segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Longa história de tempos breves


Numa tarde amanhecida,
verteram-se dias
das horas escorregadias,
dos segundos de cada lida...

E na eternidade fugida,
um tempo se achou
no direito de ser seu,
e parou-se em sua vida...

E aquele tempo adonado,
de si, saiu do velho rio
e nem mais desceu, ou subiu,

mas no que quis, ficou parado,
vendo tudo passar,
e o rio se fazer em mar...

domingo, 30 de outubro de 2016

Continuar


Todo dia, o Sol faz,
em seu caminho
de Poesia, parado, 
conosco e sozinho,
por todo lado, frente e atrás,
um novo despertar,
que exige caminhar.

Toda hora, o Tempo apruma,
a verdade do passo,
pra onde se mexe,
a vida e seus laços,
a lida e suas messes ,
tanto faz pr'onde se ruma,
sempre resta estradar,
sem mesmo ter onde chegar...

Assim eu sigo, por saber
sem saber, tateando
na escuridão o imaginado,
num ver desenxergando,
num desinformado entender,
desarrazoado esperar,
que consiste em continuar...

sábado, 29 de outubro de 2016

Dos encantes...


Nem sei se noite, ou dia,
ou o nome que a terra
tinha, que o povo berra,
quando conta d'onde vinha...

Nem sei se ali, a alegria,
que leve e brejeira,
tão lindamente brasileira,
nela fazia arrelias...

Sei, isto sim desta minha
memória, saudosa e cantora
lembrando-se de burrinhas,

dançadas, festança redentora,
de uma encantadora passarinha,
que, então, se encantou Toinha...

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

De cada aportar


Em qualquer lugar
que me sento
me sinto
cadeiras, e 
sensações de abissais absintos...

Como voar deste
décimo andar
como quem desce,
de si pra andar,
e fazer preces...

Aqui, no desvairar
destes dias cinzas,
neste céu azul,
do povo áspero/amável
deste lugar,

eu vou cantar as lidas
e despontar as Loas,
e re-ver guaridas
e prosas boas,
de todo aportar
desta vida.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Anuncio


Um longo silêncio 
percorreu as arrelias,
e o canto se guardou no rio,
e se refez de sua inocência...

No alto do Pequizeiro,
cantou o Galo pro dia,
e seu João, D. Joaninha,
e as Saíras no Mamoeiro...



Já nos meus matos,
correm Onças e Antas,
inatas curas pelas plantas,

que se multiplicam nos atos,
no Bem-te-vi, na Bocaiuva,
no Sabiá anunciando chuva...

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Volta às origens


Na caminhada, corrida,
eu vi, ou flores na beira
da passagem ligeira,
ou uma mancha colorida...

Nem lembro...
Sei foi que brotou,
no meu peito jorrou
uma flor lá dentro.

E as vezes surge,
sem que eu saiba,
ou no coração caiba,

uma Rosa, uma Rouge,
uma Azul em vertigem,
minha eterna volta as origens...

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Diferente



Hoje o acaso
mostrou-se, feito
sempre, me deito,
e levanto, seus passos,
seus feitos,
meu leito devasso...

Hoje o porvir,
sonhou-se incauto
mostrou-me os autos
do "de se rir",
do prato fausto,
do "eu", a me divertir...

Hoje, como diferente
nos pra trás ou pra frente...

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Gente trabalhadeira


Eu soprava, tanto sumo
tanta lida na estrada,
tanta escada, tanta subida,
tanto peso no ombro...

Isso eu achava, iludido,
trabalho sempre é voluntário,
cantava, eu visionário 
no meu canto perdido.

Na verdade a lida é velha,
cantaram-na as lavadeiras,
as babás e as camareiras,


gente que de vó, se assemelha,
tristemente tratadas de toda maneira...
Esta é sim gente trabalhadeira...

domingo, 23 de outubro de 2016

Seres caminhantes




Eu, uma vela, remos avante,

ramos e rumos cavalgantes,
 
e lustrosas donzelas,
 
cada uma delas,

 

do alto de suas selas
 
vendo a nós, andantes
 
soltavam sorrisos radiantes,
 
extraordinariamente belas…

 


E no chão, caminhos,
 
galhos, esperanças,
 
pedaços de histórias de criança...

 


E onde existiam trilhozinhos,
 
pontes interconectam viajantes,
 
nós, seres caminhantes...


sábado, 22 de outubro de 2016

Do normal das criaturas


Na chuva, na porta,
na calma da lida
na estrada vertida,
curvas, retas tortas...

Minha angulosa vida
incerta e eterna,
ampla e serena,
contidamente expandida...

Assim cada dia
se apresenta grande
e chove e lambe...

E nesta minha arrelia,
hei de ver a Fartura
ser o normal das criaturas...

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Canto de existir



Hoje, falar da esperança,
da certeza sem aros,
da certidão dos faros,
da delícia que sabe a criança...


Hoje cantar as loas,
de cada ser que luta,
e constrói tudo em sua labuta,
e que, pois, merece coisas boas...


Hoje falar de netos,
da alegria de Cães,
e Gatos, manteigas, pães,


cafés e gente perto,
que pode ser aqui,
ou qualquer, canto de existir...

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Plenos os corações


Alguém dentro de mim
pergunta sem parar:
"Porque existe a cadeia,
se tudo no fim,
é a mesmo dor, todo lugar,
e todos pensamos,
e fazemos
coisas feias?

Quem está no feio,
no lado triste,
GOLPISTA da vida,
que receba assepsia
e asseio,
porque só resiste,
quem se dispõe
a partilhar a lida...

Acontece,
que o que chamamos
Justiça, é na verdade,
a vingança que desce,
que sobe dos infernos,
e nos caça a liberdade...

E esta vingança faz natural,
que o menino viva na rua.
E que a mãe, se mal falada,
apanhe e seja deixada
abandonada e nua...

Que se abram as prisões,
e que acolhamos as gentes,
e que ninguém seja carente,
e plenos, mentes e corações...

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Mundo inteiro


O porquê
de cada coisa
de cada sombra,
sonho e vaso,
é ver,
e nos conter as sobras
e ser onde repousa
o meu contar dos passos...

O beber 
que dá vida
e verte fluências,
prende e solta,
faz ver,
promete excelências,
mas é o gostar da lida
que canta as Polcas...

Meu canto
nasce do sentido
que se solta no eterno,
barco, e barqueiro,
pra ver,
o mundo em meu caderno,
(maior, ou menor infinito?)
aqui corro o mundo inteiro...

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Cada lufada


O tempo se nublava
o ar era frio,
e eu, feito um rio
na Luz me difusava...

Então, pra alegria
me entreguei, entregava,
entregarei o que dava,
e o que dá, todo dia!

Pois que cada tempo
tem seu perfume,
entre Ciprestes e cortumes,

e neles, sigo vento,
o mesmo, e diferente,
em cada lufada na gente...

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Como se vê a vida

"Saudade" - Almeida Junior

Tudo que vi, 
vejo e sonho,
feliz, ou tristonho,
é só o jeito que vi...

Qualquer um de nós
olha, procura
atravessa a mata escura
que é estar a sós,

pra enfrentar, cada qual
a si, e ver de dentro
o que é pedra, o que é vento,

sem bem, nem mal,
pois que, a vida apresentada,
é só o jeito como ela foi olhada...

domingo, 16 de outubro de 2016

Estrada Mestra


Vi meninas e meninos,
se descobrindo
caminhantes.

Caminhos se abrindo
perto ou distante,
tantos destinos...

Hoje me lembrei
de cada rota que conduz
quem quer Amor, Paz, Luz...
Eu que já tanto andei,

digo às meninas
e aos meninos andantes
que, rumos confiantes
só a estrada ensina...

sábado, 15 de outubro de 2016

Do fim dos prantos


Antes e durante,
agora e pra sempre,
no final, cantante,
desde o começo, operante,

e na estrada, corrente,
e no céu, avoante,
mais pro lado, que avante,
tão lindo quanto contente...

Assim pulso rios,
de águas em ondas tantas,
que se me sobem cantos,

como mares bravios!
Como se eternos prantos,
cessassem seus pios...

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Do novo que rompe


 Num ataque de mim
contra o que sou
o melhor vazou
e, do que era ruim
eu disse por fim
de tudo que se passou...

E este tal tudo
era mato baldio
nascido vadio
em terreno vagabundo...

Eu voo no mundo
com asas de canto
com penas de pranto,
escamas de mergulhar fundo...

Mas o que me dá arrelia
neste, e qualquer instante
é ser cantigueiro viajante
e ver o novo, radiante,
em todo romper do dia...

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Caminhos


Que caminho tomaremos,
eu e você
meu amor?

Mais des-mesquinho do que
(este que) temos,
que o nada a perder
nos mostrou?

Ou então,
num "por si", 
um sozinho fazer,
nos perdermos
de perceber...

Pois que,
 numa instância,
(eterna)
de carinho,
o caminho,
ele mesmo
nos tomou...


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Amor Fraternal


O Sol se via, entre,
nuvens e brumas, fiapos,
Luz que irradia-se no espaço,
e vem no vento que vente,

no meio da gente,
cercados de verdes,
marrons e amarelos ocres,
água fria e quente...

E a crueza da vida
nem mostra o que é real,
nem acha nada normal,

mas, presenteia e convida
a ver que a agressão e o mal,
não podem com o Amor Fraternal...

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Verter


Num tempo, e outro
neste agora, e em todo
lugar onde, eu, tolo,
estou preso e solto,

eu hei de ser além
deste aqui, em mim,
de amarelos e carmins,
que me faço este quem,

pra ser eu mesmo, total,
com tudo que reverbera,
e do plano, me fará esfera,

bem pra além do bem e mal,
bem pra dentro do que, ser,
me fará eterno verter...

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Custar a crer


Nem bem sei,
nem bem via
a grande via
em que viajo, e viajei...

Apenas pensei,
que mais dia
ou outra bizarria,
e tudo seria outra lei!

Tudo seria mais forte,
como a leveza do vento
ou colo de dar alento,

e nem mesmo a morte,
e nem a dor, lá de dentro,
pudesse vencer a gente...

domingo, 9 de outubro de 2016

Espécie cantante


Uma melodia,
ancestral, visceral,
anímica e umbilical,
soprou-se ventania,

através de flautas,
e tempos, como quem voa,
e Maracatus e suas Loas,
e se fez nossa pauta,

e soou em nossos Tambores,
e verteu de nossas fontes,
e lambeu-se como nunca antes,

e cantou nossos amores,
chorou propriamente as dores,
e criou-nos espécie cantante...

sábado, 8 de outubro de 2016

Do tempo das mães


O elevado
só se vê!
Não tem, nem lê
nem lado...

Quem está acima
só ensina,
nunca sente,
nunca aprende...

Na escola antiga
na era das matriarcas,
o incentivo,

era, no colo, a cantiga,
o colo letivo,
da vida amorosa farta...

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Da serventia


O que faz mal
pra tudo, em nossos dias,
é todas as coisas
terem sido
transformadas 
em mercadorias...

Porque o Milho,
o sapato,
a Abóbora, a Melancia,
e o sorriso,
se medidos em dinheiro,
perdem a serventia,

que é de servir
de sustento 
e encanto,
pra cada
ser que cria!

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Do que é pequeno


A soberba mostra,
aquilo que, se a gente sabia,
certo, certo que escondia,
(nossa pretensão de bosta...)

Que nos faz cair e cria,
e nos levanta o nariz,
como quem não sabe o que diz,
e chega a parecer alegria...

Quem imagina-se tudo,
nem sabe o quanto o nada,
é muito mais que cada,

ou, o tamanho real do mundo,
ou a angústia das madrugadas,
quando o pequeno é que é fecundo...

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

De novo


Todo dia,
um espaço em branco
se apresenta, pro meu espanto,
pra uma nova Poesia...

Todo dia, todo dia...
Faça chuva, esteja quente,
caso seque, ou vente,
qualquer caso ela irradia,

seu desejo de ver gente.
De ser vista, dita,
augusta, madalena, escrita,

elétrons mais ou menos fosforescentes...
Da bela moça já se disse: "catita"!
O novo se esbanja eternamente...

terça-feira, 4 de outubro de 2016

De nossa fé na humanidade


Entre flores, senti
o cheiro da morte,
que de Sul a Norte,
vem e vai daqui...

E em tal morte vi,
que a vida tem cores,
perfumes e sabores,
do tudo que vivi,

e vivemos, nós, senhores,
senhoras deste chão,
em que nos dizemos irmãos,

irmãs mesmo nas dores:

O caminho tem mediocridades,
que caminharemos pra superar,
pela nossa fé na humanidade...


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Do festim dos demônios!


O que fazer,
quando o vão,
entre o pé no chão,
e o que transcender,
e desprender o véu,
e enxergar o céu,
e ter fé que o pão,
e ajudar a crescer,
e lutar até morrer,
e esperar que Deus,
e tudo, e nada, então?

O que diferencia,
quem luta pela vida,
e a destrói, suicída,
com ganância e hipocrisia?

Pela estrada festejam ladrões!
Seu chefe
colocou um pau mandado
à Presidência de meu país!

Seus chefetes,
se rejubilam do festim
que farão à sombra
da fome das crianças!

Sua polícia repressora,
mata jovens pretos,
estupra jovens negras,
e se enriquece das drogas das bocas...

E a classe média, "inteligente", 
torce o nariz, diligente,
e vai cuidar de "plantinhas"
"bichinhos"
e "de ser feliz"...

domingo, 2 de outubro de 2016

Delírio d'Alma


Caros amigos, declaro,
em postfólio presente,
que sempre ausente,
nunca serei só claro,

mas escuro e vivo,
em cada signo imponente,
em cada chão, cavalgante,
general de amor cativo...

Sensorial de alma latente,
cabedal de pensar ativo
e cantar quase pedinte,

como o sereno dentro da gente,
como a candura de um sorriso,
como o delírio da alma vivente!!

sábado, 1 de outubro de 2016

Nossa realeza


Quando tudo
o que se passar, se fez,
alegre como a pequenez,
gigante como é o miúdo...

Quando o mundo
parar de maltratar,
as mães de todo lugar,
e priorizar o Amor fecundo,

então, um Sabiá
que cante pela chuva
entre Laranjeiras e Embaúvas,

será portador de um cantar,
que nos lembre a certeza
da Fartura ser nossa realeza.