sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Ciganagem


Concentra rapaz! O dia passa,
e se o vau é raso, e fácil se vai,
de outro lado o caminho atrai,
nós, caminhantes, ciganos de raça...

Gajó! Tú faz é não saber viver!
Tu pensa um jeito sem jeito da vida,
acha que a natureza tem armas, é bandida,
e que o pedaço do mundo, é seu, tu faz crer!

Concentra meu amigo, a existência é fugaz,
como o vento do alísio, o senso, o delírio,
o martírio, a sentença, a presença e os colírios...

Se tu não te concentra, quando vê já foi, rapaz,
e o balsamo de tudo é canção em festa,
gente que anda no mundo, e dele se infesta.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Minh'alma singrando


Eu era uma vastidão, nos meus internos,
nos meus eternos vertedores da candura,
onde a beleza é o que vibra rara e pura,
e minhas feiuras se mitigam em amores ternos.

E nada mais me assombrava, então, minha fé,
nada mais cozia o destino das paixões e medo,
e me sentindo desbravador, o calor do enredo,
cantiga de enlevo, quando se canta o que se é....

E quero seguir, pois que o caminho urge,
como a leveza dos destinos, quando o vento
dá ao barco, forte e lindo movimento,

vou cortando águas, barco-leão que ruge,
nas águas frias da baia dos vivos, cantando,
um robusto antepasto pr'esta minh'alma singrando...

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Rota de felizes navegantes


O que eu pensava era uma jornada
sem as máculas que já vi, e não queria
ter visto, porque a maldade em arrelia
é tristeza, e melhor é toda gente irmanada.

O que eu penso deste meu errante caminho,
é que o acerto há de chegar com a Aurora,
dos dias de trabalho e dedicação à obra,
que é a vida de cada qual, suas flores e espinhos.

E neste dia, nesta nova primavera de crença,
penso que, eu e cada um aceite o desafio de ser,
ao lado do outro, que, que não gostemos ter,

por irmãos, é essencial que eu me vença,
e nos vençamos e vença a gentileza antes,
durante e sempre, rota de felizes navegantes

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Nossa jornada


O Asbesto, um topete no monte, quem sabe?
Quem sabe o vale se cale, ou fale do que passou
do que se doou 
e por pior que possa parecer,
ser e verter de si o que ficou.

Eu caminhava cantando, e lento,
e em silêncio, meditando.
Cada passo um novo mundo minando,
cada gole era eu me bebendo.

E em tudo, era sempre o velho nada
piscinas, montanhas, bactérias, carross velhos,
carros novos, muito grandes e ligeiros
e mais este monte de momentos passageiros
que vamos por nossos sonhos etéreos,
que chamamos de vida, nossa jornada

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Vida linda

Ipê florida nas ruas de Vila Madalena - São Paulo - SP

E decidir manter o prumo,
o rumo, o bote em seu ritmo,
labiríntico e assistemático riso,
que variando a percepção dos pinos,

que nos prendem nesta terra,
linda terra, nos chamando no colo,
nos impedindo o voo só por zelo,
varrendo o pó do óleo vindo da espera,

eu decido manter minha sobriedade,
e a buscarei em cada pensamento,
em cada percepção dos infinitos de um momento...

Porque o compromisso final é com a fraternidade!
Construí-la em mim, em cada coisa ainda
que fizer, pensar, cantar, sonhar, e ver esta vida linda!

domingo, 26 de outubro de 2014

Ciclo recomeçado


E uma estrada que termina anuncia,
vida, história, tristezas e cansaços,
e dores distantes, presentes, embaraços,
e a disposição pra caminhar que nos fia,

e nos estreita e endireito pelo caminho,
como a flor que brota na seca,
o leite que enche de vida a teta,
e enche de vida o filhote que chora sozinho...

Ou com seus irmãozinhos, cada vida fazendo
seu esforço pra  manter-se aqui,
na terra de durezas, e da delícia do pequi...

E hoje nesta minha cantoria acontecendo,
eu, que tanto já estradei, e me estrado,
vou ao encontro do novo, ciclo recomeçado. 

sábado, 25 de outubro de 2014

Histórias


Passarinho que quebra a casca do caramujo.
Vento que sopra cabelos.
Casa que deixa varanda...

Pergunte ao menino se ele se importa de estar sujo.
Alguém perguntou à linha se queria sair do novelo?
Quem nunca dançou ciranda?

O que já foi pensado
Mas foi esquecido,
É o meu cimento,
Telhado, chão, alimento.
                       
O intento da alma
Cala, suprime, acalma.
O desejo de ter perdão
Cria brandura no coração

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Cantai, ninguém!


Cantai, oh quem me olha!
Vibrai, cordas desta harpa que eu sou
Tantos ais, tantas hordas do que sobrou
Tantos tijolos de dor a fazer vitórias...

E as plantas das horas, ensinando tempo
Exalando cantos pelos centros
Pelo meio do coração, desde dentro,
E nos vazios, sempre o vento.

Pois o infinito nos borda, dia-a-dia!
Com cores das crenças, cada um
Fazendo-se conforme mais nenhum,

Pois o inexato rompe a alegria,
E o que era pranto canta porque tem

Sempre o inédito, todos, ninguém.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Déjà vu


Como posso me lembrar
Do que nem me lembro que vi?
Como me sentar, de novo, aqui,
Nestas quadras, re-caminhar.

Re-atar laços com vigor,
Como as tulipas, céu e terra
Cada cor de lá, aqui nas seivas,
Nas pedras, fortaleza de flor...

O que não sei como foi visto
Se fez, sempre, antes e pra frente,
Agora que só estala, olha e sente,

Na lida imaculada do imprevisto
Perdido e encontrado dentro de gente,

O encanto de lembrar de repente...

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Mãos dadas




E como eu acho, neste peito
Meu alento, minha consolação?
Onde estará, em que pedaço do coração
Reside está força que me lança de todo jeito?

Eu vejo passarem as casa coloridas
Ao longo deste férreo e vaporoso motor
Com que me entrego, pelo que de amor,
Que cheio que tenho, minha certeza iludida


                                                                                    Em tudo que faço, penso que penso
                                                                                    Que penso além desta minha estrada
                                                                                    Como precisasse justificar ávida respirada,

                                                                                    Pela vida além do viver mais intenso
                                                                                    Que é que imagino querer compartilhada
                                                                                    A vida, nossa vida, de mãos dadas!

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Soneto das flores do caminho

Ninguém viu!
Mas só eu sei,
O quanto me machuquei
Pelo que se construiu!

Nem eu, ou mais alguém
Chegamos a ver
Tudo que for merecer
Pelo tanto que vemos aquém!

Mas, são cores do caminho
Humano e cambaleante
Espinho e flor a todo instante,

E só nos firmamos no carinho,
Força realmente relevante,

Minha alma brasileira e brincante.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Encanto do fogo

O encanto chega no inesperado.
Chega no vento nas folhas, na água que canta
Num canto de bem-te-vi, que só porque cantado
Ou tocado, o mal daqui, espanta...
Ou no ar que deixa a água em pequenas bolhas

O encanto canta por todo canto.
Num ruído de cadeira, numa voz que fala,
Numa alegria rara, com medo, espanto,
horror ao vício, o início, a perdida bala
que se encontra e se faz doce, por brincadeira...

O encanto habita o que não se espera.
A alegria do primeiro passo do menino
O sorriso inteligente da menina-primavera
Das crianças e das flores que nos dão algum tino

O encanto vem do fogo, acendendo e apagando o tempo inteiro.

domingo, 19 de outubro de 2014

Caminho de carinho


As linhas se lançam sem rumo,
E todos os rumos fazem ramos
Na árvore da vida vivida

Me lembro do menino e a pena inexata
Como a sentença de ideias geradas
Que dançam, acompanhando riscos

Rabichos, garatujas, novidade
Que nasce em cada traço
Que muda o velho passo
Da criação no colo, pela gravidade

E estas linhas apontam caminhos
São setas no deserto
Fogo, quando o frio por perto

Água, trilha, alimento, carinho

Lambida

Então me lambi
    Como lambiam as feras
Os registradores populares de imagem,
Os fotógrafos pelas ruas
    E praças deste mundo.

E em mim,
            A prata lambida
  E cuspida fora
  Revelou desejos de um porvir
           De criação
Pelas ruas e praças 
                Deste mundo

sábado, 18 de outubro de 2014

Onde me anoto


Meus cadernos de poesia
Tem anotações de compra, trabalho
E desenhos de menino, retalhos
Como eu mesmo tenho sido nesta arrelia,

Que é ser quem, e o que eu sigo,
Como um atalho na noite
Rumo ao dia, com seu medo do açoite
Aquele nosso dilema interno e antigo

Este meu caderno de poesia
Tem a marca e a prova
De que o velho se renova
Pelas mais simples alegrias!


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Ladeira



O que se dá, é que, procuro suspiros
Procuro a emoção do amor
A emoção do amor, e seu sequente torpor
O que se dá é que sou feliz quando transpiro

Quando me sento rente ao transverso.
Ou me acomodo onde o inesperado se multiplica
Em felizes acertos, sonhos doces, canjicas
No que foi criado para, e se deu ao reverso,

Só então como uma lupa pra ver oceanos,
Serei de mim mesmo autor e pronúncia
Atavismos, recorrências, abstinências, renúncias

Mas em cada volta me darei aos planos,
E numa inexata bebida, feita de mares e anos
Eu vencerei esta ladeira da vida, os desenganos.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Cagada


Penso se este pensamento
que me iludo que formulo,
com "plissês" de refinamento,
não será o Universo, imaculado e puro
deixando cair fétida massa
sobre a minha vaidade, que pensa que arrasa?

É tanta gente, sonhos e esperanças
criações, criados, crueldades e crianças,
que a cabeça só ser ocupa em receber
a massa fermentada de cheiro espetacular,
com a certeza emoldurada de a tudo conhecer,
pela gentileza do Infinito, em mim, defecar

A linha do fio


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Lombo de dragão



O espaço não é como vemos!
O vazio é pleno, amplo,
O que se poderia imaginar brilhante
Gigante, é o mais diminuto, pequeno

O plano tem infinitos arcos
Pós, prés, ante e tantos mais
Senos, matrizes e vetoriais
Que se dirá dos sem fim de barcos

Que outras percepções podem nos dar
Que antes de conhecermos veremos
O infinito se desdobrar sereno
E oferecer seu lombo de dragão pra eu voar

domingo, 12 de outubro de 2014

Operário da alegria




E no caminho das horas,
os ponteiros apenas apontam,
quem caminhamos somos nós, oras,
independente das histórias que nos contam,

incrementadamente em cada história que canto,
imprecisamente vazia,
ou cheia como a mais linda Lua à Luz do dia,
eu quero meu cantar eternamente....

E nestes vastos de encanto, que a vida toma
eu e quem for se chegando,
e nos ouvindo, e juntos cantando,

seremos então este tanto que faz o eterno e reforma,
a mim, ao que sou todo dia,
o mais pequenininho dos operários da alegria.

sábado, 11 de outubro de 2014

Um caminho pelo ar




Hoje voamos!
E conosco, nossos passos
Nossos ventos alados rasos
Das asas que rufamos!

Hoje, tantos, tantos, vamos!
E tão poucos,
E em nossos sonhos roucos
Cantamos, cantamos, cantamos...

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Ecos antepassados


Estava estes dias ouvindo vozes distantes, lumes,
de uma língua, havida no Chile ancestral
que se inventava à cada palavra
que na emoção que o botão de flor causava,
o dizente, com a Força, em ligação umbilical,
se contorcia nos sons de um magnimorial perfume...

Ou de uma hortelância sentida no gosto
do abacaxi em suco, mexericas de sumo
fazendo dos dedos escárdios cheirantes
ou Saíras fazendo eco-espetaculares rasantes,
só pra exibir suas cores de infinência e resumo,
e soprar as velas e se sentar aos pés do oposto.

As vozes de tantas delicadas vozes de nossas Américas.
Tão brutalmente caladas.
Como se nunca tivessem soado.

Que meu canto, pobre de mais pobre dos cantos,
possa de seu tosco modo entoar
um canto pelos que já sem canto,
e inventivas vidas embebidas do criativo encanto,
nestas Américas possamos de novo gerar.