sábado, 12 de março de 2016

Esopo re-fabulado


O Lobo no alto do outeiro,
vai beber a água fria,
(que corre, escorregadia),
e avista, e grita ao Cordeiro:

"Como sujas est'água?
Como podes os lábios descer,
à água que vou beber?
É assim que queres trégua?

O Cordeirinho, despertado,
de buscar a sede saciada,
responde à cruel emboscada:
De que bebia o rio passado,
onde o Lobo parado,
água já por ele lambida...

"De nada, de nada adianta!",
grita o Lobo enraivecido!
"Inda me contesta, atrevido?
Pois nada mais és que janta!"

E o velho capitalismo,
com o dinheiro que tirou,
de quem por ele trabalhou,
(muitas formas de escravismo),
avisa que não quer mais,
que o povo se liberte em Paz...

E a gente diz: ninguém perdeu!
A água que vocês bebiam,
e nela se banhavam, e vertiam,
e cagavam, poluiam,
continua, como sempre se deu...

Só o que se passou,
foi que a fome das crianças,
e a fatídica dança,
da morte, que as assolou,
não tinha mais tanta força,
na favela, no cortiço, na roça...

Ao que grita o velho "senhor",
de seres escravizados:

"Já viu o tanto que ficou,
inexato, voar, dirigir?
Qualquer preto por aí,
acha que se tornou,
gente, gente, acredita?
Gente tipo a nossa, travestida..."

E o Cordeiro brigou,
com todas as suas pernas
com cada força interna
que em si, identificou,
até que o Lobo, ensandecido,
ouvisse mais que seu latido.

E um novo dia rompeu,
e quem quis, da água bebeu...

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