domingo, 15 de junho de 2014

Todo mar



Cada dia, cada hoje que se encerra,
porque outro se começa, e a vida re-inicia,
e a lida da promessa, desta pressa fugidia,
lambe a travessa, e atravessa se não se emperra...

Porque assim é a certeza, e a pressa,
como a lâmpada que se acende na rua,
como a sólida solidão em que atua,
o lábaro agitado num azul que se espessa...

Que o azul nos expressa como a voz,
como a cadência do asfalto ao longe,
onde o vasto é inexato, em tudo se esconde,

e em cada se pulsa, como o atravessado atroz,
passarinho Albatroz que canta com voar,
em toda praia, todo rio, em meu peito todo mar.

2 comentários:

  1. Eita, que me lembrou um soneto que li ainda no meu ensino médio, de Camões:

    Sete anos de pastor Jacob servia
    Labão, pai de Raquel, serrana bela;
    Mas não servia ao pai, servia a ela,
    E a ela só por prémio pretendia.

    Os dias, na esperança de um só dia,
    Passava, contentando-se com vê-la;
    Porém o pai, usando de cautela,
    Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

    Vendo o triste pastor que com enganos
    Lhe fora assi negada a sua pastora,
    Como se a não tivera merecida;

    Começa de servir outros sete anos,
    Dizendo: – Mais servira, se não fora
    Para tão longo amor tão curta a vida!

    Alguém conhece?

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    1. Fabrício, é um lindo soneto de Luís de Camões. Que bom que bom que este meu soneto te lembrou este outro, tão lindo. Um grande abraço

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