terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

(Des) Culpa


Sabe um canto
que vem pelo meio
e puxa os esteios,
e ri pelos prantos?

Sabe um rio
que surge do nada
e água, e cascata
e mares bravios?

Este sou, e é a vida
tal qual sentida
em cada sentença...

E se há culpa
que seja sepulta,
que a culpa não pensa...

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Canções da Alvorada



Ao longe, revoa
uma folia sola
que liberta e imola,
uma folia boa...

E bem perto soa
uma Andorinha, e tantas,
Tizius e Garças brancas,
e nada me amoa!

Passarim de cima
vê toda alegria,
sob a Luz do dia!

E na escura sina
da noite azulada,
as Canções da Alvorada!

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Luz


Um canto soava
ao longe, de perto
do vasto e deserto
ao que, ao lado, morava...

E este era e sou
eu, e este corpo
que tantos corpos,
tantos oceanos e voos...

Pra seguir esta missão:
"cantar o que vejo
onde quer que esteja",

e me deixar à exatidão
desta força do rio que conduz
ao que seja, pra nós, Luz.

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Espelho


Uma cadeira, preta,
vazia,
mirada num espelho...

Um vermelho a cerca.
Inexistia
nada além do passo velho...

Quem sentará
nesta cadeira isolada
nesta foto inusitada,
que no tempo há?

Porque ventará
em seu aparente estado,
se todo parado
é o eterno movimentar?

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

A gente

 
Há os cantos 
de cada Passarinho
que piam sós, ou juntinhos,
(feito seu João dos encantos
e dona Joaninha dos carinhos). 

Eu canto,
não como quem sonha!
E
que a verdade se exponha:
Este mundo sem prantos,
toda gente risonha!!!

Não de rir
de si mesma tristemente...

Antes, de se entender agente
principal do novo, que há de vir...

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Tudo contido


O humano cria
pelos olhos os tudos,
que inadvertidos,
compõem esta harmonia,
esta alegria,
e cada um dos absurdos...

A humanidade
em seus ares de sobre
com seus dentes de sabre,
abre os lacres
sem saber os contidos
e se perde, e aos sentidos,
ante os gazes acres...

Este humano diria
que se a vida é,
nem volta, nem veio,
nem largo esteio
feito o meu pé...

Viver é sido,
e no que sou,
tudo está contido.

 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Indignação


Entoa em vão,
meu canto/perguntação?

Eu quero mesmo saber
porque alguém seja mais
e dono de flores e ais,
mesmo com gente sem comer...

Entende? Feito faisca
o Beija-Flor, luz arisca
flor em flor a beber....

Assim a vida pisca,
seus anúncios de sabonete,
e a subserviência em fracos falsetes,

então? Porque re-soa este chão?
Por indignação!!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Tudo, todo


Sendo, sentindo
seguindo e vendo,
imaginando o lindo
em tudo que vertendo...

Soando, vibrando,
em cada corda batendo
em tudo Berimbando,
suspiros Violando...

Um vago eu passeia
entre as notas do mundo
feito Grilo vagabundo,

ouvindo como quem tragueia,
e o que me embriaga, me guia:
que é o som de tudo, todo dia...

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Bater, bater...


O tempo da brutalidade
se explica
por sua própria
inexplicabilidade.

O tempo da excessão
se justifica
pela morte
de toda opinião.

Neste tempo
os brutos e burros
empurram aos murros

e gaguejam, babentos,
da raiva de não saber
e só bater, bater, bater...

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Tu?


Num lugar
que nem se sabe
onde é ou cabe,
existe um soar...

Parece dizer pouco,
cantar da melodia
que lá, dia após dia
invade vãos e ocos...

Neste lugar sem donos,
quem trabalha faz
 parte da rede que traz

mais que alimento: sono!
Sina de alegria, ao invés,
desta de tristeza que sou, tu és...

sábado, 18 de fevereiro de 2017

...e os Beija-flores...


A palavra bate
as vezes, numa tecla,
ou nos reveses
de uma pele...
As vezes, a pele late,
as vezes mia, rosna, fala...
As vezes,
nunca mais cala...

Isto a que chamamos:
"Palavra",
em qualquer canto ou sala,
é a nossa fala!
E cada construção
já a muito tempo mostrava
que o que a gente fala
é nossa própria ação
e faz este nosso mundo escola.

Faz as fontes e os licores,
os desertos e as Formigas,
as florestas tão antigas,
e os Beija-flores...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Riqueza real


A única real riqueza
é a que se pode traduzir
em equipamentos de viver.

Assim, rica é
a pessoa que tem grama cortada.
Que quase nunca é
quem sabe cortar, e a corta.

O homem proprietário
da máquina que faz
o dinheiro,
o faz ao seu inteiro
desejo economiário...

(O mesmo que faz,
a gente que sabe,
não fazer pra si,
e fazer pra quem dinheiro traz...) 
 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Direção


Quando se vive
o que se faz,
se o erro transgride,
a vida nos re-faz
e um dia novo traz
tempo eterno e livre....

Que esta nossa jornada,
de tantas cantigas
de grãos nas espigas,
estações de farturada,
se mostre pra gente,
no que temos pela frente...

Que esta alegria
que verte das mãos,
pés e Mães, coração,
cada palmo de chão,
mostre todo dia
nossa intuída direção!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

O mel


O medo é certeza
do fim à frente.
O frio tira a destreza,
que nos devolve o quente.

Tudo que existe, invento
cada minuto sentido,
cada zumbido no ouvido,
tudo é do pensamento:

O Mar, que quebra suas ondas,
a flor de mel que amarela,
a cama onde jaz a donzela,

o infinito, que no menino desponta,
a montanha, a estrada e o cinzel,
a liberdade, a claridade e o mel...
 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Quando me minero...



Me Ametisto,
Topázios cintilam,
sobre o manto e a mina,
eis que existo!!

E em água mino,
rei, pião, cantante,
cavalgada em madrugada distante,
no fluxo em que me determino...

E neste chão me nasço,
radicado vivente, em planta,
seiva e água da vida que canta
pra viajar pelo infinito
                           do espaço...


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Cantos

Marote

As encruzilhadas
dos trilhos que seguimos,
já seguidas,
investidas elas mesmas
de cada dia
de nossa vida,
das dores,
e das alegrias 
sentidas, e os sabores...

Cada manhã
se levanta de Sol e sombra
e se encanta
com Bem te vis e Pombas,
Sabiá que canta,
João e Joaninha,
de estrada, e florinhas,
gentileza e plantas,
Fadas e Pirilampos à noitinha...

Eu sigo daqui,
procurando cantos
em que soar meu canto...

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Sinfonia de tudo


Uma vez, a muito
tempo, na estrada
onde corria e corre nada
que não este vulto

que é chamado dia
a dia envolvido
numa carreira sem sentido
numa fluente agonia...

Pois bem, esta vez
alguém inadvertido
parou e se fez percebido

do Sol nascer atrás,
de nuvens escuras e claras,
com sinfonia de Bem-te-vis e Araras...

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Varais


Como cantasse,
e cantar fosse.

Como existir,
e isto bastasse.

Como lembrar,
e pra lá fosse,
e este sentido
se des-sentisse...

Canto varais
de insólitos terreiros,
varridos por inteiro

pra nos serem quintais.

Esperar chuva nos janeiros,
e entre roupas, milharais.
 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Qualquer hora


Adornada com Cravos,
com coroa de Rosas,
Louros, em cola resinosa,
chegou quem amansa bravos
e é Senhora do Tempo,
e é o perfume do vento...

O que vem de fora,
chega com o que é
daqui, de toda mulher
de cada senhora,
neste momento exato,
em que a menina lava o prato...

(a menina roubada
por uma ancestral 
escravidão "normal"
por normas inventadas
pelos donos
das gentes escravizadas)

Mas antes, a Senhora
chega em Luz e Som
separando o ruim do bom...

E agora,
é qualquer hora! 
 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Estratégia velha e sinérgica!


Penso se tudo
estivesse pronto
e nada restasse
deste fazer
hediondo
que nos caça
e testa
e cobra, e pede,
e infesta???

Penso se o tempo
fosse Poesia
e no mais
dia após dia,
um desassossego
um ventar sôfrego
um cantar
inóspito...

Penso cada palavra
em re-harmonia,
em nova estratégia
velha e sinérgica
vulcão e lava!

Re-inventar
o mundo é 
hoje o único
jeito de 
continuar existindo!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

O voo do Urubu


Cada um re-invente a si.
Que pode ser que tenha ainda
jeito de evitar o que finda
o mundo, e a lida de destruir....

Cada um e todos, voltar
pra onde os Maias voltaram
quando viram que findaram
com o que podiam contaminar

toda sua gente foi pro mato,
pra Selva aprender da vida
mais linda que as investidas

de um mal que parece inato,
mas que foi criado como tu,
como eu, como o voo do Urubu!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Amor delirante


Natural, sua pele
preta, prateada,
branca e pintada,
sem pintura nela...

Pelo tom da Lira,
canto versos soltos,
pinto pés e potros,
nos quadros desta Gira

que é o corpo vivo.
cavalgando os dias
e as noites mais frias,

num construto imaginativo,

lindo, delicado, ofegante,
antecipando o amor delirante.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Tempo novo


Enquanto eu aqui, cantava,
Passarim eu vi, voava....
E o seu voo em mim, trinava,
e o meu canto assim, sonhava...

Na rua de chuva e casas,
ou Sol e poeira espessa,
vida de guri, se passa,
bola que quebra a vidraça...

Passarim/menino passarando
de cancela e de repique,
atravessa o dia e assiste,

a noite se revelando,
e o dia azul chegando, onde existe
um tempo novo em tudo brotando.
 

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Lembrança


Como num sonho
vasculhei instâncias
e velhas lembranças
solto e risonho...

E em cada uma
tanta nota soa,
ou um ventinho a toa,
nada que a resuma...

Que lembrança boa
é a da Luz do porvir,
pra se lembrar e rir...

E lembrar como quem voa,
e voar como quem canta Loa,
e entoar o novo, que há de vir...

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Tudo


Imagina que se tingisse
o céu de cores frias!

Ou que o mar falasse
de coisas à revelia?

Pensa se as curvas
se arretassem no rumo
de pra onde sobe o fumo,
ou as gavinhas das uvas...


Este mundo é antes
uma compreensão,
um ler, e pegar com a mão...

É estrutural e estruturante,
cria o nada que vemos,
faz ver tudo o que criamos...

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Da realeza de nosso povo


E então, o canto
se mostra maior,
ilustra o melhor,
e se projeta dos cantos...

(Porque nas beiradas
da riqueza deste mundo
trabalhadores fecundos
fazem as melodias cantadas....)

E eu aqui, escutando,
e vertendo-me em prantos,
em cantigares de espanto,

neste mundo, onde enganos,
se desfazem ante a beleza,
de nosso povo, a realeza... 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Mulher brasileira


Quando alguém
do povo morre,
o povo sofre,
além de quem...

Além de quem se vai,
além de quem fica
sentindo a triste e aflita
dor de não ver mais...

Entre os trabalhadores
ama-se a vida que vem
nas trabalhadoras e seus nenens...

Era assim antes dos senhores,
que dizem: "Morra! E viva!
E trabalhe e me sirva!"

Pra D. Marisa Letícia Lula da Silva

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Sonho dos mártires


Tempo em que alguém chega,
chegou, se diz e se faz,
se espera, e se aconchega,
na eternidade que se desprega

em, e de mim, a cada dia..
Vê-se e vejo pingarem as gotas
das costas, até a frente das alegrias...

Pois o tempo, sempre re-começa, 
em flores e gentes, em abrires...
 
Todo dia, é da promessa,
de nossos grandiosos cumprires,
que é, cada um ser o que quer ser, 
e por amor ao mundo, acontecer!

Isto foi o que sonharam os mártires.