quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Medo

Assustei-me com o medo que me vi tendo,
Como fosse possível ver o visto de dentro
Como fosse visível o motivo recluso do vento,
Como fosse plausível o que fosse acontecendo,
Quando em minha cama, consciência, Viola,
Tocassem querubins, mandarins,  pardais de Angola...

Em mim o medo tem formas muito destemidas,
Como a sensação de vitória ante não morrer,
Como a vibração da memória ante esquecer,
De sentir medo, de se lembrar da razão da vida,
Que em nossas caminhadas manifestam o indizível,
Do tanto que temos sofrido, neste trilheiro visível...

Aí, eu, Menestrel de Milongas, Charruscas e Cipó-Preto,
O marginal cipó que amarra do alto minhas cordas,
Com que toco meus caminhos, pelos centros e bordas,
Bordões do tema infinito desta cama em que me deito,
Aqui, ainda, sinto medo pelo que não sei se sei,
Mas me entrego sem segredos ao que me deixei...

Porque eu, pardalzinho meio Português, meio Angolano,
Meio Tupi, Tapuia, Carib, Nagô, de Trás-os-Montes,
Me monto num passado que não conheço, inda que apontes,
Mas onde me deixo nas cavalgadas aqui pelos planos,
Que sonho em minhas experiências inconsequentes e medrosas,
Pois que a burra coragem é sempre mais, muito mais perigosa!

Eu caminharei com meus medos,
Por sobre os mais altos rochedos,
Por sob as vagas parecendo penedos,
Por onde houver canção em arremedo!

Alí, nas portas insanas da lucidez,
Me deixarei,
E ao meu medo,
Desta vez, de uma vez,
Pra ser liberto deste atormentante segredo!

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