou em tempos
e dançou nas horas, ares, ventos,
com tudo que nos leva e traz...

Eu me espalhei em palhas,
em sortes e mortes, e vidas,
e soltas histórias sentidas,
e o amor em vãos e falhas...

Mas seguirei atônito e lúcido,
ligado na entrada da vastidão,
olhando pro que realizou a mão,

cantando hinos lúdicos,
versos homéricos e últimos,
matéria de toda canção...

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Madrugada

 
O mundo será melhor
à cada conhecimento
co-produzido nele...

Costuro o escuro maior,
neste meu padecimento,
ou no que sobrou dele...

Saberia, do comprimento
do dia antes de cada
alegria do alvorecer na sacada,
antes do acontecimento??

Sabia, na real ,nada...
Era só errático particulante,
Poetante, incauto, falante,
bohêmio em sua própria madrugada....

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Permanência



Nunca menos que tudo
que a cada segundo vivido
as vezes herói, outras bandido,
e falante, mesmo que mudo!

Sempre mais que agora,
em fazer o Cosmo conhecido,
o Caos inteiro entendido,
a triste dor que nos separa....

Cada momento, será excelência,
excêntrico caldo iônico/orgânico,
d'onde veio alegria, orgia, pânico...

Mas, por d'onde vem a essência,
o nosso essencial dote botânico,
nos fará ter esperança na permanência...
 

domingo, 19 de agosto de 2018

Delirantes


Um fogo ainda que eterno,
sempre se acende/apaga...
Assim, meu velho barco naufraga,
e renasce em barco mais moderno....

Um tempo nem passou, nem virá,
apenas é, quando necessário,
meta-nevralgicamente alegre e vário,
no etéreo éter que nos antecederá!


Sei que antes, nos durantes,
as ondas das águas subirão,
e descerão até seu ponto de inflexão...

O sabemos, todos os navegantes,
tenhamos ou não, coração,
cantemos ou não hinos delirantes...

sábado, 18 de agosto de 2018

De um dia de cantoria


As sombras são cantoras
tenebrosas, lúgubres,
intensas e fúteis,
insensatas e redentoras...

Um tempo de rio cheio,
de chuvas, de frio e tarde,
onde o inaudito arde,
e os cadernos se enchem pelo meio...

Minhas cantorias meio certeiras,
meio inauditas e solteiras,
e cheia das dores solitárias,

as senhoras cantarão prazenteiras,
as gentes ouvirão solidárias,
e se encantarão com nossa arte brasileira...

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Manhãs


O que mais temo,
e no que mais ajo,
e pra defesa me encorajo,
é faltar força pros remos...

Faltar fôlego pro rumo,
que escolhemos juntos,
nosso barco entre os juncos,
nossas asas mantendo o prumo,

nossos pés na alegria
do caminho, da festa da chegada,
pra ser tudo, e mais nada!

Que sempre romperá o dia!
Foi assim desde que cheguei, até aqui,
todas as manhãs, com os Bem-te-vis...

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

De a quem sirvo


As palavras soltam-se
da propriedade das minhas
cabeça, boca, espinha,
e, desmaterializadas, soam-se...

O que era desejo e cheiro,
torna-se essência e vibração,
que não se pega com a mão,
mas, das sensações, é tempero....


Eu, daqui, só as observo.
Não sou mais que auto falante,
apenas lacaio registrante,

não mais que humilde servo,
que se inebria, executante
da Poesia, esta, a quem sirvo.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Flautas antigas


Música é o ar que vibra,
em tempestades de bom senso,
em viradas, e leves e tensos,
e deixadas, e toda a fibra...

Na flauta primitiva
o ar rodopia, feliz e engraçado,
alegre, batendo em todo lado,
em plissagens alternativas,

e do lado de ouvinte
me embeveço, e súbito,
desapareço pra não ser súdito,

mas reconheço, meio pedinte,
que quero este som no meu,
pra ser o que (ainda) não se teceu...


terça-feira, 14 de agosto de 2018

Desapego



De uma cantiga antiga,
que eu mesmo fiz,
das dores que me impus,
de tempos de tanta intriga,

eu, renomado passante,
que está, e já não mais,
barco sem bandeira de cais,
celebro a eternidade do instante...

Porque só nele, de fato
sei tecer teias  e melodias,
plantar Rúculas, Alecrins e alegrias,

penso, que antes de feto...
Hoje então me dedico,
a perpetuidade do que abdico...
 

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Concentração

 
Um evento de dispersão
muda o rumo do vento,
desalinha o desatento,
e desarruma a intenção.


Não vale o triste momento,
não serve pra nada além
da tristeza que só convém
pra empacar todo Jumento.

Se me concentro, encontro,
o vasto que sobe ao céu,
a riqueza deixada ao léu,

e as cores de todo ponto,
pontuando as horas baldias
da mais pura alegria!

domingo, 12 de agosto de 2018

Sustos


Sou um velho bruxo
que sonha fazer, gabola,
alquimias de Viola...

Alma antiga de bicho,
sonhada em vestidos
e pompas nos tecidos,
tosca e cheia de caprichos...

Sinto o prazer robusto
de queimar meu corpo
na fogueira dos escopos,

na insensatez dos arbustos,
que sonham o céu
e anseiam o chão, que é seu,
mas que tem seus sustos...

sábado, 11 de agosto de 2018

De outra série




Chorei amálgamas, sínteses,
muito mais que esperaria,
feito espécies de especiarias,
nas comidas e nas próteses.


colocadas antes no espírito!
No calhamaço de papéis,
meu medo devasso dos tropéis,
no velho, e nos inéditos....

E só saberia se fosse,
nunca ficasse, e tudo 
que cheguei a ver,

onde a tristeza se parasse,
e me mostrasse que pode ser fecundo,
este movimento de sobe e desce...

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Meu e seu


Quem é que acha que é dono
da comida que não pode comer,
tendo gente querendo ter,
e sem ter cor ou de dinheiro como?

Quem acha que tem a propriedade
de uma casa em que não mora,
quando tanta gente se apavora,
de passar as noites nas ruas das cidades?

A única real corrupção
é a do ser que tem excedente
tirado do suor das gentes,

locupletado em acumulação,
fazendo ricos e pobres, sujando o mundo,
matando tudo que é bom e fecundo...

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Inesperado



Antigos e desgastados,
meus dentes cortam
as carnes e as cordas, 
de tanto, pelo tempo, afiados...

Vermelhos e introjetados,
meus sangues lavam
as veias e artérias que estavam
e estão em seu curso postados...

Eu sou só, e só cantado,
é que ainda valho e vejo
a vida, suas mordidas e beijos,

como quem corre parado,
ou se encanta com os lampejos
dos amores inesperados...

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Do que trago


Me desfaço, incauto e disperso,
armas apontadas na direção
da total auto-dispersão
porque, fatalmente me dispenso!

E enquanto caminho no rumo
de não mais ser, nem vibrar,
bradarei tudo que houver no ar,
com a força que se aplica aos remos,

com a esperança que nasce
todo o dia nestas vagas,
onde subo e desço, e se apaga,

e tudo por saudável, cresce,
fazendo-me porção de sabor amargo,
não pelo que desejo, mas pelo que trago...

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Tece


O caminho sempre abre
duas (no mínimo) pontas
que no final das contas
são as mesmas, que se sabe....

Com carinho, e algumas ondas,
um surfista sobe e desce,
e na ondulação se reconhece,
no subir e descer fecundo...

E "arrebentar" é se entregar
pro mundo, pras ideias
que a gente vê nascer das teias,

e que em tudo pode encontrar,
o que em mim antes padece,
tornado neste pano, que a gente tece.... 

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

História em travessias


Travessias atravessam a gente
nas histórias, nas cantigas,
nas revelações presentes e antigas,
nas dores escondidas e aparentes...

Cada passo que a humanidade deu
fala mais de nós que as palavras!
Mais que livros, que buracos de lavras,
as montanhas que se subiu e desceu...

Por este tanto, sigo o caminho,
como quem busca a si mesmo,
com uma alegria doida, à esmo,

por saber que não vou sozinho.
De tanta estrada que já vi,
percebi os passos de antes de mim...

domingo, 5 de agosto de 2018

Insano


Como ser de fé e candura,
quando o que sinto é pouco,
o que meço soa rouco,
e me reconhecem em loucura?

Como andar a pé, e criar,
se em tudo me veem afoito,
como é peculiar aos doidos,
o que me restará? Gritar?

Um céu de enormidades canta 
os contos da vileza perfeição,
tesouro de poucas mãos,

onde o que pertinente se levanta,
e encontra-se na perfeita direção,
mas "tu é só insano, meu irmão..."

sábado, 4 de agosto de 2018

Enormidades


Um suspenso porto
me recolhe, absorto,
em minha nau de fantasia...

Um pretenso estorvo,
se me tira da alegria,
nem me sou mais nem um dia...

Imagino lonjuras e proximidades,
rasgando o tecido
que pelo (pouco) que temos vivido,
nos limita as possibilidades...

Mas, se rasgado, abre enormidades,
distâncias de sem escala,
pulando universos feito valas,
de um campo de infinitas afinidades...

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Aliança do bicho com a armadilha...


Quando a raiva nasce da indignação,
as vezes não dá pra escutar,
nem se tem vontade de enxergar,
e se fecha o coração...

Quando um povo inteiro,
é tratado como mercadoria,
o mercador não me convenceria,
de que não pensa só no dinheiro...

Os ancestrais de nossa "elite",
com a benção dos padres,
estupraram nossas madres,

escravizaram a nossa gente...
Agora, querem que acreditemos
que não querem o que temos??

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Miudezas


Queria mesmo saber voar alto.
Como Urubus da encosta,
ou os Colibris das respostas
rápidas e sempre em saltos...


Queria saber mergulhar fundo,
como as Ariranhas dos rios,
ou os Siris, dos mares bravios,
os Golfinhos, os peixes do mundo...

Mas, da mina o mais intenso  veio
é o das folhas soltas no chão,
ou a sujeira impura nas mãos,

dos ciscos, indecisos e feios,
eternidade em manifestação,
nos mostrando de onde tudo veio...

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Do que virá


No campanário daquela velha
capelinha branca
no Sertão da Bahia, 
que nem tantas,
feito o de todo dia,
ou, o que mais se assemelha,

tocou certo dia o sino,
sem que ninguém soubesse,
nem nada pra tocar,
ou alguém que ali estivesse,
pra poder nos contar,
dobrou por um menino...

E menino tanto há...
Nestes sertões do mundo,
meu povo faz criança,
meu sagrado povo fecundo,
de tão fecunda esperança,
no que certamente virá!