quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Vida


Eu sinto em mim as cancelas
e também o como passar por elas,
e como subir nas tramelas,
e ver além das telhas,
e das árvores mais altas,
e das montanhas mais brancas,
só, ali, naquela porteira.

Que eu sendo mesmo um bom andarilho,
já caminhei tantos vales,
de rios pequenos altares,
de matas portais de infinitos,
de bordas e bordados de moças,
e cantigas feitas de louça,
de doçura de bom-bocado...

E de tanto meu caminhado, meu trilho,
eu vago além de minhas velas,
nos ventos que povoam meus medos,
nas forças que cerceiam minhas lendas,
e as escondem noutro mundo, sem nada...
Um mundo escondido em lengas lengas
em pendengas de fadas com adagas....

Mas, sempre, longe de tudo,
ainda posso pensar na vida vindoura,
como uma vela ventada em sua chama,
como uma criança na alegria da lama,
no balanço do barco onde toda a peleja,
um dia vingará na cantiga final,

na certeza abissal de que a vida siga.

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