terça-feira, 28 de janeiro de 2014

À mesa




E como fazer, pra lamber feridas de abandono,
Se o abandono me chama a abandonar?

Me abandonar, abandonar-me sem dono,
Sem trono, sem nada que falar?

Sem cansaço, sem descanso, sem sono,
Sem medo ou nada que sonhar?

Sem canto, nem modo de como
Este canto sem pertença, pretensioso cantar?



E como fazer, quando parece faltar o ar?
Quando o sentido da fita parece invertido,

E tudo que foi dito, tudo antes de se tornar,
O novo, de fato sensacionado, vivido?

E como me permitir de novo voar?
Quando o vento antes sopra o inaudito,

E nada do que ainda possa acreditar,
Diz de fato do grande peso sentido?



E quando tudo isto, todo este meu canto,
Não for mais que um jeito de soltar meu pranto?
Sei que devo seguir, pois é o que se preza,
Quebrando todo quebranto,
Me sentando firme à mesa.

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