domingo, 7 de dezembro de 2014

Cantessência


Então, mano velho, como não cantar?

Maninha, (cuja figura sempre me alegra,
o próprio cantigar,  de Rumbas etéreas),
onde o coração, que se faz em arrelias,
que enfeitam este, e outros dias,
com que sigo... Como não cantar?

Como não, este fado d'outrora, despejar?

Corre em mim este rio, que do Salvador tem cantado
tantos e tantos fadistas,
amigos, tantas odes e vidas,
tantas dobras no caminho transitado,
tanta lida... Como não cantar?

O frio da madrugada me pergunta: "Como não cantar?"

Olhando pra vida onde as noites sucedem
na dança do Tempo que sem saber dançamos,
dos passos certeiros por onde nós vamos...
O calor do Sol há de vencer o medo dos frios,
pois da mesma forma, em outros desafios,
tudo só fará sentido à partir da gente cantar...

Por isso esse Poema me pede pra lembrar
de sempre pedir,
e sempre, sempre cantar!

sábado, 6 de dezembro de 2014

Velho senhor!


A própria anterioridade
disso que no futuro cantarei,
me faz pensar onde andei,
me surpreende pela atualidade...

O tempo de tudo é.
O passar do ponteiro
me iludiu com o cheiro
do que antes e depois se fizer,

pois, tudo vibra o tempo inteiro!
Nestas bandas da estrada,
o que passou de madrugada,

o que virá no próximo outeiro,
são ilusões de passado e futuro,
aquém sempre do presente puro.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Transitoriedade

Maria Nanin

Eu era uma sólida vista,
uma escondida via por viver,
um inédito e repetido re-ver,
re-destilado, repita, insista!

E nestes retalhos de sentidos,
eu, como fosse um atalho,
sendo a sombra do ato falho,
a encarar o bem maior vivido.

E nas vertigens desta corrida,
velocidades além do tempo,
o espaço se soprando em vento,

e as infinitas possibilidades da vida,
e as infimamente pequenas vaidades,
que me lembram de minha transitoriedade.



quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Beijo


Ouço a Poesia que se estende
pelas matas e campos e vales,
e sombras, e eternidades fugazes,
canteiros e sobras, onde exista gente...

Escuto um canto que vem de longe.
Odes e odes que já foram cantadas
em noites de alegria, outras cansadas,
outras perdidas na dor que se esconde,

na tristeza sem par da guerra, na alforria,
no caminho que conduz ao alto,
no espinho que reduz o ímpeto,

e vejo a Deusa, que se veste de alegria,
me acenando, meu coração em sobressaltos,
quando sinto o ímpeto do beijo da Poesia.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Do Carinho


E eu era só, então,
uma nave solta, um pedaço,
uma linha perdida no vasto,
um pendido da flor pendão...

E nas cabeceiros de rios,
de camas, de rumos e estradas,
nada passava mais então nada,
que a ventura do que chegará no frio,

pois que a isto se seguirá o calor,
(da batalha em que perdemos vidas)
de cada, das fadas, dos cansaços da lida,

dos exageros que em tudo é (des)valor,
ou valor sem esmeros, baciada, desalinho,
e no meio de tudo, dança resoluto, o carinho.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Canto


Neste canto tão lindo
do mundo, vasto e perto,
os bem-te-vis vadiando de certo,
de longe, de onde o vento vindo...

E feito vento,
desmedido, sólido,
plantado no etéreo lógico,
semente cantando...


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Toda alegria


A Água é mineral,
em outras densidades.
O vazio entre a terra,
e o espaço sideral,
se tratado com verdade,
nem existe, nem emperra,
a vida de ganhar todas as asas,
e nos levar asas e águas de volta à casa...

O vento conta caminhos
que viajam dentro,
e alardeiam fora...
A Baleia cuida de filhotinhos
mesmo seus não sendo,
mesmo os que outra qualquer ignora...
Vejo então um espirito fino que está,
mãe Baleia cruzando o mundo amor vertendo.

O espanto que sinto,
o perfume intrigante no dia,
e a cantiga que a Arara grita,
e se verte em chuva do infinito,
em trilhos de alforria,
e, entre as árvores levita,
e aponta meu olho que fita
e (des)mostra o óbvio, e re-escreve toda a alegria.