sábado, 31 de agosto de 2013

Guerra

A razão de cada um,
A razão de cada povo,
Sua razão.

Cor da dor.

Morte.

Dor e dor,

Único caminho que se vê:
A morte.

Único alívio pra tanta dor:
A morte.

Nem povo pra ter razão.

Apenas cinzas, dor e morte.


Em algum lugar,
Bebendo  em seu próprio bar bebidas admiráveis,
Pra tornar suportável a existência com seus rodeios,
Alguém comemora lucros inacreditáveis...
Enquanto planeja os próximos bombardeios...

Quem serão os próximos da loteria da morte que o lucro inventou,

E a que chamou: "Guerra"?


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Onde a música está?




Onde a música realmente está?
O que é música, e o que não é?
O que nos rodeia ao movermos os pés,
E caminharmos pro que não será?

Pra música não é preciso ir!

A música está!

Aqui e em todo lugar.

Pra música acontecer
Antes precisamos aprender a escutar.

                                                                                    Chamamos de música,
                                                                                    Nosso medo de nos escutar.

                                                                                   O som intermitente e sem enredo,
                                                                                   Arpejo de segredos,
                                                                                   De angústias, 
                                                                                   De abandono por tudo que há...

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Quem tece o conhecimento




O vento da praia consumia o palheiro,
Enquanto lambia praia e pele quentes
Do Sol que só se deitava no poente,
Ao pescador os mistérios do dia inteiro.

A pisada das vacas era lida pelo vaqueiro,
Com a facilidade de quem lê uma placa,
Com a agilidade de quem corta com facas,
A carne das vacas quando as entrega o vaqueiro.

A ciência se ri de quem a diz de seu canteiro...
Não pertence a um espírito, a uma cabeça,
Mas antes ao fazer que tudo mais aconteça,

Porque já olhávamos o movimento estreleiro,
Já medíamos as superfícies das certezas,
Sabendo que para o saber, a humanidade o teça.


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Obra


Uma obra são poucos, um único, nenhum,
Uma vasta e bordeada de flores e delírios,
Estrada, fincada em aterros de martírios,
Atalhos de nada, a nada, a lugar algum,

Aqui mesmo, vasta vastidão de pequenezas,
Neste grandão de ser miúdo, que desenvolvi,
Nas agruras das estradas, que pela obra vivi,
Caminhando caminhamos, tantos, tateando certezas...

Uma obra expressa a falta de senso e excesso de pressa.
Ou a verdade mais clara e bonita, e sincera,
Ou todas as cores que fazem vir primaveras,

Uma obra a se esvair em mantas de força que arremessa
Pra longe da vida a vida, pra poder ser vista assim,
Como um extenso microponto, recente e sem fim...


Sonho e Pesadelo de um índio



Foto e arte de Thiago Bresani

O que se apresenta suave, atrás da cortina?
Quem sussurra brevidades longas como as de um breviário?
Que verdade é esta que rompe seus armários,
E voa liberta a confirmar a Santa Sina,
Que cada um dos capitães do Soberano Mar,
Pai de nós de cada um, Senhor e dom de acalantar?



Que medo é este que avança sinistro?
Gritos de uma mulher perdida em Loba Feroz,
Lampejos de Luz desta estrela atroz,
Que me devora os desejos que não administro?
Que o cheiro de tudo lembra o cheiro do mar,
E o medo de tudo lembra, que o medo vem de lá...




Yara, mãe, amante, assassina, mulher, menina,
Seus olhos de embotamento e asfixia,
Suas mãos/garras, pontas d'unhas finas,
Água que mata, amedronta, maltrata e sacia,
Sua inessência profundamente essencial lembra o mar,
E em você, tudo que há e não há, sempre lembra o mar!


terça-feira, 27 de agosto de 2013

Os dias - A canção de Mir


Gustavo Fernandes Ampulheta Biológica


Eu digo pra cada um dos vinte e seis,
Que foram os dias deste mês:
"Este poema foi feito pra vocês!"

Até mais, eu ousaria dizer,
Como quem sonha a chegar a conhecer:
"Tudo que existe, com vocês tem a ver"

Este Poema fala do Tempo nas pequenezas,
No miúdo dos segundos, das horas, semanas,
Milésimos, centenas de centésimos, instantâneas,
O Tempo na parte em que está mais longe das grandezas,

De Galáxias e Sertões, de infinitas realezas,
Realidades que só no tempo do dia usam vir,
Em pequeninas porções das canções de Mir,
O eterno experimentando a vida de incertezas...


domingo, 25 de agosto de 2013

As inventísticas e a seriedade do mato...



O dia, um escândalo.
Na sombra de um Ipê morto,
Um certo pardal faz seu ninho torto,
Pra viver um amor vândalo....

E todos souberam,
E saiu nas notícias locais,
O tal pardal já fazia era demais,
Aventuras onde folhas houveram?

Um ninho de improbabilidades,
Um grande desafio pras estatísticas,
Excelente pra pretensões humorísticas,

E olha que todo mato é pleno de seriedades,
Sem galhardias por suas práticas características,
Mas onde o Amor faz suas inventísticas....


sábado, 24 de agosto de 2013

A Lua em seu caminho

Foto Graciele Souza

A Lua é linda, e vai lá em seu caminho,
E o mar canta uma canção eterna,
E a alta montanha desafia a letargia interna,
E nada se compara ao canto dos passarinhos...

O Sol pela manhã proporciona pura beleza,
O vento passando na Vereda canta,
O perfume d'alfazema minh'alma sustenta,
E a imagem de um bem-te-vi é só singeleza.

E ainda há tanto que se pode cantar,
E dizer, e louvar a beleza do que é infinito,
E fugaz, como a flor de um beijo pedido.

Está dentro de mim o que preciso encontrar,
Linda joia ainda incrustada em granito,
Brilhando intensamente na Luz deste Luar!


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O menino e sua bola perigosa




O menino corre atrás da bola perigosa,
Na rua criminosa com carros sem questão,
Mas, maior que a vida que transita no chão,
É o sonho do menino, e sua bola perigosa...

Alguém me perguntará: "Por que perigosa?"
E eu então terei que recorrer a todo o meu tino,
Pra dizer que o que valha a corrida de um menino,
Vale um valor que pode mudar nossa prosa...

Poderemos viver com gratuidade e arte,
Com o amor que move manhãs em dia de jogo,
E descobrir pra além do inebrio do fogo,

E partilhar o alimento e alegria em toda parte,
E é disso que trata a bola, atrás da qual ele corre,
Este velho sempre novo menino em mim que nunca morre...


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Artesania



Faço polir cada palavra,
Com a lima, com o enxó,
Afino a Viola, ajusto filós,
Colho as pepitas mais lindas da lavra,
Pra fazer uma colcha de fitas:
Minhas insondáveis epifanias infinitas...

Meu trabalho braçal,
Manual, polidor de rococós,
De verbos incertos,
Vórtices abertos de espirais de nós,
Que vão se desenrolando, cada um de nós,
Cada destino deserto de se sentir só...

Minha palavra é passarinha flecheira,
Voa e canta ligeira.

Minha palavra é flor de toda cor e galhardia,
Busca a esteira da beleza deste dia.


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Novo



Atrás de cada morro espera pra se mostrar,
Um passarinho novo, novas cores penas,
Nas dores e cenas, cansaços e flores apenas,
Quando me permito pros lados, olhar...

Atrás de cada curva uma nova brisa virá,
Um perfume escandaloso, uma sensação gostosa,
Uma topada, uma pancada, uma vida dadivosa,
Uma canção que ainda pra mim chegará...

Atrás do olhar de cada caminhante, que eu cruzar,
Infinitas histórias, pontos de vista, razões
Patifarias, mesquinharias e arrasadoras paixões,

Atrás de cada beijo que eu ou não, beijar,
Um laço de fita que poderá me salvar dos puxões,
Pra que eu siga menino, cantando estas velhas canções...

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Balanço




Nada.
Eis o começo de tudo.
Eis o incontável, o infinito, o absoluto,
O incorruptível incorrupto,
Nada.

Tudo.
Eis a extensão de nada.
Eis o mensurável, o finito, o relativo,
O corruptível corruptor,
Tudo.

Talvez,
Eis o balanço entre ambos,
Sendo cada um até onde vai
O balanço em que balança,
Talvez.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Tantos Guris


Illustration of Running Boys Stock Photo - 13340469



Hoje o Bento grande, disfarçado de pequeno,
Bebeu água do sereno, furou o cano do mamão,
Lançou fora a espada e deitou sereno, e lambeu a mão,
E pegou a cachorrinha, pobrezinha, e saiu correndo,

Hoje o  Biluca calado concentrou-se em senões...
Se era possível tudo aquilo que parecia que ele via,
Quando de longe, da televisão, ou do radio, ouvia,
Das bombas de maldade, do estrondo dos canhões...

Hoje, Abelardo pulou da cama como quem quer,
Como quem ousa pensar que é possível ter
Tudo, que é nada, a alegria de poder correr,
De plantar no ar socos de felicidade, de gol de Pelé...

Hoje Jilinho saiu tão leve, ligeiro e quietinho,
Que não fosse sua mãe estar mesmo acostumada
Daquele menino franzino com hábitos de alma penada,
Levaria de certo um grande susto ao não ver Jilinho.

Hoje, saí correndo pra me encontrar comigo mesmo,
Tantos meninos de que me componho e disponho,
Como um mágico do riso alheio que dorme tristonho,
Pra, uma vez me encontrando, poder voltar a ser a esmo...
 

domingo, 18 de agosto de 2013

Alegria




Como então criar o ainda intangível?
Como montar este arranjo/vaso, que sonho,
Iquebana que do que me nasce, e componho,
Pedaço a pedaço do que me arranco, o inexprimível?

Como compor esta peça da qual não se duvidará?
Ninguém terá a mais distante e imprecisa,
Dor ao ouvir o sonho do que planteio, só à guisa,
De dizer do que certamente virá pelo que chegará?

Como pintar este quadro que me há de salvar?
Como juntar cores de forma que o que não havia,
Passe a ser o que por uma nova visão se cria?

Como cantar esta antiga canção que cruzou o mar?
E fazer acordes em Alaúdes que soam campainhas,
Avisando que o novo há de nos permitir a alegria?


sábado, 17 de agosto de 2013

Meu painel de extrato



A vida as vezes parece passar
Como no velho e sempre re-novado,
Filme do Fellini, o mundo re-visitado,
Nas doçuras da vida, a flor ferida a chorar.

E quantas vezes eu olho sem encontrar,
Saída, procuro e o que consigo ver não é,
Mais que a sombra da cor dos meus pés,
Mas sabendo que está lá, basta procurar.

E assim, sigo pela força desta velha fé,
Como um alarido na madrugada, de gatos,
Que gritam alto seu amor tão insensato,

Nesta vida Fellinesca eu vou até o meu até,
E feliz porque o burlesco me dá insumos abstratos,
A doce vida da arte, meus painéis de latas de extrato...


Pra tudo que representa pro pensamento ocidental a obra de Andy Warhol

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Matéria de flor


Tradução do Poema em linguagem rupestre

Eu por mim fazia tudo que tem pra fazer,
Totalmente de matéria de flor, que cheira melhor,
É mais colorida, mais cheia do amor do suor,
Pois tem flor quem a planta pela vida, pode crer...

Ah! Se era eu... fazia vestidos de brocados de jasmins
Pontes de olho de boi, gramas macias nas calçadas
Um laço de hortelãs perfumando em mim feito gravata,
Numa floração de perfumes e agrados, sons e alecrins...

Eu te digo, se era eu, fazia era assim...
Por comida capuchinhas de todos sabores,
Cores e perfumes pra diluir todas dores,

Ah! Se fosse comigo se florescia assim...
Feito borboleta distraído que num lampejo,
De uma fatia do infinito ganhasse um beijo..

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A beleza



A alegria de ouvir a beleza passa por mim, 
Não sou eu, não é o que pareço ser,
Não é o insano seguimento que pareço ter,
Nas atitudes que vou perseguindo até o fim,

Mas a beleza, que em algum momento por gentileza,
Passa por mim perfumando seu caminho de Luz,
E me perfuma com o Alecrim que cantou o Andaluz,
Que já fui, quando trilhava outros caminhos e mesas.

É ela, a beleza, a minha missão nesta terra !
Ser aqui um lugar por onde ela se projeta,
Atento leão à espreita, focado na meta,

Pra que a beleza venha com a naturalidade das serras,
Altas, majestosas, felizes e crescidas de flores,
Alento e esperança pra cada uma de nossas dores.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Singeleza




O corpo vivo é essencialmente livre!
A natureza des-natural da cultura,
Vive pra aprisioná-lo em armaduras,
Arames pra amarrar tudo o que vive.

Na cultura o potro correndo exige,
Tempo e atenção num espaço de dentro,
Onde até o sopro perfumado do vento,
Nossos desejos nos infringem.

Nada é, portanto não pode fugir,
Ao controle do que deve acontecer,
Mas no corpo o natural é esperar, pra ver...

E se vem da cultura o corpo natural existir?
E se todo este bailado da natureza,
Não for mais que, de um pensar, a singeleza?

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Caminhando na arrebentação




Mas o que mais mesmo, me redime,
É o que pode ter havido de bonito.

Nem mesmo um plano que se define,
Pode ser ao mesmo tempo são e finito.

Que se dirá de mim, nesta sombra de Viola,
Esta canção que me prega aqui e me descola,
Me acorrenta ao fundo do mar, e me faz sonhar,

E é na arrebentação que se vê o que está além do mar,
Onde a força da onda que vem na água parada,
Soluça seu canto etéreo e solto, e mais nada,

E eu que tão pouco pude auscultar, já posso entender,
Que nesta multidão em que me embrulho, pra lá dos embrolhos,
Caminhar me faz per-ceber os rumos e abrir os olhos...

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Pra cantar toda folia!



E então é em razão disso.
Que eu sempre firmo o meu remo:
A toada do barco arisco,
Me mantém acordado e atento,
Aos tantãs, aos demônios dos riscos,
Aos ricos e seus escolhos,
No caminho de água, deste meu rio...

E eu remo é na direção de um tempo renovado,
Em que a gentileza campeie,
Tão forte que nos console e presenteie,
Quero que minha canoa chegue neste tal mundo mudado...

Um mundo sem medo,
Sem enredo combinado,
Sem a participação de quem está escalado,
Sem a escalação de todos os participados.

Quero ser canoeiro da chegada do tempo da alegria!
Minha Viola, meu remo e canoa, pra cantar toda folia!

domingo, 11 de agosto de 2013

Enquanto se chora



"Quem vive mais, morre menos?" - Millor Fernandes


O que sempre me mantém nas claridades,
Muito pra lá do  encanto com o novo,
Que é o que nos mantém como povo,
É quando o assunto se ganha de imensidades.

O assunto da importância da marca da obra,
Da marca do assunto do que se dirá,
Quando o centro com o periférico se encontrar, se dará,
E seremos a natureza perfeita, sem sobras...

Sem mais nem menos, o tempo todo em tudo,
Como um muro que vastasse e se afastasse,
E mais que separasse, tristemente desunisse,

O que em altos acertos se sonha sempre fecundo,
Pois que o tempo é o que se faz agora,
E não se faz nada enquanto se chora.

sábado, 10 de agosto de 2013

Agora



Do que tenho que cantar agora,
Batuque dentro do tempo,
Samba fora de hora...
Poeira se encontrando com vento,
Boca da noite que implora:
"Bem lento, bem lento..."

E na beirada deste açude que chora,
Suas lágrimas de vida sobre o sertão,
Sendo tantos e tão poucos então,
Nem víamos que a loucura vigora,
E nem vemos ainda, nesta escuridão,
Mas tateamos com a avidez de quem explora...

Eu,
Só,
E meus intentos,
Na
Certeza de outrora,
Em outros movimentos,
Agora.


Foto de Luis RiodeJaneiro do Porto de Barcelona em 2006

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Canto Canoa



As vezes, se o caiçara para
Pra olhar o remo, as vezes cai,
As vezes quase, e tem vez que vai.
Pela proa escama de Imbetára...

As vezes a canoinha e a verga de taquara,
Levam a pequena pra dentro do remanso,
Onde o Piau faz repouso e morde manso
A isca e o anzol, pra vergar a ponta da vara...

E as vezes da canoa escuto cantoria no Jequitibá:
Tanta simplicidade e realeza como jamais vi em alguém,
Algum ser de encantamento ou outro ser que no mundo tem...

No mais das vezes é só a canoa que me leva pra outro lugar,
Um lugar que eu mesmo crio, que certamente é no além
Nossos ninho e destino, canoa que eu quero remar pro bem.


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Do que há de imperar agora




Um bem-te-vi na sacada próxima,
Anuncia, impertinente, uma simultaneidade,
De Amor em ação, com nossa cruel realidade,
E nisso, eu vejo da sacada, que se aproxima,

Uma inversão dos polos desta situação,
Onde o que já foi mal e dominante,
Passar a ser o  aspecto bom, o reinante,
(Isto já se cantou em tanto samba e em tanta canção...)

Este é o presente em canto de bem-te-vi anunciador,
Pássaro Profeta a anunciar mais que auroras,
Que vem cantando o tempo novo desde outrora,

Pois que ainda impera neste mundo, que segue desolador,
O Mal, antigo e desgastado pela luta com tudo, a toda hora,
Se renderá ao Bem-te-vi e ao Amor que hão de imperar agora.

Pintura digital de Ana Kléa Moraes

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

As histórias que nos fizeram




Agir na lenda, eis o que procuro.
Me encontrar onde o ar tem falas,
Onde as águas nunca se calam,
E o mar canta sua canção no escuro,

E no claro do dia que vem, vento,
Da Luz que espanta a noite embora,
Em cada nota da Luz, a própria Luz chora,
Da saudade das lindezas da noite adentro.

Ajo assim nos mitos que coleto e crio,
Giro a vida, em mim re-desenhada no novo,
Que vem em cada palavra, saindo do ovo,

Que nossos avós nos deram, feito um fio
Que nos liga às lendas que nos geram
Histórias de nosso nascimento nos fizeram.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Siguência voladera




Por alguma razão que eu ainda não sei,
Sigo,
Isto sei.

Se consigo, só o tempo irá dizer,
Mas sigo,
Posso dizer,

Não sei ainda se para o melhor
Ou pra algum
Castigo

Mas sei que depois de tudo, sigo
Sei que no porvir
Consigo.

É possível que dores maiores
Antecedam
Dias melhores,

Mas a Luz no fim do caminho
Não me deixa
Caminhar sozinho.

E qualquer vento vadio, levinho,
Insufla-me asas
De passarinho.

Clóvis Truppel, designer e artivista

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Meu lugar de pedir



Eu venho pra cá como um morador de rua,
Nestas brancuras, agora sem papel
Escondido à Luz clara do Sol, vagando ao léu,
Rumo ao desconhecido em sua face nua,

Eu venho aqui como quem vem pedir,
Cabeça baixa, mas feliz como um menino,
Ver a linda Musa que vai se descobrindo,
Descobrindo em mim um eterno existir,

Deste Poema que sempre esteve ali,
Mas até agora ainda não o podia enxergar,
Já o sentia, mas não o podia tocar...

E feito cego tateava no branco aqui e ali,
E foram vindo todos estes Poemas que já pude cantar,
Daquela infância que guardo aqui, neste lugar.

sábado, 3 de agosto de 2013

A noite




A noite gera contos, gera fogo e fogueira,
Gera o lar como o lugar onde nos abrigamos,
O lugar no qual nos esquentamos e encostamos,
Pra na noite, re-criar em contos a jornada inteira.

A noite nos deu o brilho das lantejoulas nas lanternas,
A leveza das melodias coloridas dos tambores,
O dia re-inventado nas lamparinas enfeitadas de tantas cores,
Das danças, homens e mulheres, saias e pernas...

A noite gera filhos e fetiches, fadas e forrós,
Inspira boatos, baratos, contatos, pintores abstratos,
Sopapos, ensopados, bombados e gentes sem tratos,

E a noite é o dia de uma multidão de entes sós,
Cada um de nós, todo  ser vivente neste caminho,
Tem a noite pra lembrar que nunca e sempre se está sozinho.


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Das horas e das espirais...




Até os esquivos, até os vazamentos,
Os lamentamentos da correria da gira,
Do dia a dia, da magia que espira,
Entre as espirais de nosso pensamento,

A magia se manifesta no que no passamento,
Nem vemos, tal o correr, tal a gastura,
E me despercebo eu da beleza e da candura,
Que um passarinho comendo migalhas é contentamento.

Mas a estrada tem os dias que se seguem,
Tem as horas que se passam, nos passando,
As velhas horas que vem nos acompanhando,

E de tão de casa, as gentes não as percebem,
Mas as horas são a manifestação daquela espiral,
Modelo de tudo, ciência como concretização do real.


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Sem mais...



Então, depois de tudo, o que sobrou nem sei dizer.
Em mim, eu digo.
Tudo está num lugar próximo, tudo parecer,
Como era comigo,
Mas...

Já não sou o mesmo que olha pras coisas,
Em meu espírito,
O corpo obedece à uma memória que é lousa,
Onde esteve escrito,
Mas...

As letras parecem por vezes se embaralhar,
E o pó do giz,
Soltar-se da lisa lousa, soltando-se o riscar,
Porque o texto quis,
Mas...

Eu é que sou escrito por este meu texto,
E o que se lê,
Quase nunca encontra sentido ou contexto,
Apenas se vê,
Sem mais...

Cerâmica de Má Ferreira